Palestina: Hamas investe em mudanças políticas por legitimidade
Vale a pena notar a mudança que o Hamas vem promovendo em sua política. O grupo mal recuperou seu estoque de mísseis desde a Operação “Pilar de Defesa”, está prendendo ativistas envolvidos em ataques contra alvos israelenses, e desviou seus esforços desde a expansão da sua força militar para a manutenção da paz e da tranquilidade.
Publicado 07/05/2013 15:16
O Hamas (partido político de resistência islâmica que governa a Faixa de Gaza) transformou-se de um movimento que aderia à resistência armada para um movimento que luta para conseguir legitimidade internacional e que tem como objetivo chegar ao poder em toda a Palestina nas próximas eleições.
Havia indicações claras de que tal mudança estava acontecendo: não apenas o líder do partido recentemente reeleito Khaled Meshaal, um “pragmático,” mas também o oficial sênior do Hamas Mahmoud al-Zahar, um líder entre os mais radicais, foi excluído da liderança do partido. Depois, uma declaração do vice-ministro de Relações Exteriores do governo do Hamas Ghazi Hamad afirmava que “o Hamas concorda em aceitar um Estado [palestino] dentro das fronteiras de 1967”, ou seja, como era reconhecido o território palestino antes da ocupação israelense realizada na Guerra dos Seis Dias, em 1967, mantida e intensificada a partir de então.
Declarações como esta e a eliminação de declarações contrárias à existência do Estado de Israel são esforços vigorosos para que o Hamas seja removido das listas de organizações terroristas (dos EUA e da Europa, por exemplo).
Fatos verificáveis são mais evidências de mudança
Quando completada a Operação “Pilar de Defesa” das Forças de Defesa de Israel (FDI) contra Gaza (de 14 a 21 de novembro), o Comando Sul de Israel conduziu uma avaliação da situação, sob os auspícios do ministro da Defesa. O esforço para analisar o “sucesso real” da operação foi conduzido para servir de instrumento para planejamentos futuros, e provavelmente para justificar essas operações.
Os pessimistas entre os participantes anteciparam não mais do que apenas uma semana de tranquilidade na fronteira sul de Israel (com a Faixa de Gaza). Os otimistas olhavam adiante, esperando dois meses de calma. Nenhum predisse o que acabou acontecendo em Gaza nos próximos cinco meses. Entretanto, a falha é de percepção, uma vez que as ações que o Hamas vem desempenhando não são completamente novidade: em operações anteriores, o partido já vinha reprimindo atores locais que pusessem em risco qualquer cessar-fogo logrado com os israelenses, por exemplo.
Neste caso, não foi diferente. O Comando do Sul pôde observar o Hamas evitando agitações na fronteira, e a liderança do grupo conduziu a sua própria avaliação da situação. Os participantes incluíam membros da ala política do movimento, mas também do seu braço militar, que tinha recentemente perdido o seu comandante,
Ahmed Jabari, morto por um ataque aéreo das FDI, que inaugurou a Operação “Pilar de Defesa”.
O grupo de avaliação chegou à conclusão de que o movimento tinha sofrido uma grande derrota. Embora tenham conseguido lançar 1.500 mísseis contra Israel em apenas seis dias, isso não teve efeito significativo para o país vizinho, que foi protegido pelo sistema de defesa Iron Dome (Cúpula de Ferro). Em contraste, Israel conduziu o que classificou, como sempre, de “ataque aéreo cirúrgico”, deixando de mencionar as consequências e “danos colaterais” desses ataques nem tão precisos assim. Durante os oito dias de ataques, mais de 160 civis palestinos morreram, enquanto houve destruição de infraestrutura básica. Outra vez, nenhuma novidade.
Os líderes do Hamas, segundo analistas, puderam notar que a Irmandade Muçulmana, recentemente eleita para a presidência do Egito, não o “cobre” realmente, na resistência contra Israel. Os egípcios exigiram que o Hamas cessasse todas as ações militares contra Israel, e também lançaram novas medidas efetivas para mostrar o quão sério estavam falando: destruíram muitos túneis usados para importar bens do deserto do Sinai para a Gaza bloqueada. Além disso, também proibiram o Hamas de importar petróleo egípcio subsidiado de El Arish como uma alternativa ao petróleo levado a Gaza de Israel.
Há quem acredite que a mudança de política do Hamas se deve à pressão egípcia, mas outra vez, isso é fruto da falta de percepção das medidas já tomadas pelo movimento em ocasiões anteriores, quando procurava reprimir grupos como o seu próprio braço armado, as Brigadas Al-Qassam, e o grupo armado Jihad Islâmica que enviassem mísseis a Israel enquanto se negociava algum cessar-fogo.
Negociações políticas internas
O Hamas também tem mantido conversações com o governo da Autoridade Palestina na Cisjordânia, presidido por Mahmoud Abbas, com o objetivo de se integrar à Organização para a Libertação da Palestina (OLP), organismo que representa oficialmente os palestinos internacionalmente. Membros da OLP já ressaltaram diversas vezes a importância da adesão de partidos como o Hamas e outros dois, também islâmicos, para que a organização tenha a representatividade de que necessita. Para isso, Abbas e o Hamas negociam um governo de unidade.
O grupo tem mantido um certo zelo para estabelecer um estádio de calma no “perímetro de segurança” perto da fronteira com Israel. As FDI impedem qualquer pessoa de entrar nesta zona, incluindo agricultores locais, mas atualmente tem sido o próprio Hamas quem impede civis de chegar a 100 metros da barreira, e as suas próprias forças armadas são proibidas de chegar a 500 metros dela.
Além disso, o Hamas também tem conseguido, ao menos, diminuir a quantidade de mísseis lançados contra os assentamentos judeus mantidos por Israel à beira da Faixa de Gaza. Desde a última operação militar (em novembro passado), cerca de 20 foguetes foram lançados contra Israel desde a Faixa, mas eles foram lançados pelo que os israelenses chamam de “organizações rebeldes”.
Sempre que um foguete é lançado, as forças de segurança interna do Hamas prendem os suspeitos rapidamente. Mas o teste real à constrição do Hamas foi feito na semana passada, quando em 30 de abril Israel atacou a fronteira de Gaza e matou um palestino militante, Hitam al-Mashal, especialista na confecção de foguetes.
As autoridades israelenses, segundo analistas, esperavam uma resposta do Hamas, mas isso não aconteceu. Além disso, ainda, logo após o evento, o grupo advertiu outras organizações de que se ousassem lançar mísseis contra Israel, seriam presas.
Como membro do grupo de entidades da Irmandade Muçulmana da região, que inclui a Turquia, o Egito, o Catar (para onde o Hamas transferiu sua sede recentemente, saída da Síria) e alguns rebeldes sírios, o Hamas simplesmente decidiu agir diferentemente, para o bem de um interesse maior.
Com Al-Monitor,
da redação do Vermelho