Frei Betto: renda não basta, é preciso 'encher as cabeças das pessoas'
O assessor de movimentos sociais e escritor Frei Betto afirmou que o narcotráfico e o uso de drogas pela população jovem que não tem acesso a serviços básicos de educação e cultura são fruto de uma “política equivocada do governo em relação aos direitos sociais.”
Publicado 02/07/2013 10:31
“Não basta assegurar renda e encher os bolsos, mas sobretudo encher as cabeças das pessoas, com acesso a cultura, à arte, de modo que haja protagonismo empreendedor”, disse à Rádio Brasil Atual.
O combate à fome, de acordo com ele, também não pode ser encarado como política pontual, mas parte de um todo mais amplo de políticas sociais. “A fome não se combate apenas com prato de comida, pois abre-se o oco na barriga, o buraco negro da cidadania. É preciso evitar que haja pessoas desprovidas dos bens essenciais da vida. Para que o direito à cidadania não fique restrito aos discursos políticos, o combate a fome exige, no mínimo, reforma agrária, distribuição de renda, e escolarização compulsória das crianças.”
Segundo ele, se a maioria da população brasileira tivesse acesso à terra, a melhores salários e a educação de qualidade, problemas graves estariam resolvidos. “Se a juventude tivesse acesso ao lazer, ao esporte a atividades culturais, não teríamos mortos-vivos destruídos pelo crack e outras drogas.”
A juventude atual, de acordo com Frei Betto, encontra dificuldades para encontrar-se em espaços que incentivem a formação cultural e subjetiva de suas personalidades, e isso é fruto da opressão de ideias do período da ditadura (1964-85), ressalta ele. “A violência do narcotráfico não é causa, é fruto de uma violência maior de uma elite que manteve este país amordaçado ao longo de 21 anos de ditadura, ceifando ideais e utopia. Esses filhos e netos nascidos durante e após o regime não tiveram a educação para a cidadania dos grêmios escolares e dos movimentos estudantis, cineclube, da academia literária.”
Essa juventude, ainda de acordo com Frei Betto, é prejudicada pelo tipo de programação televisiva hegemônico no país. “Os jovens são embotados pelo entretenimento consumista, a publicidade hedonista, encharcados de sites e programas que nada adicionam à formação de subjetividade e ao aprimoramento de cultura. Na falta de quem indique, buscam o caminho do absurdo, sustentado por narcotráfico”, comentou.
Fonte: Rede Brasil Atual