Nassif: Para entender os problemas da Caixa com o Bolsa Família
O Cadastro de Informações Sociais tem 200 milhões de registros, e serve para inúmeras finalidades, do pagamento do Bolsa Família ao seguro desemprego.
Por Luiz Nassif*, em seu blog
Publicado 29/05/2013 15:03
Para pagamento do Bolsa Família, a Caixa Econômica Federal (CEF) utiliza parte desses dados em um sistema que funcionava desde 2.000. Há três anos, a CEF resolveu desenvolver um novo sistema, com tecnologia mais moderna.
Em abril houve a junção dos dois sistemas e se percebeu a existência de 700 mil registros duplicados. A CEF decidiu unificar as duas bases dando prioridade ao cadastro mais antigo. Assim, mesmo com a troca do sistema, os beneficiários continuariam com o mesmo cartão e o mesmo dia de pagamento ao qual estava acostumado.
À medida em que o cadastro era acertado, surgiram três situações distintas para os 700 mil nomes:
A maior parte permaneceu com seu antigo cartão.
Uma parte menor recebeu cartão novo, com data de pagamento posterior ao do velho cartão. Chegando no dia do pagamento, o dinheiro estaria disponibilizado.
Uma parcela menor recebeu cartão novo com data de pagamento anterior ao do velho cartão. Haveria problemas apenas para esse subgrupo, de chegar na agência e o dinheiro não estar depositado.
Para impedir esse desconforto – específico do Grupo 3 -, a CEF decidiu antecipar em um dia – de sábado para 6a – os benefícios de maio dos 700 mil.
Na 6a feira – já efetuados os depósitos nas contas dos 700 mil – o movimento foi normal, até um pouco menor que no primeiro de pagamento de abril.
O início do pânico: 13 horass do sábado [18]
Até por volta das 13 horas de sábado, o movimento continuava normal. A partir desse horário, a sala de monitoramento começou a perceber um aumento não usual do movimento nas agências de alguns estados específicos. Foi solicitado que os gerentes levantassem o que ocorria.
Por volta das 15 horas, os gerentes começaram a informar a central de que corria o boato de que o BF seria encerrado na meia noite de sábado. Era o mesmo boato, uniforme, em 13 estados: Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão, Para, Amazonas, Amapá, Rio de Janeiro e Piauí. E nenhuma alteração nos estados restantes.
Aí começou a tomar corpo a suspeita de que os boatos haviam sido articulados.
Montou-se uma estratégia para, na segunda, com as agências abertas, os gerentes começarem um trabalho de esclarecimento, valendo-se da relação de confiança com os beneficiários do BF formada ao longo desses anos.
Na própria segunda, em entrevista ao programa “Bom Dia Brasil”, José Urbano, vice presidente de governo e habitação da CEF, procurou tranquilizar os beneficiários assegurando que nenhuma mudança havia sido implementada no Bolsa Família. Na 2a à tarde, soube que haviam sido feitos os depósitos na 6a para os 700 mil nomes duplicados. Indagado do fato de não ter dado essa informação na manhã de 2a, Urbano explicou que não tinha sido informado dela, mesmo porque a decisão só se tornou relevante depois do medo.
No meio do caminho, ocorreu o desastre Maria do Rosário, Ministra-Chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, que insinuou que a oposição poderia estar por trás dos boatos. O que era uma discussão técnica, ganhou roupagens políticas.
Do lado da CEF permanece a convicção de que os boatos foram articulados.
* Luis Nassif é jornalista e blogueiro