Egito: Tensões aumentam entre manifestantes contra e pró-governo

O presidente egípcio Mohammed Mursi advertiu nesta quarta-feira (26) que as divisões políticas no Egito “ameaçam paralisar” o país, enquanto ao menos uma pessoa morreu e várias ficaram feridas nos confrontos entre seus opositores e apoiadores. Em um discurso televisionado para marcar o seu primeiro e turbulento ano no poder, Mursi disse: “O Egito enfrenta muitos desafios. A polarização alcançou uma fase que pode ameaçar a nossa experiência democrática e paralisar a nação”.

Egito - AFP / STR

Apenas algumas horas antes do discurso, islamistas estiveram se manifestando em seu apoio na cidade de Mansura, no Delta do Nilo, a 120 quilômetros da capital Cairo, quando seus oponentes começaram a jogar lixo nos que protestavam, e então os confrontos começaram, de acordo com um oficial da segurança.

Além da morte de uma pessoa, 237 ficaram feridas, informou o Ministério da Saúde. Dois dos feridos foram levados para a unidade de tratamento intensivo de Hospital Internacional de Mansura com ferimentos de bala, de acordo com os médicos.

Os confrontos acontecem em meio à tensão disseminada, às vésperas das manifestações antigovernamentais programadas para domingo (30), em que a oposição, mais uma vez, exigirá que Mursi deixe o poder e que eleições antecipadas sejam convocadas.

Os organizadores de uma campanha chamada “Tamarod” (rebelião, em árabe) dizem que coletaram mais de 15 milhões de assinaturas em apoio a uma eleição presidencial instantânea.

E com os partidos islamistas convocando seus próprios aliados para apoiar o presidente nesta sexta-feira (27), e há temores de mais violência.

Protestos a favor e contra o presidente foram realizados em todo o país na quarta, mas os embates violentos só eclodiram em Mansura, de acordo com um oficial da segurança.

Alguns manifestantes anti-Mursi anunciaram que farão um protesto sentado na Praça Tahrir, o epicentro da revolta de 2011, que derrubou o ex-presidente Hosni Mubarak.

Mursi prometeu reformas e propôs diálogo numa tentativa de aplacar os manifestantes antes das manifestações de domingo. Ele insistiu que está trabalhando pelos objetivos da revolução que derrubou Mubarak, que ele acusou de falhar.

“Para a revolução alcançar os seus objetivos, é preciso haver reformas na raiz”, afirmou. Mursi repetiu seu pedido por diálogo com a oposição, entre a profunda tensão e a ansiedade às vésperas dos protestos de domingo para exigir a sua demissão.

“Nós egípcios somos capazes de ultrapassar essa faze e os desafios […] Tudo o que peço de vocês agora é sentar e discutir […] para buscar o positivo e construir em cima dele; e para consertar o negativo”, disse o presidente, que admitiu ter cometido erros e prometeu corrigi-los.

“Fiz vários erros, não há dúvida sobre isso. Erros acontecem, mas eles precisam ser corrigidos”, disse, em um auditório lotado.

Os apoiadores de Mursi dizem que ele é um presidente eleito que está trabalhando para cortar pela raiz décadas de corrupção em instituições estatais. Qualquer tentativa de removê-lo do cargo seria um golpe contra a democracia, de acordo com eles.

Seus oponentes acusam-no de concentrar o poder nas mãos da Irmandade Muçulmana, à qual ele pertence, e de falhar com relação às aspirações por liberdade e justiça social que inspirou a revolução contra Mubarak.

O poderoso exército do Egito, que tem estado às margens da política desde a eleição de Mursi, advertiu que intervirá se a violência aumentar no país.

Fonte: Al-Akhbar
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho