“Queremos uma Justiça parelha para todos”, diz Cristina Kirchner
A presidenta Cristina Fernandez de Kirchner disse que a justiça “tem setores aristocratizantes que funcionam como um gueto” e assegurou que a decisão da Câmara Civil e Comercial sobre a Lei de Meios é “a ponta do iceberg, que revela a trama que funciona por baixo”.
Publicado 20/04/2013 13:25
Mais adiante, Cristina Kirchner se referiu à coluna de Mario Wainfeld, publicada na edição de quinta-feira (18) do Página/12, na qual o jornalista destaca que, entre os fundamentos da decisão de um dos camaristas signatários, Ricardo Guarinoni disse sentir-se insultado por “aqueles que ocupam transitoriamente cargos no Estado” (em alusão ao caráter vitalício do seu), e respondeu “transitórios, sim, mas eleitos pelo voto popular”. “Todos somos transitórios, mas há magistrados nunca removidos que tem uma ideia quase aristocratizante do Poder Judiciário. Por isso entram na Justiça os filhos, os amigos ou os recomendados pelos juízes e outros não podem entrar”, acrescentou, esclarecendo em seguida que tampouco deve se generalizar “porque é certo que na Justiça também há magistrados muito bons”.
Após uma teleconferência com Susana Trimarco, que inaugurou em Tucuman o primeiro jardim de infância para os filhos das vítimas do tráfico de mulheres e da prostituição, Cristina lembrou a inquietação que gerou a absolvição de todos os acusados pelo sequestro de sua filha, Marita Verón, e comparou seu caso com outros similares, entre eles o processo por lavagem de 5 bilhões de dólares “parada desde 2008”, no qual a Justiça não permite que a AFIP nem a UIF se constituam como querelantes. Também mencionou a expropriação do prédio da Sociedade Rural em Palermo, ação na qual o juiz privilegiou a SRA.
Além disso, assinalou o caso de um juiz de Córdoba acusado de delitos de lesa humanidade frente a quem “se escusaram 70 juízes alegando relações de amizade” com o processado e acrescentou que o preocupava muito mais que ainda tivesse “70 amigos” do que o processo em si mesmo. Também recordou o pedido de 130 milhões de pesos em impostos devidos pelo diário La Nación, ação freada há mais de dez anos por uma cautelar. “Tudo isso revela a trama que provoca atrasos incompreensíveis. A Lei de Meios demonstrou como essa trama funciona”.
Mais adiante, pediu à oposição um “debate sério e amplo”, lembrando seu próprio desempenho legislativo nos anos 90, em minoria ainda dentro do bloco do PJ, quando o Congresso aprovou a privatização do Banco Hipotecário. “Sei o que é ser minoria e estar sozinha quando, na verdade, não havia oposição”, disse, acrescentando que “para obter verdadeiros consensos é preciso começar pelos pontos sobre os quais estamos de acordo”.
Além disso, a mandatária exortou a oposição a “ter um espírito propositivo e debater”, porque entre nós “temos que fazer um esforço para melhorar a Argentina”. “Para conseguir um consenso, a primeira coisa que devemos fazer é falar das coisas sobre as quais estamos de acordo. E alguém pode dizer que o Judiciário não precisa de reforma? Esse pode ser o primeiro acordo, em vez de negar-se à discussão e ao debate”.
Fonte: Carta Maior