'Graciliano Ramos', Milton Hatoum e Gilberto Gil na abertura da Flip
A abertura da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) foi marcada com a reedição da biografia de Graciliano Ramos e com a distribuição de autógrafos do autor amazonense Milton Hatoum que conduziu a conferência de abertura. O cantor Gilberto Gil também participou do dia de abertura da festa e encerrou com um show intimista.
Publicado 04/07/2013 11:06

Nesta época, a pequena cidade fluminense Paraty rebate toda e qualquer crítica relacionada aos hábitos literários dos brasileiros. Pelas ruas do centro histórico, circulam primordialmente ávidos leitores. Bem mais assíduos que aqueles que engrossam a estatística de que lemos apenas dois livros por ano.
Mesmo ligada ao contexto e ao momento político de um Brasil pós-Revolução de 1930, a obra de Graciliano Ramos ainda é lúcida e atual em um momento no qual o país sai às ruas em busca de transformações nas esferas política, social e econômica.
O escritor alagoano, que teria completado 120 anos em outubro passado, é o homenageado na edição da Festa Literária de Paraty (Flip), que ocorre até domingo, na cidade litorânea do Rio de Janeiro.
Membro do Partido Comunista do Brasil (PCB) e crítico social implacável, é conhecido pela concisão dos textos marcados por uma linguagem descarnada, austera e concreta. Mas por trás de pseudônimos, de textos engajados e da literatura traçada por uma realidade crua e áspera, havia um homem comum que gostava de doce da laranja, recitava Manuel Bandeira, usava ternos escuros e preferia escrever pela manhã, de pijama.
São esses os registros que o escritor Ricardo Ramos Filho têm do avô Graciliano Ramos. Relatos de família que apresentam um homem simples, um avô que seria mais ou menos como a maioria dos avós, se Ricardo o tivesse conhecido. Mas Ricardo Filho explica que talvez seja mais fácil compreender o Graciliano indivíduo por meio da literatura, que transmitia muito da atmosfera, do ambiente e do momento social em que vivia. “Para entrar em sua dimensão humana, costumo evitar relatos familiares, muitas vezes apaixonados e comprometidos. Busco o homem em sua obra.
Quando lemos o livro Cartas conseguimos vislumbrar, por exemplo, o indivíduo. Pessoa séria, com um viés de humor ácido bastante interessante, comprometido ao extremo com a qualidade de seus textos".
O show de Gil
Há 10 anos, o tropicalista Gilberto Gil recebeu a incumbência de abrir a primeira edição da Flip. Encantou com seus vocalizes, sussurros e gritinhos de MPB. Ele voltou (para realizar a mesma tarefa). Mas, encantou bem menos. Preferindo uma versão minimalista (“íntima”, segundo ele), Gil subiu ao palco sem maiores euforias e apresentou os próprios clássicos (Grão, Domingo no parque e por aí vai) e os dos outros (com destaque para Imagine, de John Lennon).
Parte do público que rodeava a Tenda do Telão, onde a apresentação aconteceu, não aprovou o desempenho pouco inspirado. “Aumenta o som”, “Toca Caetano”, “Vem pra rua, Gil”, eram alguns dos pedidos feitos por quem não conseguiu ficar de frente para o compositor. Nem o acesso ao show correu bem. As cadeiras diante do palco eram de uso exclusivo de convidados e daqueles que adquiram ingressos. Algumas pessoas, no entanto, não conseguiram entrar e protestaram. “Paguei pelos ingressos! Venderam muito mais do que cabia. Agora, barraram nossa entrada”, reclamou a bancária Luíza Silva, ao lado do marido. Pequenos tumultos se formaram nas entradas. O público reagiu.
Gil chegou a parar a apresentação para se informar dos acontecimentos. Ouviu atentamente. Aumentou o som. Abriu um sorriso. E resgatou o ânimo. Os pagantes acabaram entrando e a noite terminou bem. Sem maiores alardes. Quem assistiu pelos telões, ao longe, garante que se divertiu mais.
Cancelamentos
A expectativa acerca da Flip, claramente o mais badalado festival literário do país, não mudou depois do cancelamento da visita do francês Michel Houellebecq ou do norueguês Karl Ove Knausgård. A ausência dos escritores facilitou a inclusão de última hora de mesas de debate sobre os protestos no Brasil.
Números
15 mil – Número de pessoas que chegaram a Paraty na quarta-feira (3)
54 – Atrações oficiais da feira
Com informações do Correio Braziliense