Greve Nacional: professores de Salvador promovem atos e debate

Trabalhadores da educação das redes estadual e municipal da Bahia realizaram um ato conjunto na Praça da Piedade, em Salvador, na manhã de quarta-feira (24), segundo dia de paralisação nacional da categoria. Apesar da forte chuva, todos estiveram unidos e firmes empunhando bandeiras de luta da categoria. Na manhã desta quinta (25), ocorreu um debate sobre o tema Carreira e Gestão.


Manifestação dos professores em Salvador / Fotos: APLB-divulgação

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), apesar da forte chuva, os professores e demais trabalhadores do setor estiveram presentes para reforçar as bandeiras de luta.

Os trabalhadores em educação receberam o apoio de outras categorias, além de representantes de entidades como a Fetrab e a CTB. O vereador Everaldo Augusto também participou do ato declarando seu apoio às manifestações e à categoria. O coordenador-geral da entidade Rui Oliveira, assim como outros diretores da APLB-Sindicato destacaram os rumos do movimento e incentivaram a categoria a continuar na luta em busca de um ensino de qualidade e melhores condições de trabalho.

Uma banda tocava marchinhas e um imenso bolo festivo marcou a comemoração aos 61 anos da entidade.

A greve é nacional e faz parte da 14ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública. A categoria defende: 100% dos royalties do petróleo para a educaçã; piso Salarial Profissional Nacional ; carreira; redução da Jornada; 10% do PIB para Educação, PNE Já; e aplicaão da Convenção 151 da OIT.

Primeiro dia

Em Salvador, a pauta de reivindicação foi entregue, ao poder público municipal, na quinta-feira (18) , mesmo dia da assembleia dos trabalhadores.

Na terça (23), primeiro dia de paralisação, os professores realizaram um ato público na Praça da Sé. A atividade estava agendada para acontecer na Praça Municipal, mas os manifestantes foram surpreendidos com a interdição do local, que amanheceu cercado por grades e guarnecido por forte aparato de segurança. Por isso, o ato foi transferido para a Praça da Cruz Caída (Praça da Sé), onde foram armados toldos, instaladas faixas e cavaletes e realizadas diversas atividades, com entrega de camisas, distribuição de lanches e apitaço.

Durante o ato, houve a distribuição de um manifesto dos educadores municipais à população e outro aos gestores municipais, Ministério Público, Conselho Municipal de Educação e imprensa reafirmando o atendimento às reivindicações da categoria sobre reajuste, plano de saúde, condições de trabalho, mais verbas para educação, e outros pontos.

Durante a manifestação, os participantes e a população em geral assinaram um abaixo-assinado em defesa da educação, que deverá ser entregue ao prefeito. Entre outros pontos, o documento exige providências sobre o péssimo estado das escolas, a falta de professores e coordenadores e a segurança e merenda escolar.

Abaixo, o Manifesto dos Educadores do Município de Salvador:

”A Educação é arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações.” (Kant)

Apesar do investimento na educação ter obtido um efetivo crescimento nos últimos anos, as evidências mostram que estamos longe de atingir o patamar desejável para a elevação da qualidade da educação pública. Exemplo disso é o fato de que o índice do analfabetismo permanece alto, considerando que 10% da população em idade de 15 anos ou mais não sabe ler ou escrever. Essa realidade coloca o Brasil em penúltimo lugar no desempenho educacional, ficando apenas à frente da Indonésia.

Em todos os cantos desse Brasil, o retrato é o mesmo: os baixos salários obrigam os profissionais da educação a buscarem dupla e tripla jornada, o que ocasiona uma sobrecarga de trabalho e, consequentemente, exaustão. Aliada a esse fato, esses profissionais se deparam com situações que eliminam o prazer de qualquer trabalhador exercer a sua função: as escolas, em geral, estão em péssimas condições de trabalho e o excessivo número de alunos nas salas de aula compromete o ensino-aprendizagem. Todos esses fatores provocam o adoecimento e, muitas vezes, o afastamento da docência.

Mesmo com as lacunas ainda existentes na política de universalização de um ensino de qualidade, as possibilidades para mudar essa realidade são concretas. Os educadores acreditam e lutam para que sejam adotadas políticas públicas que promovam a qualidade da educação com mais investimento, garantindo o aumento de verbas para esse setor.

No Município do Salvador, o cenário não é diferente dos outros Estados e Municípios. São inúmeras as denúncias oriundas da APLB-Sindicato em parceria com a comunidade escolar a respeito das escolas que não funcionam ou da precariedade das condições de tantas outras, que geram manifestações de desagrado: a constante falta de água; o costumeiro corte da energia elétrica; as crianças que não bebem água já que os bebedouros estão quebrados; a falta de segurança; o rodízio de turmas motivado pela insuficiência de carteiras para a quantidade de alunos; os parcos instrumentos de tecnologia para auxiliar os professores na sua prática em sala de aula; a carência de material escolar; o atraso ou o não envio às escolas dos produtos necessários ao preparo da merenda, alimento importante para um melhor rendimento escolar dos alunos, os atrasos do pagamento dos salários dos terceirizados para a realização das atividades-meio, tornando difícil o pleno funcionamento das escolas. Mais absurdo é a não convocação dos professores e coordenadores pedagógicos concursados quando há vagas na rede, deixando crianças em casa, sem estudar, ou indo à escola dia sim, dia não. Essa é a realidade das muitas escolas da nossa rede!

Está preconizado nos Parâmetros Curriculares Nacionais que é necessário o “esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade”.

Os profissionais da educação do Município do Salvador, ao tempo em que manifestam o seu inconformismo com a falta de prioridade para a educação e a desvalorização profissional, reafirmam o compromisso de continuar na luta por uma educação pública, laica, de qualidade e do resgate da valorização, pelo seu direito a um salário justo, ao espaço de formação e a uma carreira decente, enfim, pelo respeito como sujeitos de transformação.

Assim sendo, os educadores reafirmam as suas principais reivindicações:

• Destinação de 10 % do PIB

• Destinação de 100% dos royalties do petróleo para a educação

• Plano Nacional de Educação

• Manutenção do Piso Salarial Profissional Nacional

• Reserva da jornada de trabalho, conforme a Lei 11.738/2008;

• Manutenção da estrutura da tabela salarial

• Reajuste salarial no percentual de 10%

• Condições dignas de Trabalho

• Assistência à saúde para os educadores

• Convocação e nomeação imediata dos professores e coordenadores pedagógicos concursados

Salvador, 23 de Abril de 2013.

Fonte: APLB-Sindicato