Palestina: Premiê israelense nega declaração conciliadora

O primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu iniciou nesta quarta-feira (12) uma visita à Polônia, com a “advertência” sobre um “potencial holocausto” perpetrado pelo Irã. Mas a sua mensagem irresponsável e sensacionalista foi ofuscada por outro fiasco, a negação a uma declaração conciliadora sobre o direito dos palestinos a um Estado. “Essa não é a posição oficial do governo israelense”, retificou. Netanyahu visita nesta quinta (13) uma exposição sobre o Holocausto em Auschwitz.

Premiês israelense e polonês - AFP

A declaração, que deveria ser emitida na conclusão de uma cimeira entre os premiês de Israel e da Polônia em Varsóvia, reconhece o direito dos palestinos a um Estado e disse que “passos unilaterais de qualquer parte serão contra-produtivos para alcançar-se uma paz sustentável e durável”.

Por “passos unilaterais”, Netanyahu refere-se ao apelo da Autoridade Palestina, representada pelo presidente Mahmoud Abbas, pelo reconhecimento do Estado palestino na ONU, assim como a incorporação do país em agências como a Unesco, recursos para o reconhecimento do direito à autodeterminação.

Na quarta (12), Netanyahu distanciou-se da nota emitida pelo seu gabinete um dia antes, alegando que tinha sido publicada por um funcionário inexperiente do Conselho de Segurança Nacional, com o acordo da Polônia, antes de o premiê ou o diretor do conselho, Yaakov Amidror, pudesse lê-la.

Apesar de não vinculante, a declaração é considerada um entendimento escrito e oficial entre os dois países. O tom dela, em relação ao processo de paz israelense-palestino, era moderado e incluía até alguns pontos controversos.

“Ambos os países concordam sobre a necessidade urgente de progresso em direção a uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino, através de negociações diretas entre as partes, sem pré-condições”, afirma o documento, que também ressalta: “o direito palestino a um Estado nunca pode estar em dúvida”.

Funcionários do gabinete israelense tentaram minimizar a importância da declaração, dizendo que se trata apenas de “um documento protocolar”, e não a representação da posição do governo israelense. “Essa não é a posição do governo israelense”, disseram, alegando que o governo não tem, na verdade, uma posição oficial.

“A posição do premiê Netanyahu é o apoio a um Estado palestino desmilitarizado que reconhece em Israel um Estado judeu, com os arranjos securitários apropriados”, diz o comunicado do gabinete. Entretanto, Netanyahu também disse aos oficiais poloneses que o seu governo está disposto a retomar as conversações com os palestinos sem pré-condições, embora seja ele o opressor neste conflito extremamente assimétrico.

Além disso, a posição assumida por Netanyahu sobre um Estado palestino já serve para marcar a linha da sua disposição para as eventuais negociações.

Durante a visita, Netanyahu tem ressaltado a história dos judeus no passado recente da Polônia. “A história do nosso povo está conectada por milhares de anos, em grandes conquistas mas também em grandes tragédias”, disse.

Sobre o Irã, Netanyahu disse que o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad “está construindo armas nucleares com o objetivo expresso de aniquilar os seis milhões de judeus de Israel. Nós não permitiremos que isso aconteça. Nunca permitiremos outro holocausto”.

Como já ressaltado por diversos analistas políticos, Netanyahu usa a vitimização do povo judeu para justificar a postura agressiva do seu governo, tanto em política externa, no caso de alguns países da região, quanto com relação aos palestinos. A visita à Polônia e à exposição sobre o holocausto em Auschwitz (um dos maiores campos de concentração da Segunda Guerra Mundial), foi um momento propício para trazer à tona as alegadas ameaças enfrentadas por Israel.

A volta atrás dada por Netanyahu na declaração sobre a questão palestina causou a reação da parlamentar do partido Meretz, Zahava Gal-On, que disse: "Netanyahu mostrou a sua verdadeira face. Ele tem enganado o público, não tem qualquer intenção em fazer a paz”.

Com Haaretz,
da redação do Vermelho