Um brasileiro que honrou a espécie

*Por Aldo Rebelo

José Bonifácio

 
A atenção dada à Copa das Confederações provocou o adiamento nesta coluna de inescapável celebração dos 250 anos de nascimento, a 13 de junho, de um dos maiores brasileiros, o “Patriarca da Independência” José Bonifácio de Andrada e Silva. Inteligência poderosa, esse paulista de Santos, filho de clã abastado que dignificou as elites do Brasil, foi, sobretudo, um dos grandes estadistas do séculos 18 e 19.

De estudante em Portugal tornou-se figura de proa do Império português, em vários campos: foi secretário perpétuo da Academia de Ciências de Lisboa e enviado pela Coroa para reunir o conhecimento do mundo, condição em que presenciou o estouro da Revolução Francesa. Homem de ação, trocou a pena pela espada quando as tropas de Napoleão invadiram Portugal em 1808. Voltou para o Brasil em 1819, com uma bagagem perigosa: a biblioteca de seis mil volumes e a determinação de fundar um novo país nos trópicos.

Ministro do Reino e Negócios Estrangeiros de dom Pedro I, cuidou de modelar o príncipe rude e impetuoso para ser imperador, mas seu projeto de construir um país soberano colidiu com os interesses divergentes que queriam a emancipação como uma ruptura superficial. Desentendendo-se com o jovem imperador, terminou exilado na França e quando retornou, em 1829, a conjuntura política já não acolhia suas ideias.

Bonifácio foi pioneiro em programas para a abolição dos escravos, a integração dos índios, a preservação do meio ambiente, a reforma agrária, além de idealizar um sistema educacional integrado das vilas às capitais e a “fundação de uma cidade central no interior do Brasil”, ou seja, Brasília. Vislumbrou o Mercosul propondo uma “federação sul-americana”. Para resumir sua grandeza, basta citar o elogio raro que lhe fez o nosso maior escritor, Machado de Assis, o “Bruxo do Cosme Velho”: “José Bonifácio honrou a espécie humana”.

*É Ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB-SP

Fonte: Diário de S. Paulo.