Ameaças a jurados impedem julgamento do assassinato de sem terra
Foi adiado mais uma vez o julgamento dos acusados de assassinar o Sem Terra Luciano Alves, o Grilo, executado em 2003 na zona rural de Craíbas (AL). No Fórum Estadual de Justiça de Arapiraca, o juiz Alfredo Mesquita recebeu, na manhã dessa quarta-feira (17), o pedido feito pelo Ministério Público para o desaforamento do caso, dada a falta de condições de os jurados emitirem seu veredicto.
Publicado 18/07/2013 10:39
Na sala do júri, doze dos 24 jurados convidados relataram que receberam “visitas” em suas próprias casas, nas quais foram ameaçados e incitados a não condenarem o réu “Zé Catu” (José Francisco da Silva). Zé Catu, vereador pelo PSDB de Girau do Ponciano, é acusado de ser o mandante do crime que tirou a vida de Grilo. São réus como executores o irmão de Zé Catu, Francisco da Silva, Josinaldo dos Santos (falecido durante o processo) e João Olegário.
No início da manhã desta quarta-feira, mais de trezentos manifestantes ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a entidades estudantis se concentraram na frente do Fórum para cobrar da Justiça uma posição enérgica na condenação dos réus. Com o pedido do Ministério Público no início da sessão, o caso será desaforado, cabendo a instâncias superiores seu julgamento.
“Tendo havido visitas de pessoas inescrupulosas a doze jurados, que se sentiram constrangidos em decidir sobre o caso com imparcialidade, pedimos a suspensão e desaforamento do processo”, nas palavras do promotor José de Oliveira Neto. A expectativa era que ainda nessa quarta-feira o pedido fosse enviado ao Tribunal de Justiça (TJ-AL) e, no prazo de até uma semana, seja de conhecimento público a decisão de qual instância se responsabilizará pelo caso a partir de agora.
Para o juiz Alfredo Mesquita, “é inadmissível que numa sociedade que vai às ruas por moralidade, haja pessoas que vão ameaçar e nos forçar a absorver o acusado”. As mobilizações em torno do julgamento de assassinos de líderes sem terra devem continuar, segundo José Roberto Silva, da Direção Nacional do MST. Para ele, “apesar da demora em chegar a um veredicto, foi uma vitória importante o desaforamento, pois dará mais lisura ao processo. Nós continuaremos em nosso papel de cobrança”, disse.
Grilo foi abatido numa emboscada na zona rural de Craíbas, quando se deslocava de uma reunião do movimento de volta para sua casa em Girau do Ponciano, no início da noite do dia 7 de setembro de 2003. Além deste caso, aguardam a justiça também os casos de assassinatos de José Elenilson (2001), Jaelson Melquíades (2005) e Chico do Sindicato (1995), todos em Atalaia.
Fonte: Brasil de Fato