George Braga: “Recife trouxe um olhar novo para a Copa”
A realização da Copa do Mundo e da Copa das Confederações no Recife tem características que a diferenciam das demais cidades-sede. Uma deles é a integração dos moradores da cidade e seu entorno ao clima dos eventos, de forma que todos sejam partícipes ativos desses dois grandes momentos esportivos do mundo.
Publicado 07/05/2013 10:03
Outras iniciativas de expressivo significado social e econômico é a criação de uma nova centralidade urbana na Região Metropolitana do Recife a partir da construção da Arena da Copa no município de São Lourenço da Mata, a 16 quilômetros do centro da capital, e a melhoria da infraestrutura e de serviços públicos da cidade, com foco especial na mobilidade e no atendimento ao turista, que vão mudar a cara do Recife.
Em entrevista ao Vermelho-PE, George Braga, secretário de Esportes e Copa do Mundo da Prefeitura do Recife, comenta as principais ações da administração municipal, algumas já em andamento, visando preparar a cidade para receber turistas, torcedores e atletas do mundo inteiro já no próximo mês de junho quando acontecem os jogos da Copa das Confederações.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Vermelho-PE: A realização de dois eventos esportivos de âmbito mundial no Recife exige o planejamento e a execução de ações especiais. Como a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Esportes e Copa do Mundo, está preparando a cidade para receber milhares de torcedores e atletas?
George Braga: A primeira providência foi criar uma secretaria executiva específica da Copa, no sentido de cuidar do conjunto das ações dos eventos. Recentemente, o prefeito Geraldo Julio criou o Comitê Gestor, coordenado por nossa secretaria, que tem a missão de organizar todas as ações do Governo municipal relacionadas à Copa do Mundo e à Copa das Confederações.
Isso inclui ações que vão desde a área de Saúde, Segurança, que fazem parte da maneira horizontal, digamos assim, de ver a Copa, até ações específicas, que são da responsabilidade de nossa secretaria, como é o caso do Fifa Fan Fest; dos Centros de Treinamento que as seleções vão utilizar durante os jogos; das rotas protocolares, que são vias prioritárias de acesso das seleções e dos torcedores à Arena da Copa, como as avenidas Recife e Boa Viagem e as BRs 232 e 408, por exemplo. Então, essas são ações específicas da secretaria e nós estamos envolvidos no conjunto das ações da Copa.
Quais os impactos (positivos) da Copa sobre a vida da população do Recife?
Trouxemos um olhar novo para a Copa do Mundo, a partir do entendimento de que ela traz muitos benefícios para a cidade. Nós aproveitamos bem, digamos assim. Pernambuco fez, senão o melhor, mas um dos melhores projetos do Brasil para a Copa do Mundo.
Desde o início, ainda como secretário estadual de Esportes, participei das primeiras reuniões visando à realização das Copas de 2013 e 2014 no Estado. Já naquele momento, nós já tínhamos o entendimento de que a Copa é uma oportunidade e Pernambuco e o Recife souberam levar ao máximo essa ideia, nós conseguimos materializar essa ideia.
Tivemos primeiro a ideia de um projeto que criava uma nova centralidade urbana, levando o desenvolvimento para uma região ainda inóspita, fazendo com que se amplie o desenvolvimento da cidade para São Lourenço da Mata, município a Oeste da Região Metropolitana do Recife, onde foi construída a Arena da Copa. Então, acho que isso é uma felicidade do projeto.
Um segundo aspecto importante é que nós conseguimos viabilizar alguns projetos-chave para o desenvolvimento da cidade. Quantos anos nós levaríamos para construir a Via Mangue se não fosse a possibilidade de incluí-la em um projeto como o da Copa? Em função da Copa, nós estamos construindo uma obra de R$ 400 milhões, que talvez levasse muitos anos para ser concluída, e será feita em apenas dois anos; estamos fazendo os Corredores Norte-Sul e Leste-Oeste e vários outros corredores de ônibus, que são projetos estruturadores da Região Metropolitana do Recife que vão beneficiar muita gente.
Um corredor de ônibus que sai de Igarassu (município na área Norte da RMR) e chega à Avenida Agamenon Magalhães (centro do Recife) é um corredor muito importante para a cidade. Outro corredor segue por toda a Avenida Caxangá (Oeste do Recife), com seis quilômetros de extensão, em BRT (Bus Rapid Transit) e vai agilizar o acesso das pessoas. Então, a Copa do Mundo serviu para fazermos mais investimentos para quem mais precisa, mudando um paradigma, e isso mostra a consistência e a importância do projeto da Copa do Mundo de Pernambuco e do Recife.
Não estamos atendendo apenas ao turista, à estrutura de fora. Quando nós falamos que o Recife vai ter os corredores de ônibus, sete novos centros de atendimento ao turista e que desses sete, um é na Bomba do Hemetério (Zona Norte do Recife), nós estamos falando em deixar ações importantes para a cidade do ponto de vista do turismo e um turismo que valoriza a nossa cultura, porque na Bomba do Hemetério existe um conjunto de manifestações culturais que vão ser valorizadas na medida em que nós vamos puder mandar turistas para lá e termos um espaço para recepcioná-los.
Outro aspecto positivo é que esse projeto não pode ser feito sozinho, tem que ser feito a muitas mãos. Passando em revista as ações da Copa eu diria que não tem uma ação sequer que seja feita apenas por um órgão ou um ente federativo isoladamente, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. Acho que esse é um aspecto importante, pois gerou a necessidade de unidade da estrutura pública no sentido de atender às demandas do projeto.
E a participação do povo do Recife nesses eventos?
Sentimos falta de ações que levasse o povo para a Copa. Então, esse é um olhar que também vai nortear algumas ações da Secretaria de Esportes. Nós estamos criando, por exemplo, para a Copa das Confederações, agora em junho, um projeto de exibições públicas, onde pretendemos levar o clima, o ambiente do evento, para a periferia da cidade. Então, teremos ações que vão desde a exibição dos jogos em telões até atividades lúdicas, como jogos, brincadeiras, e gastronômicas.
Queremos levar tudo isso para os quatro cantos do Recife. Para isso, estaremos no Parque Dona Lindu (Boa Viagem), Praça do Arsenal (Recife Antigo), nos bairros de Brasília Teimosa e no Ibura (Zona Sul), San Martin (Zona Oeste), Peixinhos (Zona Norte), no Sítio da Trindade (Casa Amarela).
Durante a Copa do Mundo nós teremos o Fifa Fan Fest, que é um evento de rua realizado pela prefeitura com o apoio dos patrocinadores da Copa do Mundo. A ideia é criar um espaço público, com acesso grátis, onde teremos a transmissão de todos os jogos da Copa do Mundo e nos intervalos dos jogos teremos shows com atrações diversas. É um evento onde estarão reunidos a Fifa e todos os seus parceiros, que no Recife acontecerá no Marco Zero, com uma programação intensa durante 25 dias dos 32 da Copa do Mundo. Já estão previstos, shows de Elba Ramalho, Skank, Maciel Melo, forrozeiros, Karina Spinelli, no total de mais de 50 artistas. Ainda estamos avaliando a instalação de pólos de diversão em outros pontos da cidade.
Então, esse é um olhar novo, que nenhuma outra cidade do país está desenvolvendo. Esse é um desafio, o desafio da Copa, que, resumidamente, são: cumprir as nossas obrigações, fazer bem o dever de casa, organizar bem a cidade para receber as pessoas e fazer com que a Copa do Mundo, por outro lado, chegue ao conjunto da população, chegue à periferia da cidade.
E para a Copa das Confederações?
Para a Copa das Confederações podemos destacar três ações: Primeiro, são as rotas protocolares, vias como as avenidas Recife, Boa Viagem, Conselheiro Aguiar, BR101, BR 232, que já estão sofrendo intervenções que passam por recapeamento, drenagem, acessibilidade, um conjunto de ações para melhorá-las. O segundo movimento são as exibições públicas, que são uma forma de nós fazermos com que a população tenha oportunidade de participar do evento.
Nesse sentido, além de ações, atrações, diversão, nós pensamos também em criar um programa de recuperação dos campos de várzea. Nós queremos fazer com que no momento em que nós temos o maior evento de futebol do mundo, nós também pensamos naqueles espaços onde surgiram muito atletas. Aqui mesmo nós temos diversos atletas que surgiram dos campos de várzea.
A terceira ação são os centros de treinamento, que são os centros de treinamento do Náutico e do Sport e o campo do Santa Cruz que vão receber as seleções. Eles precisam de melhorias e nós vamos ajudar a fazer algumas intervenções para que esses espaços estejam adequados.
Um número expressivo de voluntários está sendo selecionado para os dois eventos. No Recife, como isso funciona?
São dois tipos de voluntários: os que são selecionados pela própria Fifa, que atuarão em áreas da federação. Durante a Copa do Mundo existirão determinadas áreas que serão exclusivas da Fifa, como por exemplo, hotéis para hospedagem de dirigentes, representantes e organizadores do evento, hotéis exclusivos para as seleções, áreas do estádio, que durante as Copas do Mundo e das Confederações serão “territórios” da Fifa, que será que controla, organiza, etc. Nessas áreas atuará um voluntariado que a Fifa recrutou e vai orientar as pessoas durante os jogos.
No outro lado, o governo federal junto com os estados municípios criou um programa de voluntariado para as cidades. Nesses casos, as pessoas vão atuar nos mercados públicos, nos espaços turísticos, em locais de visibilidade da cidade, para que nós possamos orientar os turistas e a população em geral sobre onde estão acontecendo os eventos. Para a Copa das Confederações, foram selecionados 1.540 jovens, que estão sendo capacitados, para áreas diversas, como mobilidade urbana, atendimento turístico, etc. Eles receberão o uniforme e apoio financeiro para alimentação e transporte.
Além de preparar a infraestrutura das Copas do Mundo e das Confederações, a Secretaria de Esportes tem outras atribuições. Quais?
Na verdade temos três estruturas na secretaria, que eu considero três desafios diferentes. O primeiro é a Copa do Mundo. Outro desafio é reestruturar as políticas de esporte para a cidade. O Recife é uma cidade muito rica esportivamente. Da cidade saíram vários grandes atletas que vieram treinar aqui. A Yane Marques (pentatleta medalhista olímpica) é de Afogados da Ingazeira (Sertão de Pernambuco), mas ela treina, vive, se organiza aqui no Recife. A Keila Costa (salto triplo e à distância, atleta olímpica) começou em Abreu e Lima (Região Metropolitana), mas cresceu e se desenvolveu a partir do Recife. Nós temos muitas pessoas que se destacaram, mas o Recife é uma cidade que precisa organizar melhor seu sistema esportivo.
Pensamos em alguns projetos para isso, como por exemplo, montar um calendário esportivo para a cidade, desenvolvermos ações na área esportiva e na área de esportes de rendimento para que a gente possa revelar e formar diversos atletas. Então, nós temos um conjunto de ações. A idéia central é estruturar um sistema de esportes para a cidade.
Do outro lado, temos o Geraldão – Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, uma autarquia municipal que é, sobretudo, um ícone para a cidade, que é uma referência para todos nós. Lá, aconteceram grandes shows musicais, era o preferido de Roberto Carlos, o Hollyday On Ice, e até shows com artistas internacionais.
Hoje ele é um equipamento deteriorado. Nós já estamos licitando um novo projeto de ginásio, um ginásio moderno, com infraestrutura moderna, com cadeiras, telões, climatizado, com uma situação nova. Nós queremos fazer com que esse ginásio volte a ser o que era e nós queremos fazer com que isso dialogue com uma situação nova no País, a situação de que o esporte pode oportunizar a realização de grandes eventos nacionais e internacionais no Recife. Já iniciamos o processo licitatório e nossa expectativa é de que o ginásio seja entregue à população até o final de 2014.
Nós temos esses três grandes desafios: organizar bem a Copa, levar a população para viver o ambiente da Copa; fazer com que o Geraldão se transforme e cumpra sua real vocação de ser um espaço de eventos esportivos e culturais da cidade e estruturar uma política de esportes no Recife. Isso tem de andar em paralelo para que nós possamos, ao final, prestar contas à cidade de um trabalho que tenho certeza será realizado a contento.
Entrevista concedida à jornalista Audicéa Rodrigues, do Recife