Chipre: AKEL defende a saída do Euro

Há vários meses decorre um debate acerca da ruptura com o Euro e a União Europeia entre organizações comunistas europeias. No Partido Comunista Cipriota (AKEL), a questão da saída do Euro está agora resolvida.

A política de ruptura social e de agressão imperialista, orquestrada pela União Europeia e o FMI, afetou brutalmente a ilha de Chipre: tributação inédita dos depósitos bancários, dissimulando a amplitude de uma ofensiva sobre os salários, as pensões e o setor público.

As ilusões sobre o Euro e sobre a União Europeia voam agora em estilhaços. Doravante, 89% dos cipriotas já não acreditam na União Europeia e 67% dos habitantes da ilha manifestam-se partidários de uma saída do Euro.

O AKEL teve também de fazer a sua auto-crítica e retornar aos fundamentos das suas análises. O AKEL é um partido de massa, o primeiro partido de esquerda do país. Com 32,7% dos votos nas últimas eleições legislativas, é o segundo partido no parlamento de Chipre.

Embora crítico em relação à natureza da União Europeia, o partido entretanto havia apoiado com reservas a entrada do país na UE em 2004 e depois no Euro em 2008. Nisso influenciou a promessa de resolução da espinhosa questão cipriota.

Em 2008 Demetris Christofias, presidente do AKEL, foi eleito Presidente da República. Ele teve de sofrer o assalto da União Europeia, que utilizava cinicamente o instrumento da moeda única. Uma ofensiva à qual ele resistiu, procurando alternativas ao choque com a UE.

Acuado, em 2012 o presidente teve de iniciar negociações com a Troika, sem chegar a um acordo. O Partido Comunista recusou-se a por em execução planos de austeridade salarial ou de privatizações.

A eleição em 2013 de um presidente de direita, Nikos Anastasiades, relançou o plano de austeridade imposto pela UE. Desde então, o movimento popular de rejeição de uma UE ao serviço dos bancos atingiu níveis inéditos.

Auto-crítica das posições conciliatórias anteriores

Da parte dos comunistas cipriotas, foi iniciada uma severa auto-crítica quanto às posições conciliatórias sobre a questão europeia.

Os debates internos na organização quase não transpiraram, mas desde Março o Comitê Central do Partido iniciou os debates sobre a saída do Euro.

Vários artigos do responsável do AKEL pelas questões internacionais, Costas Chritodoulides, precisam a mudança de direcção do Partido sobre a questão europeia.

No artigo de 8 de março publicado no jornal Haravaghi, aquele responsável recordou que a contradição entre o processo de integração europeia e os interesses dos trabalhadores cipriotas era cada vez mais patente.

Posteriormente a posição do AKEL evoluiu do pedido de um referendo sobre a questão do Euro a fim de que o povo cipriota possa decidir acerca da permanência ou saída do mesmo para a proposta concreta de saída do Euro. Esta nova posição, mais explícita, reflectiu-se na conferência de imprensa de 14 de maio do secretário-geral Andros Kyprianou, na qual apresentou as "propostas do AKEL para a economia cipriota".

Depois de analisar as consequências desastrosas do memorando de março e os efeitos nefastos das baixas de salários, da ruptura dos sistema de segurança social e ainda da privatização de setores-chave, o AKEL coloca como ponto de partida a busca de "uma alternativa que nos libertasse do memorando".

Com base num estudo realizado pelo AKEL, com a ajuda de economistas estrangeiros, doravante o AKEL defende "negociações com a União Europeia a fim de iniciar uma saída ordenada de Chipre do Euro, no respeito do direito internacional".

O secretário-geral do AKEL, recordando que não há nenhuma "solução fácil", recorda entretanto as vantagens que Chipre poderia ter com o retorno a uma moeda nacional:

"Reforço da competitividade pela desvalorização da moeda, recuperação da independência nacional pela fixação da nossa própria política económica, capacidade de gerir a dívida pública, desenvolvimento da economia cipriota".

Segundo o AKEL, a questão principal agora é a das condições da ruptura. O partido propõe um "plano de transição" que integraria os desafios da saída em termos de política monetária e de mudança.

Fonte: Resistir