Chuva de povo colore ruas de Caracas no último comício de Maduro

Pela primeira vez em mais de uma década, a Venezuela realiza uma eleição sem a presença de Hugo Chávez, falecido no último 5 de março. A ausência do impulsionador da Revolução Bolivariana, no entanto, não diminuiu o entusiasmo popular pelo processo transformador que vive o país. Sete avenidas em Caracas ficaram completamente tomadas de pessoas que, conscientes, declararam, através de Nicolás Maduro, apoio à continuidade da revolução socialista.

Por Vanessa Silva*, de Caracas

Mamáyniño - Joka Madruga/ComunicaSul

Como um carnaval popular, mães, crianças, pais, trabalhadores, estudantes, jovens e idosos saíram às ruas para celebrar, dançar e fazer política. Vestidos de vermelho, com maquetes de ônibus e bigodes, os venezuelanos demonstraram, criativamente, seu apoio a Maduro. Desde as primeiras horas da manhã as pessoas começaram a chegar a Caracas para apoiar o candidato da revolução e manifestar seu amor a Chávez. O percurso de quase dois quilômetros da avenida Bolívar não podia ser vencido em menos de duas horas de caminhada. No palco, a presença do argentino Diego Maradona reforçou o caráter internacional desta eleição.

“É a primeira vez na história da revolução bolivariana que chegamos a esta avenida sem ele. Este é o povo de Chávez. O imperialismo e a burguesia parasitária da Venezuela creem que a revolução acabou com a morte do Comandante, que o chavismo acabou”, disse Maduro ao abrir o comício. Nas ruas de Caracas estava a prova de que não acabou: “Chávez somos cada um de nós”, diziam as diversas camisetas vermelhas que coloriam as ruas da capital.

“Todo 11 tem seu 13 e terá seu 14”

O golpe foi um despertar da consciência das pessoas não só na Venezuela, mas a nível mundial. Um despertar para a Justiça, para o socialismo. Por isso temos que defender nossa revolução. (Luis Antaya, 41 anos, trabalha com artes gráficas)
 

O ato de encerramento da campanha foi realizado no dia de aniversário do golpe de Estado que tirou Chávez do poder por dois dias em 2002. Na Venezuela há uma expressão conhecida: “todo 11 tem seu 13” porque com a manifestação popular, Chávez voltou nas mãos do povo para o poder e seguiu a transformação do país. Agora, a eleição de Maduro ganha também um significado emblemático porque é a garantia de continuidade do processo iniciado por Chávez em 1998.

Joka Madruga/ ComunicaSul

Milhares nas ruas para saudar Nicolás Maduro


O legado de Chávez

A maior conquista de Chávez foi recuperar a pátria, foi conquistar nossa segunda independência . Ele deu valor aos nossos símbolos pátrios. (Wilmer Escalona, 43 anos, trabalha em uma cooperativa em Caracas)

Diferentemente do que ocorre em outros países progressistas, as conquistas da Revolução Bolivariana estão garantidas pela Constituição aprovada nos primeiros anos do governo de Hugo Chávez. “Esta Constituição é seu maior legado. Ela não caiu do céu, foi convocada pelo comandante, foi eleita pelo povo. É a primeira na história da América e do mundo a ser aprovada pelo voto popular”, lembrou Maduro.

Formação e cidadania

O sonho que Chávez nos deixou ninguém vai tirar. Ele nos deixou uma pátria, uma consciência. Deu cidadania às crianças, aos idosos, às mulheres. Na Venezuela, as mulheres já não estão abaixo dos homens. (Lobelia Escobar, 72 anos, professora de história)
 
Joka Madruga/ ComunicaSul

"Estamos nas ruas porque Chávez nos disse que governássemos com ele e nas ruas". (Lobélia Escobar)

“Chávez protegeu os desvalidos, entendeu que não pode haver democracia sem povo. Hoje, na Venezuela, temos uma democracia mobilizada, uma liberdade absoluta das ideias, do debate, da política”, afirmou Nicolás.

“E de fato estamos mobilizados, e eu vi com meus próprios olhos os mais de sete milhões de venezuelanos nos atos de massa que fizemos em todo o país. Isso significa protagonismo, poder popular. O fato de a oposição vir até a avenida Bolívar, realizar atos em seis, sete estados, significa o quê? Que isso é uma ditadura, ou uma democracia fortalecida? Significa que isto é uma democracia verdadeira, viva, fortalecida”, ressaltou o candidato.

Integração latino-americana

Chávez deu um novo sentido para a América Latina e o Caribe. Fundou a Alba [Alternativa Bolivariana para os povos de Nossa América]. Ele é um novo amanhecer para a América Latina, criou a Celac [Comunidade dos Estados Americanos e Caribenhos], a Unasul [União de Nações Sul-americanas]. Trabalhou a integração latino-americana porque o povo do mundo tem que se unir para enfrentar o imperialismo. (Lobélia Escobar)
 

Outra característica do presidente Chávez é que ele “formou o povo para o grande. Quanta coisa fez o comandante pela pátria grande. Ele mudou a história da Venezuela e da América Latina, inaugurou uma época de inclusão, de participação das maiorias excluídas”, afirmou Maduro.

O candidato socialista lembrou que no próximo dia 28 de junho, em Montevidéu, já eleito pelo povo, assumirá a presidência pró-tempore do Mercado Comum do Sul (Mercosul), e ressaltou que esta “será uma oportunidade de crescimento para a nação caribenha”, frisou. A Venezuela ingressou no Mercosul como parte das políticas integracionistas de Chávez.

Joka Madruga

Diego Maradona: El Pibe argentino amigo da Revolução

Desestabilização

Chávez nos deixou a pátria. O futuro é hoje, não é amanhã e por mais que o imperialismo tente, não voltarão! Querem sangue, mas não conseguirão. Estamos alerta e vamos seguir, vamos defender o legado que o presidente nos deixou com nossa própria vida, se preciso. (Lobélia Escobar)
 

Com a iminência de uma derrota nas urnas, a oposição tem tentado desestabilizar o país, como vem sendo denunciado desde o anúncio da convocação das novas eleições pelo governo venezuelano. Durante o comício, Maduro anunciou que foram capturados na manhã desta quinta-feira “vários militares colombianos com fardas venezuelanas. Estavam preparando um ato de desestabilização. Digo ao povo para que estejamos muito alerta com muita fé e confiança porque temos um governo que se respeita e temos um governo unido”, garantiu.

“Estamos preparados para o que vier. Chamamos a classe trabalhadora, os homens e as mulheres dos bairros. Chamo os grupos populares, coletivos. Alerta máximo. Não caiam em provocações, nos mantenhamos em paz.” O ex-chanceler do país alertou para a possibilidade de que o candidato da oposição, Henrique Capriles, reclame fraude eleitoral e não reconheça o resultado das eleições. “Estão se preparando para desconhecer os resultados eleitorais. Eles sabem da verdade. Sabem que Maduro vai ganhar domingo com 10 milhões de votos, com pelo menos 15% de diferença. Isso é o que dizem as pesquisas, é o que diz o povo consciente. Estão seguros da vitória. Eu também.”

“Se este senhorzinho se atrever a desconhecer o resultado e a atender à Constituição, chamo o povo para se converter em massa para derrotar o novo Pedro Carmona”, garantiu Nicolás.

ComunicaSul

Mar vermelho e socialista

Medidas do novo governo

Maduro, eleito, deve enfocar na classe trabalhadora. Somos um motor que move o país. (Luis Antaya)
 

Ao contrário da oposição que não apresenta um plano claro de governo, Maduro afirma que dará continuidade ao Plano da Pátria escrito por Chávez como diretriz do seu governo, distribuído e debatido entre o povo. “Vocês se perguntarão o que farei quando for presidente; eu vos digo. Vou fazer o plano da pátria escrito por Chávez”, disse Maduro, que anunciou os seis projetos de seu governo:

1) “Vou perseguir a corrupção sem piedade. Com a missão Eficiência ou Nada, declararemos morte à corrupção.” Para isso, irá criar um corpo especial e secreto de investigações;
2) “Faremos as micromissões que irão apoiar a recuperação de alguns objetivos como por exemplo: se temos um hospital que esteja em más condições, militares começarão a trabalhar para deixá-lo recuperado, organizado internamente, funcionando bem em sua estrutura;”
3) Anunciou a criação do sistema de missões Hugo Chávez “para revisar e fortalecer o sistema socialista de missões. Nossa meta são três milhões de moradias; três milhões de aposentadorias; todos os hospitais recuperados na missão bairro adentro e Mercal (sistema de venda de comida subsidiado pelo governo) em 90% dos bairros”;
4) No âmbito econômico, ”fortaleceremos a economia com investimentos para gerar emprego e manter o crescimento. Temos que controlar a inflação especulativa e garantir os direitos sociais. Também garantiremos as pensões para os idosos, porque nosso presidente Hugo Chávez deixou as contas do Estado fortalecidas; acabo de aumentar o salário mínimo em 45% e Capriles diz que vai aumentar 200%. É um irresponsável. Não sabe o que é um salário porque nunca trabalhou”.
5) Quanto ao gargalo elétrico, afirmou que vai “reestruturar de ponta a ponta o sistema elétrico porque estão nos sabotando de dentro. Com a Grande Missão Eletricidade, eu como presidente vou declarar esta como sendo uma questão de segurança de Estado e iremos militarizar para garantir o serviço. Já temos mais de 30 pessoas presas que estavam sabotando o sistema”.
6) Fortalecimento do poder popular: “Uma das tarefas que nos deixou o Comandante é o fortalecimento da comuna, dos conselhos comunais, dos sindicatos classistas, dos conselhos de trabalhadores, do movimento estudantil, juvenil, cultural, artístico, camponês, e do poder popular. E é isso que faremos”.
7) Anunciou ainda o caráter itinerante de seu governo: “O ônibus da pátria percorrerá todos os estados do país para que o trem executivo se instale em cada entidade por uma semana, com o objetivo de atender diretamente os problemas da população e fazer um levantamento das condições viárias e assim executar um plano de infraestrutura para a área”.
 

União

Nós todos somos Chávez. Um só não vale nada. Só todos juntos. Nós dois somos chavistas e vamos lutar por nossa revolução. Não conseguirão nos dividir. O que temos aqui é uma união cívico-militar e vamos governar com Maduro, nas ruas. (Lobélia Escobar)

Ressaltando a união, Maduro mandou uma mensagem aos que votaram e votam na oposição: “Quero ser o presidente que desperte a consciência dos compatriotas que nos odeiam. Venham para cá para ver como é o amor do povo. Venham para cá. Venham fazer pátria conosco. Convido as famílias de classe média que nos odeiam. Convido com meu coração. Como São Francisco de Assis: Onde tiver ódio, permita-me colocar o amor. Serei presidente da República e quero ser seu presidente também. Este burguês [Capriles] não te quer, nunca te quis.”

Joka Madruga/ComunicaSul

Sorrisos com Maduro

Vitória

Maduro é um homem humilde, um trabalhador, homem nobre. Será muito importante que um trabalhador chegue ao Miraflores, e não estará sozinho. Temos confiança plena em Maduro. Todos juntos somos Chávez! Todos juntos somos invencíveis e a Revolução é irreversível. (Lobélia Escobar)

“Tudo na vida tem a sua hora. Há momento para viver, para sofrer e há momentos para vencer. Eu declaro aqui, diante de sete avenidas, três milhões de venezuelanos nas ruas, que serei presidente. Mas para isso eu preciso de ajuda. Preciso da ajuda das mulheres da pátria, de todos”, disse Maduro ao pedir que as pessoas saiam cedo para votar no domingo (14).

“Não estou aqui porque sou um ambicioso. Não estou aqui porque represento um grupo internacional vinculado ao imperialismo. Não estou aqui porque tenho cheques da burguesia caraquenha. Jamais pedi nada. Minha única aspiração era ver uma pátria livre e socialista”, se autodefiniu o candidato.

“Juro, ao lado dos meus filhos, mulher e netos, que quando deixar de ser presidente, serei lembrado por vocês como um homem honrado que trabalhou por todos, pela pátria. Juro por ele [Chávez], que não falharei. Que Viva a pátria! Hasta la Victória Siempre!”

* Vanessa Silva é jornalista, enviada especial do Vermelho a Caracas, e integrante do ComunicaSul

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