Avante!: Fundamentos da "austeridade" em causa
Os economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart, considerados os pais da base científica das chamadas políticas de “austeridade” impostas aos povos, responderam, na semana passada, à acusação de exclusão seletiva e manipulação criativa de dados no estudo intitulado “Crescimento em tempos de dívida”.
Publicado 03/05/2013 17:11
Em um artigo publicado no New York Times, os acadêmicos admitem “erros” na ponderação, rejeitam a sua colagem às orientações seguidas por diversos governos, e defendem, até, o perdão de parte das dívidas privadas e públicas nos países de economias periféricas.
O ex-economista-chefe do FMI e a sua companheira de investigação em Harvard, insistem, no entanto, na necessidade de implementação de reformas estruturais nos impostos e mercado de trabalho, e, sobretudo, no rigor do seu “desenho” para que não “atinjam de forma desproporcionada os mais desfavorecidos e a classe média”. Rogoff e Reinhart acusam igualmente os seus críticos de “politizarem a questão”.
Em suma, os autores de um estudo que, desde 2010, tem sido citado para mostrar os fundamentos acadêmicos das políticas de “austeridade”, alijam responsabilidades e não esclarecem a questão substantiva sobre o enviesamento dos dados incluídos na pesquisa, dúvida levantada por um aluno de doutorado da Universidade do Massachusetts, Thomas Herndon, e pelos seus professores, Michael Ash e Robert Pollin.
Herndon, Ash e Polin contestam a relação negativa estabelecida entre endividamento público e crescimento econômico, segundo no qual, o aumento do primeiro para valores acima dos 90 por cento do PIB resulta na contração do segundo a uma média de 0,1 por cento ao ano. Na verdade, afirmam o estudante e os docentes do Massachusetts que recriaram os cálculos efetuados por Rogoff e Reinhart para 20 economias desenvolvidas entre 1946 e 2009, a diferença de crescimento entre países com dívidas na ordem dos 90 por cento e países com dívidas inferiores é apenas de 0,1 por cento.
Herndon, Ash e Polin explicam que o “erro” está na exclusão pouco convencional de cinco países – Austrália, Bélgica, Áustria, Canadá e Dinamarca – e no afastamento seletivo da Nova Zelândia quando a sua dívida pública excedia os 90 por cento do PIB, mas a economia crescia, e, pelo contrário, a sua inclusão nas estatísticas quando o nível de endividamento era semelhante, mas a economia caía.