Jaime Sautchuk: Cuba aposta no turismo bom e barato
A República de Cuba quer ultrapassar este ano a marca de três milhões de turistas estrangeiros que visitarão o país, perto de 10% a mais do que em 2012. Para isto, apresenta um segredo: turismo barato e de boa qualidade.
Por Jaime Sautchuk*
Publicado 17/05/2013 10:46
Os cubanos acreditam que não existe contradição entre preços mais acessíveis que a média mundial e qualidade superior. São fatores que, para eles, devem servir para todos os tipos de turistas, desde os que estão na simples busca de sol e praia, até os que vão ao país para eventos de negócios, científicos ou culturais.
Há, entre todas as modalidades, os turistas mais exigentes, acostumados à qualidade cinco estrelas, ou os que poderiam ser classificados como ideológicos, que buscam sítios históricos acima de tudo. Para todos, porém, a capacitação da mão de obra joga papel fundamental, na visão dos cubanos.
Débora Morales é uma senhorita de 28 anos que trabalha como garçonete num restaurante de um hotel da rede espanhola Meliá, em Varadero, um dos principais balneários subanos. Ela tem curso superior em Turismo e especialização em Gastronomia, com nível de pós-graduação. E é apenas garçonete.
Como ela, todo cubano que vai trabalhar em bares, restaurantes, hotéis ou pousadas passa por rigorosa formação. Colocar um dedo na parte interna de um copo ou taça, mesmo após usados, é algo que nem passa pela cabeça de um profissional da ilha, para citar um exemplo bem trivial.
Por mais simples que seja o restaurante, há talheres e recipientes de primeira qualidade, sempre arrumados com primor e fineza. E, em meio a tantos cuidados, nunca falta um sorriso nos lábios dos atendentes, desde os mais jovens, em início de carreira, até os com idade mais avançada, de cabelos brancos. É parte do serviço.
A maioria dos 2,8 milhões de turistas que visitaram Cuba no ano passado tinha o Canadá como país de origem. Em segundo lugar vem o México. Isso não quer dizer, no entanto, que esses viajantes sejam todos canadenses ou mexicanos.
Boa parte deles vem, em verdade, dos Estados Unidos, que ainda mantêm o boicote a Cuba, mas seus cidadãos visitam a ilha em grande número, via México e Canadá, principalmente.
O boicote de Washington a Cuba, aliás, suscita uma gama de assuntos correlatos. Como é sabido, o boicote só é mantido por sucessivos governos, inclusive o de Barack Obama, por causa de questões internas.
O estado na Flórida, onde está concentrada grande parte da comunidade de endinheirados exilados cubanos, tem peso decisivo nas eleições presidenciais. No colégio eleitoral que elege o presidente os delegados dessa unidade da federação acabam sendo fiéis da balança. Por isso, ninguém quer desagradar os eleitores de origem cubana, que defendem o boicote como vindita, para usar o linguajar mafioso.
O fato é que o boicote acaba afetando bastante Cuba. A começar pelo número de turistas dos EUA que visitam a ilha, que poderia ser muito maior, até pela proximidade. Vale lembrar que a distância de Havana para Miami é de apenas 180 quilômetros.
Mas há outros aspectos. Um exemplo são os cabos de telecomunicações americanos, que passam sob o mar nas costas cubanas, mas é negado aos cubanos o acesso a eles. Com isso, a Internet e a telefonia celular em Cuba são acessadas via satélite, o que encarece e dificulta esses serviços.
Isso não impede, contudo, que redes internacionais de hotéis e companhias de transportes aéreos se interessem por aquele mercado. A maior parte dos brasileiros que vão a Cuba, por exemplo, usa voos da Copa, que é apresentada como empresa panamenha, mas que, na realidade, é subsidiária da American Airlines.
A qualidade da rede hoteleira cubana também ajuda a atrair o turista. Comparando com o Brasil, podemos citar como exemplo o complexo hoteleiro da Costa do Sauipe, próxima a Salvador, na Bahia. Em Cuba, há vários complexos desse tipo, boa parte com hotéis de redes espanholas. É top mundial.
O governo cede o terreno e garante a infraestrutura urbanística. As empresas, por seu lado, constroem e administram os hotéis. E o lucro é rachado meio a meio.
* Jaime Sautchuk é jornalista, escritor, colunista do Vermelho.