PM mineira: entre maldades e erros
Belo Horizonte teve, nos últimos três dias, mais de cinquenta mil pessoas nas ruas, em manifestações sintonizadas com o movimento nacional que teve início na luta contra a tarifa dos transportes. Apesar de ser pacifico, ter grande participação de estudantes e muito apoio da população local, os protestos em BH têm sido marcados pelo protagonismo negativo Polícia Militar de Minas Gerais, tomando a cena com truculência, descaso e evidente incapacidade para lidar com os movimentos sociais.
Publicado 20/06/2013 10:10
Os flagrantes são muitos e incontestáveis. Ganharam as redes sociais e deixam o governador Antônio Anastasia em maus lençóis, devendo explicações apesar da leniência de grande parte da imprensa mineira. A reportagem do site da UNE acompanhou o primeiro grande protesto da capital, na segunda-feira (17), quando cerca de trinta mil pessoas caminharam da Praça Sete, região central da capital, até a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – cerca de seis quilômetros – sem nenhum grande incidente. Após serem impedidos de chegar mais perto do estádio do Mineirão, por volta das 18h, alguns manifestantes prosseguiram pacificamente para outro lado, mas foram recebidos com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio.
Covardia
Apesar dos gritos de “sem violência”, a PM reagiu em ações como a registrada nesse vídeo, que mostra a chocante e covarde agressão a uma jovem na cabeça, com uma cassetada, enquanto ela levantava as mãos e pedia paz aos policiais:
Em meio ao gás, pânico e ao clima de guerra criado pelos policiais, dois outros manifestantes – um homem e uma mulher – caíram de grande altura, em um viaduto e uma trincheira, sendo levados com ferimentos ao hospital. Alguns manifestantes pediram ajuda aos policiais, para o atendimento médico do jovem. Além de negar o socorro, os policiais zombaram do ferido: “ele não estava rezando não”, foi a resposta. A negligência foi filmada e também chegou às redes sociais, veja abaixo:
O ataque deixou outros feridos como o repórter da ESPN Igor Resende, que levou um tiro de uma bala de borracha. Assista aqui ao relato do jornalista.
Despreparo
Em entrevista ao site da UNE após a confusão, a comandante do policiamento da capital, coronel Cláudia Romualdo não sabia dizer o que havia acontecido nem justificar a ação de seus próprios comandados: “Acompanhei o protesto por dentro, até um certo ponto e, até onde eu vi, não houve nenhum problema por parte dos manifestantes”. Não soube, porém, afirmar de quem teria sido a ordem para avançar contra a manifestação.
Em outro vídeo, a comandante parece perdida em meio ao protesto, sem entender o que acontece. Pelo rádio, ela se comunica com um oficial: “Estou aqui no meio tomando gás lacrimogênio como todos outros”. Apesar de alguns inocentes – ou mal intencionados – aplausos ao redor, a fala da policial demonstra o preocupante despreparo da corporação que tem encontrado a população nas ruas de Belo Horizonte.
Em outro vídeo divulgado no dia posterior, um oficial da PMMG reconhecido somente como coronel Carvalho não consegue – ou finge não conseguir – perceber os tiros e bombas jogados por outros policiais a apenas poucos metros. Ele é levado ao meio da confusão, pelos próprios manifestantes, para testemunhar a violência.
Omissão ou boicote?
Na terça-feira (18), uma nova manifestação foi realizada às 17h, em frente ao campus da UFMG, para protestar, entre outras coisas, contra a truculência da polícia. Os manifestantes, que somavam cerca de 10 mil pessoas, caminharam até o centro da cidade, novamente de forma pacífica. Chegando à região mais movimentada da cidade, encontraram situação inesperada: nenhum policial sequer foi destacado para acompanhar a manifestação, para proteger os participantes e tampouco o patrimônio público.
A reportagem acompanhou a dispersão dos manifestantes, por cerca de duas horas, em um território completamente abandonado pelo estado. Por volta das 23h, com o centro já esvaziado, um grupo de aproximadamente 10 pessoas começou a depredação de parte da prefeitura municipal, agências de bancos e lojas. A violência seguiu sem nenhuma presença dos policiais presentes. No dia seguinte, pelas redes sociais, lideranças da manifestação denunciaram boicote das forças policiais.
A tese foi reforçada pela descoberta de um documento, divulgado pelo Jornal O Tempo, que revelaria que a polícia tinha ordens expressas para se ausentar do centro da cidade, um boicote que seria o verdadeiro responsável pelos atos de vandalismo e que poderia ter levado a outras consequências muito mais graves.
UEE-MG condena violência
O presidente da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG), Paulo Sérgio de Oliveira, que participou de todos os protestos, criticou a postura da polícia do estado: “Infelizmente, é uma situação que evidencia a criminalização dos movimentos sociais em curso, atualmente, por parte do governo de Minas”. Ele afirmou que as manifestações não param de crescer e representam o desejo da juventude de avançar ainda mais nas mudanças do país.
“Estamos convidando cada estudante para se juntar à luta pela redução na tarifa dos transportes, pela criação do Fundo Social do minério, pela reforma política. O movimento está se intensificando”, analisou.
A estudante Bárbara Ravena, da faculdade Pitágoras, disse que veio manifestar-se, entre outras coisas, por mais investimentos na educação do país e contra o atual sistema dos meios de comunicação. Segundo ela, a diversidade de pautas é do movimento grande e está satisfeita em ver a população nas ruas. Lamentou, no entanto, a atuação da polícia: “Eles descumpriram acordos com o movimento, em todas as manifestações. Agiram com truculência, fizeram tudo que não queríamos ver”, sintetizou.
Fonte: Site da UNE