Semifinais da Copa das Confederações terão ato contra o racismo

Antes dos jogos entre Brasil e Uruguai, nesta quarta-feira (26), no Mineirão, em Belo Horizonte, e entre Espanha e Itália, na quinta-feira (27), no Castelão, em Fortaleza, os capitães de cada equipe lerão mensagens contra a discriminação.

Anthony Baffoe, ex-jogador de Gana

As partidas das semifinais da Copa das Confederações da FIFA Brasil 2013 servirão como plataforma para a luta contra o racismo. Antes dos jogos das semifinais entre Brasil e Uruguai, nesta quarta-feira (26), no Mineirão, em Belo Horizonte, e entre Espanha e Itália, na quinta-feira (27), no Castelão, em Fortaleza, os capitães de cada equipe lerão mensagens contra a discriminação. A cerimônia especial antes dos duelos integra a ação da FIFA chamada de “Dias Antidiscriminação”, que ocorre todo ano, em uma das competições da entidade.

Na Copa do Mundo, os “Dias Antidiscriminação” serão lembrados durante as quartas-de-final do torneio, que serão disputadas nos dias 4 e 5 de julho de 2014. Antes dos jogos, um vídeo será exibido nos telões das arenas, com mensagens contra o racismo. Nascido na Alemanha, mas filho de ganês, o ex-jogador Anthony Baffoe sabe da importância da ação. “Usamos o futebol como ferramenta para passar a mensagem. Se estamos aqui tendo essa entrevista, significa que isso ainda é um problema. Mas chegará o dia em que não teremos mais esse tópico e aí, sim, estaremos bem”.

Coordenador da FIFA e responsável pelo Maracanã durante a Copa das Confederações, Baffoe relatou alguns casos de racismo que sofreu durante a carreira de jogador em times da Alemanha e da França. Quando jogava no francês Metz, no início da década de 1990, Baffoe interrompeu uma partida para solicitar que os torcedores do próprio clube parassem de praticar atos racistas contra um atleta adversário. “Jogamos contra o Lyon e quando começou a partida os torcedores faziam barulho de macaco. Chutei a bola para fora, o estádio ficou em silêncio, o técnico me perguntou o que havia acontecido e eu disse: por favor, diga ao locutor para que peça aos torcedores para pararem com isso, porque está me incomodando também”, lembrou.

Outro caso relatado por Baffoe ocorreu quando ele atuava pelo Fortuna Colônia, da Alemanha. O ato de racismo partiu de um companheiro de clube. “Eu reagi, eu dei um tapa nele no vestiário. Depois o técnico me chamou e disse: ‘você, filho de diplomata, não devia fazer isso. Eu disse que faria de novo e disse que não iria deixar ninguém fazer isso comigo. Mas, depois o jogador me pediu desculpas. Não quero dizer que reagir com violência seja bom, mas infelizmente foi uma reação espontânea. Por isso, acho bom que os jovens atuem contra o racismo, mas sem violência”.

Mudança

Para Baffoe, a Alemanha mudou e a Copa do Mundo de 2006, cuja mensagem principal do país era “tempo de fazer amigos” ajudou o mundo a perceber as diferenças. “O país mudou o sistema de integração das minorias. Se você olhar a seleção alemã, parece a ONU. Tem o Cacau, que é brasileiro; o Özil, que é turco, e o Boateng, que é ganês”.

Ele espera que a oportunidade de sediar uma Copa do Mundo também sirva para a Rússia ter ações contra o racismo. Alguns casos recentes de preconceito foram registrados no país, como os que ocorreram contra os jogadores brasileiros Roberto Carlos e Hulk. “Eu acredito que a Rússia vai aproveitar a oportunidade da Copa de 2018 para criar uma conscientização e fazer campanhas. Dei o exemplo de 2006 na Alemanha, quando muitos ganeses perguntaram sobre o racismo no país, mas meus amigos mudaram a percepção deles após o Mundial. A atmosfera de todos vendo os jogos juntos era fantástica”.

Sanções

Presidente do sindicato dos jogadores de Gana, Baffoe revela que, antes de se transferirem para algum clube no exterior, alguns atletas solicitam informações sobre questões raciais do país que estão indo jogar. “Nós orientamos, mas a decisão final é do próprio atleta”.

Baffoe também comemorou as sanções aprovadas no último congresso da FIFA, realizado em maio nas Ilhas Maurício, que prevê suspensão de atletas que cometerem atos discriminatórios.“Fico feliz em ver que há regras claras e definidas da FIFA. Sempre que combatemos o racismo com firmeza fico satisfeito, assim como quando as sanções aplicadas. Eu diria o mesmo em relação ao Brasil”, afirmou em referência às leis do país, que classificam o racismo como crime passível de prisão. Baffoe ainda ressaltou a diversidade brasileira. “Eu me sinto em casa no Rio de Janeiro, em Salvador, pela diversidade. Certamente Salvador é a mais afrocêntrica do país”.

Fonte: Portal da Copa – Ministério do Esporte