Novo primeiro-ministro da Autoridade Palestina manterá agenda

Hamdallah formou-se em Linguística no Reino Unido, em 1988, na Universidade de Lancaster. Logo depois, voltou para Nablus, na Cisjordânia, para ensinar na Universidade de Najah, onde chegou à presidência em 1998.

O indicado também foi secretário-geral da Comissão Central de Eleições desde 2002 e serviu como presidente do conselho da Palestine Exchange (bolsa de valores) desde outubro de 2008, e antes disso, de 2003 a 2006.

Ele também tem várias atividades acadêmicas, é membro do conselho da Fundação Yasser Arafat e participa em várias organizações acadêmicas locais, árabes e internacionais, além de ter escrito livros e artigos sobre linguística e educação.

Apoio internacional e negociações

O secretário de Estado dos EUA John Kerry parabenizou Rami Hamdallah pelo novo cargo de primeiro-ministro, e disse que sua indicação “vem em um momento de desafio, o que é também um importante momento de oportunidades”.

Em declaração emitida pelo Departamento de Estado norte-americano, Kerry afirmou ainda que “juntos, podemos escolher o caminho de um acordo negociado para dois estados que permitirá aos palestinos cumprir suas aspirações legítimas, continuando a construir instituições para um Estado palestino soberano e independente que viverá em paz, segurança e força econômica ao lado de Israel”.

Os Estados Unidos têm afirmado um papel de mediador entre a Palestina e Israel, embora mais evidente seja o apoio incondicional ao governo israelense, que torna a solução de dois Estados mais improvável a cada dia com diversas medidas de ocupação do território palestino.

Também a União Europeia (UE), através da sua secretária de Política Exterior Catherine Ashton, congratulou o novo premiê. Catherine disse estar ansiosa por tabalhar com ele. “O senhor Hamdallah foi indicado como primeiro-ministro em um momento em que há uma oportunidade real para um processo de paz renovado, mas também em um momento de escolhas difíceis e de desafios aos palestinos”, afirmou.

Além disso, na mesma direção da declaração de Kerry, Catherine ressaltou a segurança dos vizinhos da Palestina: “Espero trabalhar de perto com o Dr. Hamdallah e apoiar o trabalho contínuo para a construção de instituições para um futuro Estado palestino soberano e independente, baseado no respeito pela democracia e pelos direitos humanos, e que viva em paz e segurança com os seus vizinhos”.

Durante o mandato do primeiro-ministro Salam Fayyad, o Banco Mundial, a ONU e outras organizações internacionais reconheceram o trabalho sólido da Autoridade Palestina no fortalecimento de instituições de governança e a capacidade construída já eficiente para um governo democrático e independente, apesar das dificuldades econômicas extremas impostas pela ocupação israelense, também reconhecidas internacionalmente desta forma.

Países como o Reino Unido e Alemanha são exemplos de membros individuais da UE que já congratularam Hamdallah pela indicação, ressaltando a continuidade ao trabalho de Fayyad como uma “política bem-sucedida” para a “construção de instituições estatais no Território Palestino e na busca por soluções construtivas nas relações com Israel”.

Entretanto, as dificuldades administrativas, econômicas e sobretudo as violações de direitos humanos institucionalizadas pela ocupação militar e civil de Israel sobre os territórios palestinos não foram mencionadas, embora sejam os "desafios" mais evidentes e estruturais dos sucessivos governos palestinos, tanto em contexto de negociações quanto cotidianamente.

Política e unidade nacional

Hamdallah qualificou-se como "homem de unidade" e declarou que o seu gabinete terá em conta o acordo de repartição do poder com o movimento de resistência islâmica Hamas, que governa a Faixa de Gaza, desde 2007.

"A divisão é um delito contra o povo palestino e tem que terminar. Não há nada em que deveríamos diferir. A unidade é nossa maneira de desfazermos da ocupação" do regime israelense, afirmou Hamdallah nesta terça-feira (4).

Segundo o novo premiê, as consultas já foram iniciadas e, possivelmente nesta quinta-feira (6) um novo governo será anunciado. Hamdallah manifestou ainda que a maioria dos ministros do gabinete de saída permanecerá em seus cargos, até que se forme um governo de unidade com o Hamas.

O Fatah, partido proeminente no governo da Cisjordânia e liderado por Abbas, tem realizado diversas conversações de aproximação com o Hamas, com o objetivo de envolver o partido islâmico no governo da Autoridade Palestina, o que tem sido analisado positivamente por cientistas políticos que acompanham o conflito entre os palestinos e os israelenses.

Entretanto, anteriormente o porta-voz do Hamas, Fauzi Barhum, considerou “preocupante” a decisão do Fatah de formar um novo governo na Cisjordânia e instou o partido a dedicar-se a formar um Governo de Reconciliação Nacional e acabar com as divergências políticas que existem entre as duas partes.

Atualizado às 15:16

Com Wafa,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho