Inácio Arruda afirma que o PCdoB buscará crescer mais em 2014

Diante de um cenário indefinido na conjuntura política de 2014, o senador Inácio Arruda garante que o PCdoB do Ceará só trabalha com a possibilidade de tentar reelegê-lo e manter as duas vagas de deputado federal na bancada cearense. Entretanto, ele reconhece que, se o PT resolver lançar uma candidatura de senador com o apoio do PSB, a situação ficaria "difícil" porque, no próximo ano, o Estado só elegerá uma cadeira no Senado.

Inácio Arruda, em 2006, chegou a impor sua candidatura ao Senado, pela coligação com o PT, PSB e PMDB. O senador Eunício Oliveira era o nome anteriormente apontado por integrantes da aliança, desistindo da disputa na véspera da convenção que homologariam as candidaturas em razão da imposição do PCdoB.

De acordo com Inácio Arruda, em nível nacional, o partido quer ampliar a representação no Congresso Nacional, acrescentando que abrir mão da candidatura dele de senador para tentar uma vaga na Câmara Federal seria "retroagir", contrariando o projeto do nacional do seu partido. "Se pensar assim, já diminui os nossos espaços de composição. Se admite que vai sair do Senado, já perdeu a posição. O partido que está querendo crescer no plano nacional já fica diminuído". E completa: "nós não temos outro plano".

Câmara

Em relação à possibilidade de o deputado Chico Lopes disputar um cargo na Assembleia Legislativa, abrindo uma possível vaga na Câmara dos Deputados para Inácio Arruda, o senador rechaça essa hipótese. "Não tem como você tirar parlamentares como o João Ananias, Chico Lopes, muito queridos e que seriam reeleitos com tranquilidade", avalia. Atualmente, o PCdoB tem dois senadores e 15 deputados federais no país.

Apesar de reconhecer que já está dialogando com alguns partidos aliados, como PT, PMDB e PSB, o senador cearense minimiza o tema, destacando que existem outras prioridades no Congresso e que a pauta não pode estar restrita ao cenário eleitoral. Apesar das ponderações, ele diz acreditar que cabe cautela dos partidos com quem o PCdoB historicamente faz alianças. "O problema é que, sempre que você tem um projeto modesto, ainda enfrenta os aliados, que são os que mais deveriam compreender a importância", aponta.

Sussurros

Questionado se as queixas traduziam a situação do PCdoB no Ceará, Inácio evita críticas diretas. "Não sei, porque ainda não foi posto para nós, mas sempre tem sussurros, aqui e acolá. Acho que o mais importante é estar dialogando, discutindo", declara, reconhecendo o leque de alternativas para o próximo ano. "Hoje você tem a possibilidade de ter uma candidatura do PMDB, que é nosso aliado em muitos estados, do PSB ou até do PT. Para o Governo e para o Senado. E é com esse bloco que estamos coligados", analisa.

O parlamentar faz questão de ressaltar que, até o momento, a única deliberação do seu partido em relação ao pleito de 2014 é o apoio à candidatura de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), mesmo que isso traga algum mal estar na relação com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do qual o PCdoB também é aliado em alguns estados. "A não ser que ocorra um terremoto muito forte que mude essa posição", sentencia o senador.

No ano passado, Inácio Arruda candidatou-se a prefeito de Fortaleza, mas teve votação considerada inexpressiva, com 1,82% dos votos. O PCdoB rompeu com a aliança nascida nas eleições de 2006, depois de muitas investidas para que ele fosse o candidato do bloco. A saída dele da aliança aconteceu pouco antes do rompimento, municipal, de PSB com PT.

A despeito do resultado das urnas, naquele pleito, tanto para Inácio quanto para os candidatos à Câmara Municipal, com a eleição de apenas um vereador, o parlamentar diz que o partido tem que "olhar adiante" e tentar reconquistar espaço na correlação de alianças políticas. "As forças que caminhavam com nós estavam em outras coligações, por isso ficamos como numa posição isolada, mas de uma maneira consciente", explica.

Para o senador, à época, o momento político para o PCdoB tornava inviável a aliança tanto com o projeto apresentado pelo PT quanto com o PSB do prefeito Roberto Cláudio. "Nós consideramos que precisávamos sair com nossa candidatura, independente das alianças. A gente tinha decidido não apoiar uma candidatura do PT, porque tínhamos sido do Governo. Do outro lado, o PSB, não ficava bem para nós sair de um lado e correr imediatamente para o outro", considera.

Proximidade

Ainda sobre possíveis contradições no partido no cenário local, Inácio Arruda diz acreditar que, apesar de estarem em posições contrárias nas eleições de 2012 em Fortaleza, PT e PSB integram "um bloco político que atua com proximidade no plano nacional e em certos estados", no qual o PCdoB estaria incluso, segundo o senador. O atual líder do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, na Câmara Municipal, vereador Evaldo Lima, era secretário de Esporte na gestão da ex-prefeita Luizianne Lins e foi o único vereador eleito pelo partido.

Para Inácio Arruda, o vereador Evaldo Lima tem agido com coerência como liderança do prefeito, defendendo que "esse campo de manobra política não tem muita dificuldade em participar de um governo e depois do outro", pela proximidade ideológica das siglas. Ele ainda aposta na possibilidade de PT e PSB retomarem a aliança no município de Fortaleza. "Provavelmente no futuro, se tudo der certo, teremos uma coligação que envolva esses partidos", argumenta.

Partido histórico, mas de estrutura compacta, o PCdoB também enfrenta dificuldades no âmbito nacional. Uma das ameaças à sigla hoje é a possibilidade de a Reforma Política contemplar o fim das coligações para cargos de vereadores e deputados. Com isso, as legendas menores seriam prejudicadas, já que muitas delas só chegam ao parlamento através de alianças.

Financiamento

Para o senador Inácio Arruda, a questão central a ser discutida na reforma política é o financiamento de campanha, defendendo que, se fossem excluídas as doações das empresas, o cenário seria mais igualitário. "O financiamento das empresas tem um caráter corruptor na eleição", afirma. Ele justifica que o impacto do fim das coligações nos cargos proporcionais seria amenizado com um financiamento mais democrático de campanha.

"Se você não tem financiamento público e ainda retira as coligações, é um massacre para os partidos que têm uma proposta mais programática", critica. Inácio Arruda atribui às grandes legendas a dificuldade por um consenso em relação à aprovação de uma reforma política ampla. "Não são os setores minoritários que criam dificuldades para governar. As dificuldades de governar sempre estão entre os que têm muita força, e não o contrário", pontua.

Fonte: Diário do Nordeste