PA: Semana pela Memória homenageia Guerrilha e exibe documentário
A Semana Paraense pela Memória e Direitos Humanos encerrou-se no último sábado (13) com a exibição do documentário "Araguaia-Campo Sagrado", de Evandro Medeiros, no Cinema Olympia, o mais antigo em funcionamento no Brasil. O evento, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia (Pa-Ap) e Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça fez justa homenagem ao 41º aniversário da Guerrilha do Araguaia.
Por Paulo Fonteles Filho, em seu blog
Publicado 15/04/2013 10:22
A película, cuja narrativa aborda os duros acontecimentos da invasão militar ao sul do Pará para sufocar o mais importante evento de resistência ao regime dos generais, organizada na clandestinidade pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB) entre 1972 a 1975, é contundente pelos depoimentos de camponeses, ex-mateiros e soldados que atuaram naquele episódio.
A insubmissão araguaiana é conhecida tanto pelo heroísmo dos guerrilheiros como, também, pela violência desmedida da repressão política contra brasileiros, sejam militantes políticos que lutavam pelo restabelecimento das liberdades públicas, seja contra indígenas e camponeses, vítimas quase sempre anônimas no enredo dos acontecimentos. Houve, seguramente, mais de 350 mortes até a debacle do movimento comunista. Tais números, mórbidos, excedem em muito a história contada até aqui.
O filme, de cinquenta minutos, promove o segundo encontro, agora imagético, das figuras do ex-mateiro Sinésio Martins, já falecido, e do guerrilheiro-camponês, Jonas. O primeiro encontro de ambos se deu nas matas fechadas e ali, em 24 de novembro de 1973, na região do Pau Preto, São Geraldo, é morto o guerrilheiro, o "Ari". Ambos estavam lá, de armas nas mãos, em lados opostos e, cada um a sua forma, narram o fato que fora encerrado com o corte de cabeça daquele insurgente, ainda desaparecido.
Outro aspecto contundente do documentário é a denúncia do assassinato do ex-mateiro Raimundo Clarindo do Nascimento, o "Cacaúba", em junho de 2011. Tal rastejador, um dos mais importantes na caçada militar no Araguaia, silenciou por mais de trinta anos e apenas em maio daquele ano é que começou a falar o que sabia. Em fins de junho apareceu morto depois da visita do Major Curió na Serra Pelada, onde morava. Excluído da reunião dos ex-guias com o antigo chefe, revelou saber que sua vida estava em risco. Na época denunciei o ocorrido num artigo, "Relatos de um homem morto".
O inquérito aberto pela polícia civil paraense concluiu que o "Cacaúba" fora morto por latrocínio, roubo seguido de morte. Ocorre que aquele homem vivia em absoluta pobreza e ganhava os poucos tostões vendendo bananas num dos lugares mais miseráveis do país brasileiro.
Evandro Medeiros que, além de cineasta é professor do Campus de Marabá da Universidade Federal do Pará (UFPa) revela a descoberta de uma oração escrita de próprio punho por Osvaldo Orlando da Costa, o lendário "Osvaldão", e que por muitíssimos anos foi guardada, em segredo, por uma camponesa em São Geraldo do Araguaia/PA. Através de seu filme podemos ver a letra do comandante negro das matas, verdadeiro herói de nossas liberdades públicas.
O filme, pulsante, recorta as tradições religiosas da festa do Divino Espírito Santo, na Serra dos Martírios/Andorinhas, que revela um Brasil culturalmente profundo com suas ladainhas e bandeiras e, através da narrativa de Euclides Pereira de Souza, o "Beca", podemos compreender o suplício de milhares de homens e mulheres atingidos pelos golpistas que assaltaram o poder em 1964.
Em seguida a exibição do filme realizou-se um debate com as presenças do próprio Evandro Medeiros, de Paulo Fonteles Filho, pelo Comitê Paraense, além do jornalista Ismael Machado, que com um conjunto de artigos sobre o Major Curió foi laureado com o prêmio de direitos humanos Vladimir Herzog.
Veja abaixo o documentário em cinco partes: