Liderança denuncia rapto de trabalhadores em greve em Belo Monte
A denúncia foi feita por uma das lideranças, segundo ela, dois seguranças patrimoniais do Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) e dois guardas da Rotam mantiveram em cárcere privado três lideranças da greve dos trabalhadores dos canteiros de obras da barragem de Belo Monte (Pará) na madrugada dessa quarta-feira (10).
Publicado 12/04/2013 16:57
O trabalhador em questão pediu para não ter seu nome publicado por questão de segurança. Alojado no canteiro de Belo Monte, que se mantém em greve desde sexta-feira (5), ele foi surpreendido pelos seguranças às 4h da manhã quando saía para continuar a paralisação.
Nesse percurso, sofria violência psicológica. “Diziam que eu era uma ameaça direta e que só iam nos soltar se acabasse a greve”, denunciou. “Também falavam que eles compravam quem quiserem porque é o CCBM que manda em Altamira.”
O trabalhador pretende voltar a Altamira e denuncia as condições de trabalho dentro do canteiro de obras da barragem. Ele enumerou alguns exemplos de violações de direitos: “Um pai de família quebrou a perna e não deixaram sair, dizendo que não era nada. Um outro que o pai faleceu não pôde viajar para o enterro. Muitos trabalham sem o adicional noturno.”
De acordo com o trabalhador, o Ministério Público já entrou em contato e pretende resgatá-los. Os três operários estão alojados em diferentes hotéis de Santarém (PA).
Greve
Os trabalhadores estão en greve desde sexta-feira passada (5), quando uma revolta paralisou as obras da hidrelétrica de Belo Monte em dois canteiros: Pimental e Belo Monte, na região de Altamira (PA). A paralisação atingiu cerca de 5 mil operários.
No início desta semana, o canteiro Pimental voltou aos trabalhos, mas Belo Monte continuou a paralisação, apesar do Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM) afirmar que as obras tinham voltado em todos os canteiros.
Na noite de ontem (10), duzentos trabalhadores em greve marcharam desde o canteiro de obras até a cidade de Altamira. Eles foram acolhidos em um espaço da igreja. Na manhã dessa sexta-feira, fizeram um ato público em frente à Casa de Governo e ao Ministério do Trabalho para reivindicar seus direitos.
Os trabalhadores reivindicam o pagamento do adicional de 40% para os que são alojados no canteiro (uma promessa do Consórcio Construtor de Belo Monte), intervalo de baixada de 90 dias para todas as categorias e o fim do sistema “5 por 1”, em que as folgas caem em dias aleatórios e aqueles que trabalham aos fins de semana não recebem hora extra.
Os operários que não ficam alojados nos canteiros recebem um adicional de 20% referente ao tempo de deslocamento da cidade de Altamira até os locais de trabalho, que pode ultrapassar duas horas. Com a conclusão dos alojamentos, os trabalhadores perdem esse efetivo, além de serem privados da convivência na cidade. Por isso, estão exigindo que o consórcio cumpra sua promessa e pague as chamadas “horas confinamento”.
O problema se dá em especial com os trabalhadores que migraram de outras regiões do país para trabalhar na obra, mas também preocupa trabalhadores de cidades vizinhas, como Brasil Novo, que deixarão de contar com transporte diário, sendo forçados a se mudarem para o canteiro e ver seus familiares apenas uma vez por semana. Os residentes em Altamira, a princípio, continuariam contando com o transporte.
Força Nacional dentro do canteiro
Os trabalhadores também denunciam os problemas decorrentes da presença da Força Nacional no ambiente de trabalho. Há um efetivo instalado dentro do canteiro de obras desde o final do mês de março, por determinação do Ministério da Justiça, após a ocupação do canteiro por indígenas e ribeirinhos. A previsão de permanência é por 90 dias, prorrogáveis, sob desculpa de evitar ocupações de manifestantes que possam motivar paralisações.
Trabalhadores relataram serem tratados pela Força Nacional “como bandidos”, em especial nos dias de folga. Grevistas denunciaram que, durante a paralisação, a Força bloqueou os acessos aos canteiros e forçou os trabalhadores rebelados a entregarem seus cartões de identificação, para que fossem encaminhados ao RH e demitidos. Até trabalhadores que não tinham relação com o movimento também tiveram seus documentos confiscados. "Muita gente inocente vai rodar com essa história", denunciou um encarregado. Ao menos 450 trabalhadores foram demitidos, segundo estimativa do Sindicato da Construção Leve de Altamira.
Na manhã deste sábado (6), ao menos um trabalhador foi preso e algemado, aparentemente por recusar-se a entregar seu cartão de identificação. A Força Nacional também ameaçou prender dois integrantes do Sindicato da Construção Leve de Altamira que estavam no local. Eles receberam um interdito proibitório e não podem mais pisar no canteiro.
A Força Nacional está sendo abertamente empregada para garantir o andamento das obras de barragens no Pará. A situação ocorre não apenas em Belo Monte, mas também na região do rio Tapajós, onde um efetivo de 250 homens foi designado para impor os estudos do Complexo Hidrelétrico Tapajós às terras dos índios Mundurukus.
Além disso, ontem foi autorizado o envio de tropas da Força Nacional para atuarem nas regiões das usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, por um prazo de 180 dias, para "garantir a incolumidade das pessoas, do patrimônio e a manutenção da ordem pública”. Os 28 mil trabalhadores das duas usinas estão em greve desde o início desta semana.
O Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM), formado pelas empreiteiras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Odebrecht, entre outras, anunciou que negocia apenas com o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada do Pará (Sintrapav), que não está participando das mobilizações.
Trabalham atualmente cerca de 20 mil pessoas nos canteiros de Belo Monte. A previsão é que, com o pico da obra, ainda este ano o número de contratações chegue a 28 mil.
Fonte: Brasil de Fato