Davis Sena Filho: Família Mesquita, democratas de fachada
A família Mesquita, proprietária do jornal conservador “O Estado de São Paulo”, fundado em 1875 com o nome “A província de São Paulo”, é a autêntica voz da Política do Café com Leite, no decorrer dos séculos 20 e 21.
Por Davis Sena Filho, do Blog Palavra Livre
Publicado 23/05/2013 17:14
Os Mesquita são legítimos representantes das oligarquias paulista e brasileira e sempre se equilibraram politicamente entre o liberalismo econômico e político e a sua associação pura e simples com governos autocratas, a exemplo do que era a ditadura militar, o regime mais violento infligido ao Brasil contemporâneo, e que, sobremaneira, cooperou, e muito, para que a sociedade brasileira atrasasse em décadas seu desenvolvimento social.
Ruy Mesquita morre aos 88 anos, e deixa o conglomerado familiar — Jornal O Estado de São Paulo, Jornal da Tarde, Rádio Eldorado, Agência Estado, OESP Gráfica e OESP Mídia — em situação difícil, com as finanças de algumas empresas em condições falimentar, como o Jornal da Tarde, que fechou suas portas e não tem prazo para reabrir. O prestígio de O Estado de São Paulo não é o mesmo de décadas atrás, o que se traduz em sua tiragem média e diária de 260 mil jornais, pouco para um jornal de 138 anos, que exerce suas atividades na capital mais populosa do País e das Américas, bem como é a sétima do mundo, com quase 11,4 milhões de habitantes, além dos cerca de 42 milhões de habitantes que vivem no Estado Bandeirante.
Ruy Mesquita é da terceira geração de sua família. Certa vez afirmou que ele e seu irmão, Júlio de Mesquita Neto (na época, diretor-presidente do grupo e falecido em 1996), participavam de reuniões conspiratórias, com os militares generais e comandantes do II Exército contra o presidente trabalhista João Goulart. Evidentemente, os Mesquita sabiam do que se tratava, pois desde 1932 conspiravam contra os trabalhistas e seus programas de governo e projeto de País.
Em 1932, abraçaram as causas da “Revolução Constitucionalista”, acontecimento político e militar que, na verdade, tinha por propósito derrubar o governo revolucionário de Getúlio Vargas, que liderou, em 1930, uma revolução de verdade, com o apoio, inclusive, de Minas Gerais, estado que até então revezava o controle da Presidência da República, no decorrer do período compreendido entre os anos 1895 e 1930, período este chamado de República Velha ou Política do Café com Leite, por ser São Paulo grande produtor de café e estado mais poderoso da Federação, bem como Minas Gerais era e ainda o é o maior produtor de leite, além de, na época, ser o estado com o maior número de eleitores do Brasil.
Como se observa, a despeito dos momentos “liberais” da família Mesquita, sua essência política é irrefragavelmente conservadora, à direita do espectro político e ideológico. O segundo patriarca do Grupo Estado, Júlio Mesquita Filho, herdeiro direto do fundador da empresa jornalística, Júlio Mesquita, participou efetivamente da “Revolução” Constitucionalista, movimento reacionário e que foi, de forma retumbante, derrotado pelas tropas federais e leais ao governo revolucionário do líder estadista Getúlio Vargas. Os Mesquita, tais quais aos Frias e aos Marinho, sempre combateram as forças políticas populares e progressistas. Os representantes dessas forças eles chamam de populistas e autoritários.
Contudo, a verdade é que essas considerações por parte dos barões da imprensa, autênticos representantes da direita brasileira e estrangeira, tornam-se inócuas quando se tratam de suas definições no que tange a rotular os trabalhistas e os socialistas. A verdade é que esses barões das mídias de negócios privados sempre combateram sistematicamente e duramente a esquerda ou quaisquer políticos que se recusasse a ser tutelado por uma burguesia cuja realidade histórica remonta a escravidão e o controle do estado por aqueles que sempre quiseram o Brasil com uma gigantesca fazenda, a dar lucros e dividendos a uma das “elites” mais cruéis do planeta.
Não convence, nem mesmo a uma criança, que os Mesquita romperam com os golpistas de 1964 um ano após a queda de Jango, presidente trabalhista herdeiro de Getúlio. Lobos também brigam com lobos, bem como integrantes de uma mesma família também se estranham e por algum tempo se afastam. A direita briga com a direita, assim como a esquerda se desentende com a esquerda. É normal e natural, pois os seres humanos divergem, mesmo quando são integrantes de um mesmo grupo, defendem os mesmos propósitos e, no caso dos Mesquita, possuem a mesma ideologia, pelo menos naquele momento e fato histórico, dos militares. Quero dizer que os Mesquita são de direita. É inegável. Ponto.
Somente os ingênuos ou os ignaros pensam que liberais conservadores como os empresários Ruy Mesquita e Júlio Mesquita Neto em algum momento romperam com os militares porque perceberam que os golpistas de 1964 iriam, na verdade, implantar uma ditadura militar; e eles, inconformados com tal realidade, resolveram se afastar dos militares, dos barões da indústria, dos donos do agronegócio e dos banqueiros que apoiaram o golpe porque se consideravam, incontestavelmente, democratas e cidadãos politicamente progressistas e ideologicamente à esquerda dos militares e dos homens ricos controladores do PIB nacional. Haja receita de bolos e tortas e poemas para demonstrar tanta coragem, inconformismo e apreço às liberdades civis e à democracia.
Os Mesquita logo se recompuseram, e trataram de “fazer as pazes” com aqueles que, simbolicamente e concretamente, pensam como eles e agem como eles, no caso os militares golpistas, porque foram cúmplices do golpe de estado, bem como ajudaram a edificar o estado ditatorial. Ou alguém tem dúvida? Os “milicos” saíram do poder e os Mesquita continuaram a fazer uma política sistemática e inapelavelmente de oposição, principalmente a partir de 2003. Os Mesquita e seus sócios, sob a liderança editorial do Ruy, transformaram mais uma vez o Estadão em um integrante do “Partido da Imprensa”, feroz e invariavelmente desonesto intelectualmente. Vale lembrar que a mesma estratégia tais barões da imprensa usaram contra os governos trabalhistas de Getúlio Vargas e João Goulart.
Mais do que propósitos e crenças é necessário compreender que os magnatas da imprensa de mercado são conservadores e defendem, sobretudo, os interesses de grupos econômicos, de classe social e, obviamente, de governos colonialistas, a exemplo dos EUA e da Inglaterra. Ponto. No período dominado politicamente e eleitoralmente pelos trabalhistas, a partir da vitória de Lula ao cargo de presidente, em 2002, e da ascensão de Dilma Rousseff ao poder, em 2010, o Estadão passou a fazer uma oposição sem trégua, sistemática e disposta a nunca considerar as conquistas sociais e econômicas do povo brasileiro, que são visíveis, reais e reconhecidas em todo o planeta.
Entretanto, ao contrário dos Frias, donos da Folha de S. Paulo, e dos Marinho, proprietários das Organizações(?) Globo, Ruy Mesquita e seus empregados de confiança assumiram o apoio e “faizeram campanha” favorável ao candidato de direita e da direita, o tucano José Serra, que foi derrotado por Dilma Rousseff. Tal barão da imprensa pelo menos foi sincero e ratificou e reconheceu que o seu jornal é de oposição aos governos de Lula e Dilma, como o foi, lembro novamente, adversário e até mesmo inimigo de Getúlio Vargas e João Goulart. É a história a se repetir em termos de combate ao campo trabalhista.
Acontece que o Estadão apenas oficializou sua opção política, ideológica e partidária, porque os Mesquita, nas pessoas de Júlio Mesquita, Júlio Mesquita Filho, Júlio Mesquita Neto, Ruy Mesquita e agora Francisco Mesquita Neto, primo do Ruy, e atual presidente do Grupo Estado, vão continuar seu périplo conservador, de direita, sempre a serviço dos interesses dos ricos, dos muitos ricos e dos governos dos países hegemônicos e de caráteres imperialistas. Quem vem da República Velha nunca muda, e por isto e por causa disto sempre devem ser combatidos pelas forças progressistas. Os Mesquita, os Frias e os Marinho são democratas de fachada e portadores de conservadorismo na veia. É isso aí.