Marcha da Maconha neste sábado trará blocos temáticos de lutas

São Paulo (SP), Manaus (AM), Petrópolis (RJ), Balneário Camboriú (SC), Jundiaí (SP), Caxias do Sul (RS) farão, neste sábado (8), a Marcha da Maconha, em defesa da descriminalização das drogas. A capital paulista terá sua sexta edição e a segunda em que não haverá qualquer proibição jurídica. Para melhor organizar a marcha, os coletivos estão se organizando em blocos, como o Bloco Feminista.

A manifestação também ocorrerá em outras nove cidades até o final deste mês. Até agora, houve mobilização em 28 cidades.

A Marcha da Maconha defende a regulamentação do consumo, do plantio e do comércio da erva. O fim da proibição é apontado por especialistas em combate ao tráfico como solução para extinguir a guerra contra as drogas. A medida é também apoiada por estudiosos e especialistas no combate ao tráfico. A medida vem sendo adotada por alguns países como Portugal e, mais recentemente, Uruguai.

Em 1997, segundo as estatísticas oficiais, 100 mil portugueses, ou mais de 1% da população, era viciada em heroína. Com a descriminalização do porte e do consumo, em 2001, criou uma rede de assistência aos viciados, sob a coordenação do Ministério da Saúde, e o número baixou pela metade. Destes, 35 mil são tratados pelo Estado. Além disso, os índices de criminalidade caíram drasticamente assim como o número de pessoas encarceradas e de contaminados por Aids.

Outros líderes mundiais já defendem um debate amplo sobre a questão. A Comissão Global sobre Políticas de Drogas (CGPD), que tem entre seus integrantes o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, também defende a legalização. No Brasil, Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), defendeu em 2012 a medida.

Os integrantes da Marcha paulista (as organizações nas cidades são independentes) comemoram o fim da proibição do ato, que sofreu com impedimentos e com a opressão da polícia durante quatro anos. Agora, existe a possibilidade "de sair da defensiva e dialogar francamente com a sociedade a respeito de nossas proposições e ideias", comemora uma nota no blog da organização.

Na capital paulista, a concentração será no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na avenida paulista, a partir das 14 horas.

Blocos

Neste ano, a manifestação está organizada em blocos com objetivo de levar bandeiras de luta de outros movimentos sociais e demandas específicas para serem debatidas dentro da Marcha. A troca de experiência promete potencializar a mobilização "lembrando que não basta uma regulamentação justa das drogas em um mundo injusto e opressor – quando uma luta avança, nenhuma retrocede." Além disso, o antiproibicionismo será amplamente defendido pelos blocos, entre eles os Psicodélicos, a Esquerda Canábica, Bloco da Zona Sul e o Bloco Feminista.

"Com esta iniciativa gostaríamos de dar mais um passo neste sentido, e também no de fazer a Marcha da Maconha cada vez uma marcha de todas as lutas e vozes em busca de dias mais justos e, sobretudo, livres", diz o documento.

Feministas

Entre os posicionamentos das mulheres que organizam o Bloco Feminista da Marcha da Maconha estão a desigualdade de gênero somada às questões como sexualidade, raça, classe, idade e suas intersecções. A autonomia da mulher também será apontada pelo coletivo que ressalta a discriminação: "… é curioso notar que ainda acontece de uma mulher estar bebendo sozinha num bar, por exemplo, e ser vista com desconfiança, tida como estranha, louca, deprimida, disponível, prostituta, alcoólatra etc. São muitos os adjetivos utilizados para uma mulher sozinha num ambiente público, tradicionalmente masculino". O trecho faz parte de um documento publicado também no blog da marcha.

Elas denunciam, ainda, que mulher que fuma maconha é ainda mais discriminada e que há um estereótipo que precisa ser combatido: da mulher que é mais suscetível a drogas medicamentosas como antidepressivos (as mulheres ainda formam o grupo para o qual esse remédio é mais prescrito), pílulas de emagrecimento, remédios para dormir, entre outros. "Drogas que a mantenham no papel que lhe foi incumbido[na sociedade]".

O bloco lembra também que 47% das mulheres presas no país foram pegas por venda de drogas. Algumas vezes por ser seu meio de sustento, outras por serem usuárias. "Mas outras, de maneira fortemente recorrente, por auxiliar seus companheiros, ao levar drogas a eles nas prisões, para ajudá-los no espaço do comércio ilegal, etc." A condição insalubre e de maus tratos que é submetida a mulher presa também é denunciado no texto.

O coletivo também levará fortemente a luta contra o Estatuto do Nascituro para às ruas e pretende sensibilizar a todos para as questão de gênero. "Assim como o questionamento sobre a proibição das drogas não é tarefa apenas de usuários, as lutas feministas devem atingir todos que buscam uma sociedade igualitária. Engrossamos, portanto, as fileiras das manifestações dessas duas lutas imprescindíveis, e num processo de troca e fortalecimento, avançaremos na busca de outra sociedade."

Mais informações no blog ou na página criada na rede social, onde já passamde 13 mil confirmados para o evento.

Com Blog da Marcha da Maconha de SP

(foto: Bloco Feminista)