A saúde pública em porto Alegre: desafio cotidiano

Há 30 anos, quando eleita pela primeira vez vereadora de Porto Alegre, fui, juntamente com o vereador Carlos Lustosa, autora da proposta de criação da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara de Porto Alegre. Hoje, a Cosmam é uma das mais destacadas comissões da Casa e tem forte atuação junto ao poder público e ao controle social. Na Comissão se expressam os desafios cotidianos dos porto-alegrenses que apontam a saúde como sua principal preocupação.

Como farmacêutica de formação, militante da Reforma Sanitária, do processo de construção do SUS na VIII Conferência Nacional de Saúde e no Congresso Nacional, como depoente da União de Vereadores do Brasil e na Assembleia Nacional Constituinte, contribuí para a construção do SUS, um sonho que ainda estamos buscando concretizar na vida das pessoas.

No mês em que celebramos o Dia Mundial da Saúde (07/04), há que se dizer, sim, que existem entraves para a construção da maior política pública de inclusão do Brasil. Cito, como exemplos, a articulação ineficiente dos gestores em unidade e em transversalidade com outras políticas públicas garantidoras de qualidade de vida; a falta de acesso à prevenção e ao tratamento de doenças como diabetes, hipertensão, câncer e doenças transmissíveis; a falta um pré-natal humanizado; as deficiências crônicas na territorialização da saúde e na oferta de serviços, bem como na regionalização e regulação do sistema de saúde.

Devemos perguntar: em Porto Alegre, o SUS que temos é o SUS que merecemos? Acredito que não! A nossa realidade é a de postos de saúde fechados em feriados e a de falta de profissionais. Há que mudar essa realidade através da centralidade na implementação da Estratégia de Saúde da Família e abertura dos postos 24h. Porto Alegre tem cobertura de apenas 45% pelas Equipes de Saúde da Família. Precisamos chegar a 100%, porque saúde não tem data, não tem hora. Doença não espera.

Saúde de qualidade precisa gestão pública planejada e articulada entre União, Estados e Municípios. Precisa de garantia de direitos aos profissionais que cuidam da saúde dos cidadãos. Isso significa jornada de 30h semanais, plano de cargo, carreira e salário, e formação e capacitação permanentes.

Saúde é direito humano e não pode ser submetido ao abismo que existe entre a propaganda do teleagendamento e da suposta informatização do sistema de saúde de Poro Alegre, e a banalização da dor das pessoas que, além de encararem madrugadas em filas em busca de atendimento, são, como trabalhadores, os principais financiadores do SUS.

Jussara Cony
Vereadora PCdoB e vice-presidente da Cosmam