Aldo Rebelo: “Amazônia não é colônia do Brasil”
Comandante do Ministério do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), 57 anos, garante a realização da Copa em Manaus, afirma que obras locais estão andando dentro do prazo e terá conversa com o governador Omar Aziz (PSD) e com o prefeito Artur Neto (PSDB) sobre as demandas em torno da Arena da Amazônia, que está com 57,5% do projeto concluído, durante a inspeção técnica programada para a próxima quinta-feira (18) na cidade.
Publicado 15/04/2013 10:42
A Arena da Amazônia já consumiu R$240 milhões via empréstimos. Os organizadores locais reclamam da burocracia na liberação de recursos, tendo em vista os prazos e as exigências de qualidade no caderno de encargos da Fifa. “Manaus está garantida na Copa. Não existe risco nenhum para a capital amazonense sobre o evento. A Arena da Amazônia está dentro do prazo que estabelecemos para o Mundial, que é dezembro de 2013. Vou cumprir todos os compromissos assumidos com o governo do Amazonas”, assegurou o comunista, em entrevista exclusiva ao Craque nesta sexta-feira (12).
As declarações do ministro servem para dirimir dúvidas sobre o maior evento do esporte bretão no planeta na capital amazonense: volta e meia surgem fofocas sobre as cidades-sedes Cuiabá e Manaus quanto ao ritmo das obras na relação com os prazos estabelecidos pela Fifa.
“A Arena da Amazônia, a de Curitiba, a de Porto Alegre, a de Cuiabá estão no mesmo ritmo de obras, em torno de 50% concluídas. Somente o Itaquerão (Corinthians) é que está 70% acabado, mas porque o prazo estabelecido foi outubro deste ano. Tudo está no prazo e precisamos continuar nesse ritmo. Esse é o compromisso”.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
O Ministério do Esporte recebe sempre relatórios sobre o andamento das obras mas o senhor faz questão de vir pessoalmente às visitas de inspeção. É uma forma que o senhor tem de cobrar com maior veemência as obras?
Aldo Rebelo: Fazer cobrança não é minha pretensão. Chegarei aí (em Manaus) de quarta (17) para quinta-feira (18) para uma visita técnica de inspeção das obras e também para uma conversa geral com o prefeito, com o governador, com os responsáveis diretos pela obra sobre os obstáculos e avanços. Entendo que nada substitui uma visita. O relatório, por exemplo, não tem o dinamismo de uma inspeção in loco. A presença faz com que você tenha uma relato mais fiel da obra, você pode avaliar com mais precisão as demandas.
O Estado já contraiu dívida na ordem de R$ 240 milhões com empréstimos para tocar as obras da Arena em tempo hábil. Os gestores reclamam da burocracia para a liberação de recursos em função exatamente dos prazos estabelecidos pela Fifa. De que forma o Governo Federal pode ajudar?
AR: Vou honrar com todos os compromissos que assumi com o governo do Estado. O governo tem ajudado e trabalhado no sentido de facilitar a liberação dos recursos. Vou dar uma olhada com calma nessa questão dos empréstimos. Temos o maior interesse em facilitar o trabalho dos organizadores para termos uma grande Copa do Mundo no Brasil. O Mundial é um empreendimento da prefeitura, do Estado e do governo federal, que é o maior interessado. Vou conversar com o governador e o prefeito e analisar a questão.
Volta e meia surgem comentários de que Manaus e Cuiabá ficarão fora da Copa pelo andamento das obras. Há risco de isso acontecer?
AR: Esse risco não existe. Isso é fruto da divagação de quem não conhece os fatos ou então de quem deseja que isso não aconteça. Eu fico indignado com esse tipo de situação. Há uma parte da imprensa do Sudeste que conhece mais Miami, a Europa, que Manaus. Eles não tem noção da tradição do futebol local, da força econômica do Estado, da dimensão da Amazônia. Infelizmente, ficam dando opinião sobre o que desconhecem.
Naquele episódio da tensão com o jornalista Mauro Cézar Pereira, da ESPN, no Roda Viva, o senhor falou com conhecimento de causa sobre a Amazônia, sobre o futebol amazonense…
AR: Conheço a Amazônia. Ando por ali faz ao menos 30 anos. Sei das dificuldades da vida longe do Sudeste, onde há uma melhor infraestrutura. Alguns pensam a Amazônia como uma colônia do próprio País. A Amazônia faz parte do Brasil. A vezes eu fico indignado com pessoas que só olham para o seu umbigo, vivem viajando para a Europa, para Miami, mas querem fazer regras sobre o que deve ser feito na Amazônia. Eles não conhecem, por exemplo, a representatividade social e a força popular do Peladão (campeonato de pelada amador promovido anualmente pela RCC). É preciso um jornalista inglês vir aqui e mostrar para eles. É pura ignorância sobre a questão do regionalismo.
E sobre o futebol amazonense?
AR: Essa questão do regionalismo do futebol eu sempre achei importante valorizar, estudar, conhecer. Muito antes de ser ministro, eu já conhecia o futebol do Amazonas, desde a década de 1970. Sou palmeirense, todos sabem, mas não posso resumir meu conhecimento ao futebol paulista. Sei da tradição de um Rio-Nal (clássico entre Rio Negro e Nacional), uma das rivalidades históricas do futebol brasileiro. Esses times não apenas lotavam os estádios, mas revelavam grandes jogadores. Os clubes também tinham condição de trazer grandes craques.
O senhor tem carinho especial por algum clube local?
AR: Não. Conheço a história dos quatro principais clubes, mas com distanciamento. Rio Negro, Nacional, Fast Clube e o São Raimundo são os mais conhecidos. O São Raimundo ganhou notoriedade nacional após conquistar a Copa Norte (1998/1999 e 2000). Rio Negro e Nacional têm uma tradição mais antiga. O Fast Clube fez um jogo histórico com o Cosmos, na década de 1980. Cada um tem sua importância no futebol amazonense.
Por que o senhor defende a participação do Governo Federal na CBF?
AR: Entendo que o futebol é uma atividade profissional, mas de interesse público. Então o governo federal deve estabelecer por lei um mecanismo de fiscalização das entidades que gerem o futebol nacional e nos Estados. Há que se estabelecer regras para a gestão profissional dessas entidades, como limite de tempo e quantidade de mandato, dar maior transparência aos investimentos, gastos, custos, e no próprio processo de escolha do comando da CBF e das federações. A presidente Dilma Rousseff estuda com carinho essa questão.
Fonte: A Crítica, de Manaus