Mídia: presidente da Carta Maior defende redistribuição de verba
Um dos maiores especialistas na temática da mídia independente, o advogado e fundador da agência de notícias Carta Maior, Joaquim Palhares, participou, nesta terça-feira (7), do debate promovido pela Comissão de Cultura da Câmara sobre financiamento de micro e pequenas empresas de comunicação nas diversas plataformas. Em conversa com a equipe do Siga, Jandira!, ele defendeu a redistribuição de verba pública aos meios de comunicação e a criação de uma agência de notícias latinoamericana.
Publicado 07/05/2013 18:39
Siga, Jandira!: Como o senhor avalia o cenário brasileiro para a Mídia Alternativa?
Joaquim Palhares: Esse cenário, hoje, é um tanto paradoxal. Por um lado, tivemos nos últimos anos um crescimento muito expressivo da chamada mídia alternativa, tanto em termos de quantidade como de qualidade. Esse crescimento ocorreu de maneira mais forte na internet, mas não só nela. Temos hoje jornais, revistas, rádios e tvs comunitárias espalhadas pelo país. Por outro lado, esse setor enfrenta hoje uma grave crise de financiamento que ameaça a sua sobrevivência. É grave não só porque ameaça a sobrevivência dessas iniciativas, mas, principalmente, porque elas são a expressão de setores da sociedade que não costumam ter vez nem voz na mídia comercial tradicional.
Siga, Jandira!: Porque existe a necessidade de se democratizar a verba pública às empresas de Comunicação?
JP: Uma das razões é pelo problema citado acima. Se queremos levar a sério o princípio da liberdade de expressão, é preciso garantir que os mais diferentes setores sociais tenham seus canais de expressão e divulgação. Isso é tema de política pública em muitos países, especialmente no âmbito da União Europeia, mas não só lá. E uma das maneiras de se fazer isso é promovendo uma distribuição mais equitativa dos recursos públicos destinados à publicidade nos meios de comunicação. É inaceitável o quadro atual onde alguns grandes grupos monopolizam esses recursos e que isso seja feito em nome de critérios supostamente republicanos. De republicanos não tem nada, estão mais para monárquicos, na verdade.
Siga, Jandira!: Quais plataformas se sobressaem neste processo de democratização dos recursos? Blogs? Sites? Rádios? TVs?
JP: Esse processo deve abranger todas as formas de comunicação representativas de setores da sociedade. A internet vem ganhando crescendo destaque aí, mas o processo não se resume a ela. As rádios e tvs comunitárias, por exemplo, tem um papel muito importante na construção de espaços de comunicação e informação nas comunidades. Tem uma função óbvia de utilidade pública. No caso das rádios comunitárias, além do tema da democratização de recursos, há ainda que enfrentar as ameaças constantes de fechamento e criminalização que elas sofrem.
Siga, Jandira!: Qual sua opinião sobre a criação de uma agência latinoamericana de notícias?
JP: É um sonho antigo que ainda está por ser realizado. Temos a experiência da Telesur, que não é propriamente uma agência, mas serve de exemplo das potencialidades de um trabalho conjunto no continente.Não haverá uma verdadeira integração dos povos da América Latina sem uma integração em nível comunicacional. Precisamos de espaços de articulação, troca de informações, debate e contato permanente. Uma agência de notícias seria um espaço desse tipo, mas não o único.Podemos pensar também em outras formas de colaboração e compartilhamento, o que, aliás, já acontece hoje em algumas áreas por meio das redes sociais.