Senado pede desculpas ao devolver mandato de Prestes
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pediu desculpas “pelas atrocidades cometidas pelo Estado contra um ilustre brasileiro escolhido livremente pelo eleitor”, ao devolver, simbolicamente, o mandato de senador do líder comunista Luiz Carlos Prestes. Na sessão especial, que aconteceu nesta quinta-feira (16), no Senado, estiveram presentes o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, parentes do líder comunista e parlamentares.
Publicado 22/05/2013 19:32
E citou também o escritor Jorge Amado, que encerra seu livro O Cavaleiro da Esperança, biografia poética de Luiz Carlos Prestes, com uma palavra de ordem e um chamamento: “Levanta a tua voz, amiga, clama comigo com toda a gente do cais, com todos os povos livres do mundo, clama até que teu grito seja ouvido: – Liberdade para Luiz Carlos Prestes!”.
Democracia e liberdade
Após a solenidade de entrega do diploma e botom de senador à viúva de Prestes, Maria do Carmo Ribeiro Prestes, e ao neto de Abel Chermont, Carlos Eduardo Chermont, Maria Prestes (foto) fez a sua fala de agradecimento. Nela, disse que a devolução do mandato a Prestes não é dela e nem de seus familiares, é do povo brasileiro que o elegeu em 1945 com mais de 150 mil votos.
Maria do Carmo destacou o compromisso de Prestes com as causas dos trabalhadores brasileiros e lembrou sua permanente preocupação com a qualidade dos sistemas públicos de saúde e educação, com a garantia do direito à moradia e com a defesa de salários decentes a fim de que todos pudessem viver com dignidade.
“Prestes foi um dos políticos de maior destaque não só no Brasil, mas em todo o mundo. Ele foi respeitado e considerado um político de caráter que sempre defendeu seus ideais. Com essa iniciativa do Senado Federal, eu quero expressar minha certeza de que a democracia e a liberdade sempre serão valorizadas em nosso país”, afirmou.
O projeto declarou nula resolução da Mesa do Senado de 9 de janeiro de 1948, que extinguiu o mandato do senador Luiz Carlos Prestes e de seu respectivo suplente, Abel Chermont. Eleito senador em 1945 pelo Partido Comunista do Brasil com a maior votação proporcional da história política brasileira até aquela época, Prestes teve seu mandato declarado extinto pela Mesa do Senado após o Superior Tribunal Eleitoral (TSE) ter cancelado o registro do Partido, em 1947. Luiz Carlos Prestes nasceu em 1898 e morreu em 1990 de causas naturais.
A favor dos menos favorecidos
Coube a Renan Calheiros as primeiras falas elogiosas ao líder comunista. Ele foi acompanhado pelos demais senadores, representantes de várias siglas partidárias – do PMDB ao Psol, que destacaram a força do caráter de Luiz Carlos Prestes e a perseverança com que perseguiu os seus ideais – de construir um país livres das injustiças sociais e como a sua luta serviu de exemplo ao longo dos anos a outros líderes políticos de esquerda.
Renan lembrou a constante preocupação que Prestes tinha com as outras pessoas quando, ainda muito jovem e, na condição de oficial do exército, contratou cozinheiros para melhorar a qualidade de alimentação de seus subordinados e organizou as atividades militares de maneira que todos pudessem estudar e ter acesso à educação física e instrução militar.
Essa primeira manifestação de solidariedade o acompanhou por toda vida. Prestes deixava em segundo plano eventuais projetos pessoais para lutar a favor dos segmentos sociais menos favorecidos, destacou Renan.
Personagem da história mundial
Inácio Arruda falou sobre a história de vida de Prestes e Abel Chermont e encerrou o seu discurso citando o grande escritor, biógrafo e músico francês, Romain Rolland, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1915, que registrou:
“Luiz Carlos Prestes entrou em vida no Panteão da História. Os séculos contarão a ‘canção de gesta’ dos mil e quinhentos homens da Coluna Prestes e sua marcha de três anos través da imensidão do Brasil. A unidade das almas e das raças no Brasil forjou-se aí. Insensatos seriam os senhores do Brasil se não vissem que atingindo Luiz Carlos Prestes é o próprio Brasil que atingiriam. Mais ainda. Luiz Carlos Prestes nos é sagrado. Ele pertence a toda a humanidade. Quem o atinge, atinge-a.”
Para o senador comunista, “com esta cerimônia de hoje, estamos dando fim à insensatez da cassação dos mandatos comunistas no século passado. Prestes volta, simbolicamente, à sua cadeira de senador para desagravo da dignidade nacional, para segurança da democracia, para respeito da História”.
E acrescentou que “este gesto de hoje do Senado Federal, devolvendo simbolicamente os mandatos de Prestes e seu suplente, Abel Chermont, aos seus familiares, proporciona, mais uma vez, liberdade para Luiz Carlos Prestes. Ao libertá-lo de uma injustiça histórica, o Senado liberta igualmente a si mesmo, como autor dessa injustiça, e permite que o legado do senador Luiz Carlos Prestes seja avaliado com a serenidade que o tempo histórico proporciona. Foi um mandato exemplar de um legítimo representante do povo trabalhador brasileiro”.
Maturidade política
Quando a palavra foi franqueada aos senadores, a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) foi a primeira falar. E todos que a seguiram destacaram, além da luta de Prestes, o sinal de maturidade política do país por mostrar a capacidade do país de “reconhecer os erros do passado”.
Ela afirmou que a cassação do mandato dos dois e de outros 14 deputados comunistas foi "um desrespeito pela minoria, pela possibilidade de se pensar diferente”. Também presentes na solenidade, os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Randolfe Rodrigues (Psol-AP), Eduardo Suplicy (PT-SP) e Humberto Costa (PT-PE) elogiaram a iniciativa da Casa e reforçaram a importância de Prestes para a história política do país.
Pedro Simon (PMDB-RS) ainda citou a figura do homem apaixonado, corajoso e idealista que foi Prestes. E lamentou o passado do Congresso, com cassações, atos institucionais e fechamento – momentos como o que tirou de Prestes o mandato de senador. Em contrapartida, julgou a sessão desta quarta como "um dos momentos mais bonitos da história da Casa”.
De Brasília
Márcia Xavier
Com agências