Com controvérsias, Palestina e Israel poderão negociar nos EUA
O secretário de Estado norte-americano John Kerry terminou nesta sexta-feira (19) sua viagem a Israel e Palestina com a apresentação de um plano de negociações que não contemplava satisfatoriamente reivindicações palestinas. Já neste sábado (20), um acordo sobre o encontro entre representantes das equipes negociadoras palestina e israelense nos EUA, na próxima semana, foi anunciado por Kerry com otimismo, apesar da oposição do grupo palestino de grande influência política, o Hamas.
Publicado 20/07/2013 16:13
Antes de deixar a região à qual fez seis viagens desde março, declarando um “esforço” para a retomada das negociações entre Israel e a Autoridade Palestina (congeladas desde 2010), Kerry anunciou que alcançou “um acordo que estabelece as bases para a retomada de negociações diretas e definitivas entre os palestinos e os israelenses”.
Apesar disso, o partido de resistência islâmica que governa a Faixa de Gaza, Hamas, já anunciou discordar da retomada das negociações, que classificou de um “desastre” e um "disfarce" para a agenda de “judaização” de Israel, a construção de colônias judias em terras palestinas e o deslocamento de palestinos, aspectos que têm sido verificados constantemente, mesmo em tempos de “processo de paz” e negociações, e que demonstram uma falta de compromisso de Israel para com a solução do conflito.
Assim mesmo, Kerry expressou “esperança” de que “se tudo correr como o esperado”, o chefe da equipe negociadora da Autoridade Palestina, Saeb Erekat, e os israelenses representados pela ministra da Justiça, Tzipi Livni, e Yitzhak Molcho, viajarão para Washington “para começar conversações iniciais” na próxima semana.
Descrevendo o acordo como um “passo à frente significativo e bem-vindo”, Kerry, entretanto, reconheceu que o acordo “ainda está em processo de formalização”, ressaltando que “nós simplesmente não falaremos de qualquer elemento [do acordo] agora”, o que explica a ausência de detalhes mais elaborados na mídia internacional sobre as bases acordadas para o compromisso de uma reunião nos EUA.
“Eu acho que todos nós sabemos o que conversações sensíveis e privadas são a melhor forma de preservar o tempo e o espaço para o progresso e o entendimento quando enfrentamos questões difíceis e complicadas, como a paz no Oriente Médio”, disse Kerry.
O norte-americano disse que “os desafios requerem algumas escolhas bastante duras nos próximos dias”, embora historicamente, as escolhas difíceis e a ausência de uma solução tenham prejudicado os palestinos de forma muito mais intensa que aos israelenses, a começar pela própria existência de um Estado consolidado e garantido, por um lado, e a de uma ocupação militar de facto sobre um povo e um território, de outro.
Ainda assim, Kerry disse estar “esperançoso” porque o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, “escolheram fazer escolhas difíceis aqui, e ambos são fundamentais para continuarmos impulsionando nesta direção”.
Kerry disse terem sido importantes durante as conversações a intervenção e acolhimento do rei Abdullah da Jordânia, e do comitê de monitoramento da Liga Árabe, assim como “muitos outros líderes em todo o mundo”.
A União Europeia, membro do Quarteto para a Paz no Oriente Médio (junto com os EUA, a Rússia e a ONU), considerado ultrapassado por muitos analistas que acompanham o chamado “processo de paz”, também afirmou estar otimista com os “esforços” de Kerry para a retomada das negociações.
Ficará sob análise a integração de um ator tão importante quanto o Hamas nas negociações (principalmente em meio às negociações para a integração do partido islâmico no governo nacional de unidade) e a composição do plano de paz a ser implementado, assim como a reação da população palestina (cética e frustrada repetidamente por "negociações" infrutíferas) e a do próprio governo israelense, que não conta com um consenso interno sobre a posição israelense nas negociações (principalmente porque sua composição é caracterizada como a mais "pró-colonos" dos últimos anos).
Especial atenção será dada à existência de pontos essenciais aos palestinos (ainda que historicamente relegados, o que mantém por tanto tempo um “status quo” considerado interessante a Israel), como o retorno dos refugiados, a liberação de prisioneiros (que Israel concordou em realizar “gradualmente” e em "número limitado"), o congelamento da construção de colônias judias em territórios palestinos e, finalmente, o estabelecimento de um Estado da Palestina independente, além de temas não menos importantes como a situação de Jerusalém, reivindicada como a capital pelos dois lados.
Com agências,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho