Brasil se compromete com abastecimento de alimentos na Venezuela

Em visita a Caracas, o ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, afirmou nesta quinta-feira (20) que pretende intensificar a agenda bilateral com o governo de Maduro, com reuniões frequentes, visando uma maior integração produtiva entre a região Norte do Brasil e o Sul da Venezuela.

Por Luciana Taddeo, no Opera Mundi

Os países assinaram um acordo para a criação de um grupo de trabalho para monitorar o andamento dos projetos econômicos entre os países.

“Já listamos 60 [iniciativas] em andamento, desde o apoio para a construção de fábricas, projetos agrícolas, construção de siderúrgica, do estaleiro, de estradas, do metrô de Caracas. São tantas coisas, que se isso fica disperso, gera um prejuízo grande na agilidade dos processos”, disse Pimentel ao Opera Mundi. Segundo ele, os pontos focais do monitoramento ainda serão definidos pelas presidências brasileira e venezuelana.

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Em reunião com os ministros da Indústria da Venezuela, Ricardo Menéndez, o de Comércio, Alejandro Fleming, e o de Alimentação, Félix Osorio, Pimentel também se comprometeu com o abastecimento interno do parceiro comercial, que nos meses de abril e maio registrou altos índices de escassez de itens básicos nos supermercados. “Tivemos reuniões importantes para tratar da garantia de fornecimento de produtos básicos, de alimentação e produtos e higiene pessoal, que é uma demanda emergencial da Venezuela”, disse.

Para Menéndez, a agenda bilateral ratifica que o Brasil tem sido um “aliado permanente” para a segurança alimentar de seu país e um “suporte” frente “qualquer ação que tentem fazer” contra o povo venezuelano. “O Brasil sempre estará [presente] para garantir aspectos vinculados a alimentos, a higiene pessoal e isso é um assunto que evidentemente nos garante irmandade ante qualquer conjuntura”, afirmou, complementando que o apoio do governo brasileiro é de “importância estratégica” para a Venezuela.

Integração produtiva

Após as reuniões comerciais, anunciou-se que o ministro venezuelano da Indústria visitará a Zona Franca de Manaus para uma avaliação de modelos que possam ser aproveitados nas Zonas Econômicas Especiais que serão criadas nos Estados Venezuelanos de Bolívar e Anzoátegui, onde o Brasil buscará oportunidades de negócios, visando uma porta de entrada para o mercado caribenho. A visita deve ser realizada em agosto. Para Menéndez a prioridade da agenda será que os países conheçam mutuamente seus planos industriais para a criação de uma “visão industrial conjunta”.

De acordo com ele, a conformação do grupo de trabalho prevê a organização do trabalho econômico produtivo entre os países. “Também consideramos propor a nossos presidentes a opção de definir já zonas específicas de desenvolvimento binacionais (…)”, afirmou, complementando que “uma opção concreta” é que os parques industriais mirem o Mercosul e a atividade produtiva relacionada ao petróleo. Segundo Pimentel, também se analisa a integração produtiva de empresas venezuelanas como fornecedoras de produtos para a Zona Franca de Manaus.

Para o chefe da missão do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) na Venezuela, Pedro Silva Barros, o polo industrial de Manaus poderia contribuir como modelo de desenho e formulação para as Zonas Econômicas Especiais da Venezuela. Segundo ele, há diversas possibilidades de articulação entre as atividades produtivas dos países, como a do polo naval fluvial em Manaus com o desenvolvimento de cadeias conjuntas com o país vizinho, e a utilização no norte do Brasil do aço naval produzido no Estado venezuelano de Bolívar.

Segundo Barros, a Venezuela é o principal fornecedor da Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) entre os países vizinhos ao Brasil, mas figura no 30º posto na lista de países fornecedores. “Manaus demanda de outras regiões grandes quantidades de alumínio e derivados de petroquímicos como plásticos, que poderiam ser produzidos pela Venezuela”, explica, ressaltando também o potencial de uma das propostas discutidas na reunião: a exportação de fertilizantes venezuelanos ao norte brasileiro – que permitiria reduzir o desequilíbrio da balança comercial entre os países, favorável ao Brasil.

“O Brasil importa uma quantidade muito grande de fertilizantes que são produzidos aqui na Venezuela. A demanda de Roraima é muito pequena, mas há estudos e com a conexão logística, poderia ser levado até o centro-oeste. O déficit da balança comercial de fertilizantes do Brasil é de cinco bilhões de dólares e a agricultura brasileira vai continuar crescendo durante décadas, assim como a demanda de fertilizantes”, afirma.

Apoio político

Também presente em Caracas, o assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, acompanhado de Pimentel, se reuniu com o presidente venezuelano Nicolás Maduro e com o chanceler Elías Jaua. Maduro e Dilma Rousseff devem realizar uma reunião bilateral na capital uruguaia, em 12 julho, data em que a Venezuela assumirá a presidência temporária do Mercosul.

A reunião sinaliza uma ratificação do apoio político do governo de Dilma a Maduro, dias depois que o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, anunciou que visitará o Brasil, o Peru e o Chile para difundir o que afirma ser “a verdade da maioria dos venezuelanos”. Derrotado nas eleições de 14 de abril por pouco mais de um ponto percentual, Capriles não reconhece o resultado do pleito. Frente à possibilidade de que o México seja incluído entre as visitas, o presidente do país Enrique Peña Nieto adiantou que não receberá o opositor.