Copom aumenta juros, na contramão dos interesses nacionais

Pela segunda vez seguida, o Banco Central (BC) reajustou os juros básicos da economia. Por unamidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 8% ao ano. “O comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano”, informou o Copom em comunicado.

Em abril, o Copom iniciou um novo ciclo de alta nos juros básicos, depois de quase dois anos sem aumento, e elevou os juros básicos para 7,5% ao ano. Desde agosto de 2011, a taxa Selic vinha sendo reduzida sucessivamente até atingir 7,25% ao ano em outubro de 2012, o menor nível da história. Nas três reuniões seguintes, em novembro de 2012, janeiro e março deste ano, o Copom optou por não alterar a taxa.

A taxa Selic é o principal instrumento doBC para manter a inflação oficial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) dentro da meta estabelecida pela equipe econômica. De acordo com o Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação corresponde a 4,5% (centro da meta), com margem de tolerância de dois pontos percentuais, podendo variar entre 2,5% (piso da meta) e 6,5% (teto da meta). Esta política de meta de inflação tornou-se um dogma do neoliberalismo, que o governo insiste equivocadamente em manter.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde julho do ano passado, o IPCA acumulado em 12 meses vem subindo. Em março, o índice acumulado chegou a 6,59% e ultrapassou o teto da meta de inflação do governo, que é 6,5%. Em abril, a inflação oficial em 12 meses recuou um pouco, para 6,49%.

Por outro lado, o aumento da taxa Selic prejudica a e economia, que cresceu apenas 0,9% no ano passado e ainda está sob o efeito de estímulos do governo, como desonerações e crédito barato. Nesta quarta, o IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, teve alta de 0,6% de janeiro a março na comparação com o trimestre anterior. O número veio abaixo das previsões. Em 12 meses, a expansão chega a 1,2%.

Usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic), a taxa Selic serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la, o Banco Central contém o excesso de demanda, que se reflete no aumento de preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao reduzir os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

Críticas

A reação dos sindicalistas classistas foi imediata. O presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) emitiu uma nota protyestando contra a decisão do Banco Central, afirmando que está na contramão dos interesses da nação.

“A elevação da taxa básica de juros (Selic) para 8%, determinada na noite desta quarta-feira (29) pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), está na contramão dos interesses de uma nação que anseia pelo desenvolvimento. O Brasil precisa crescer. Mas a alta dos juros conspira contra esta necessidade e fortalece as tendências de estagnação do PIB, que avançou apenas 0,6% no primeiro trimestre e tende a repetir um desempenho medíocre em 2013” – afirma o sindicalista.
Wagner argumenta que para a classe trabalhadora juros mais altos também significam menores oportunidades de emprego e salários, menos dinheiro para saúde, educação, habitação, infraestrutura, esporte e lazer. “A despesa com juros da dívida pública (obrigação tida como sagrada) – diz – vai crescer, aumentando lucros dos credores e reduzindo verbas sociais”.

Wagner vai fundo nos argumentos contrários ao pensamento dominante que pretende justificar a política de juros altos. “A inflação é apontada como justificativa para a decisão do Copom. O pretexto não convence num momento em que os preços das mercadorias, a começar pelos alimentos, estão desacelerando. Mas já não é segredo para ninguém que a alta dos juros vai ao encontro dos interesses dominantes no sistema financeiro”, afirma.

De acordo como dirigente da CTB, “banqueiros e grandes credores ganham bilhões a cada momento em que a Selic sobe. Percebe-se a persistente pressão pela alta das taxas de juros e spread nas análises dos porta-vozes “autorizados” do mercado veiculadas na mídia burguesa. Estes não se cansam de agitar o fantasma da inflação e alardear a necessidade de juros mais altos, bem como protestar contra a suposta falta de autonomia do Banco Central quando este adota uma orientação que contraria a vontade dos rentistas”.

O sindicalista conclui que a decisão do Copom contempla esses interesses espúrios em detrimento do povo e da nação brasileira. Constitui,” mais uma evidência de que a política macroeconômica continua a serviço da ganância deletéria da oligarquia financeira, que conspira contra o desenvolvimento nacional. A CTB, em unidade com as demais centrais sindicais, luta pela redução dos juros, controle do câmbio e das remessas de lucros e fim do superávit fiscal”.

Redação do Vermelho, com agências e CTB