"Críticos da política de cotas estavam errados", diz deputado
Para o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA), a reportagem da revista Isto é um “verdadeiro tapa no preconceito” ao mostrar casos concretos de estudantes negros que adentraram na universidade e hoje estão no mercado de trabalho, exercendo profissões e cargos antes restritos. Em referência à matéria “As cotas deram certo”, o deputado afirmou que os “os críticos e defensores do fim da política de cotas estavam errados”.
Publicado 10/04/2013 17:45
“O que faltava era oportunidade, e isso a política de cotas garante. São estudantes que estão nas universidades que buscam a educação superior para melhorar a qualidade de vida de toda a família. Muitos deles são – ou serão – os primeiros na família a ter ensino universitário completo”, completou o deputado durante discurso em Brasília.
Segundo Valmir, o racismo no Brasil é um problema sério. “Basta olhar ao nosso redor: apesar de sermos maioria na população brasileira, são poucos os políticos negros nesta Casa e no Senado Federal. Na TV, a população negra, na grande maioria das vezes, não é representada”, disse.
Leia abaixo o discurso do deputado federal na íntegra:
Senhor (a) Presidente, Senhores Deputados e Senhoras Deputadas,
Para os que desmerecem a importante política afirmativa de cotas nas universidades, a revista Isto é Independente desta semana vem coma reportagem que é um verdadeiro tapa no preconceito. A matéria Por que as cotas raciais deram certo no Brasil traz o sucesso da política em vários casos concretos de estudantes negros que adentraram à universidade e hoje estão no mercado de trabalho, exercendo profissões e cargos antes restritos a uma elite branca.
A mesma revista, em 2008, publicou uma entrevista da procuradora e ex-assessora do ministro Marco Aurélio Mello, Roberta Fragoso Kaufmann, em que defendia o abandono do sistema de cotas no Brasil, por que, segundo ela, o governo queria desunir o que está unido e importa um problema que não é nosso, que é o problema da segregação racial. Cinco anos depois, a revista mostra o contraditório: Para os apocalípticos, o sistema de cotas culminaria numa decrepitude completa: o ódio racial seria instalado nas salas de aula universitárias, enquanto negros e brancos construiriam muros imaginários entre si. A segregação venceria e a mediocridade dos cotistas acabaria de vez com o mundo acadêmico brasileiro, diz a revista. Nada disso aconteceu, como bem disse a reportagem. E os críticos e defensores do fim da política de cotas estavam errados.
Os resultados de todas essas políticas também podem ser constatados na pesquisa recente feita pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, que com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar do IBGE, constatou que dos 36 milhões de brasileiros que ingressaram na classe média durante os últimos dez anos, 75% eram negros.
Com isso, a participação dos negros na classe média subiu de 38% em 2002 para 51% em 2012.
A revista traz uma importante afirmativa: As cotas raciais deram certo porque seus beneficiados são, sim, competentes. Merecem, sim, frequentar uma universidade pública e de qualidade. Os dados de corte no vestibular dos cotistas são equiparados aos níveis normais, o desempenho dentro da universidade é satisfatório, quando não se saem melhor que os não beneficiários.
A Isto é Independente traz a pesquisa da Uerj, pioneira na adoção do sistema de cotas. A Universidade carioca analisou as notas de seus alunos durante 5 anos. Os negros tiraram, em média, 6,41. Já os não cotistas marcaram 6,37 pontos. Caso isolado? De jeito nenhum. Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que também é referência no País, uma pesquisa demonstrou que, em 33 dos 64 cursos analisados, os alunos que ingressaram na universidade por meio de um sistema parecido com as cotas tiveram performance melhor do que os não beneficiados. E ninguém está falando aqui de disciplinas sem prestígio. Em engenharia de computação, uma das novas fronteiras do mercado de trabalho, os estudantes negros, pobres e que frequentaram escolas públicas tiraram, no terceiro semestre, média de 6,8, contra 6,1 dos demais. Em física, um bicho de sete cabeças para a maioria das pessoas, o primeiro grupo cravou 5,4 pontos, mais dos que os 4,1 dos outros (o que dá uma diferença espantosa de 32%.
Senhoras e senhores, o que faltava era oportunidade e isso a política de cotas garante. São estudantes que estão nas universidades que buscam a educação superior para melhorar a qualidade de vida de toda a família. Muitos deles são – ou serão – os primeiros na família a ter ensino universitário completo.
Deixo a matéria anexada e parabenizo a reportagem. As transformações são profundas e visíveis. Há 15 anos, segundo a revista, apenas 2% deles tinham ensino superior concluído. Hoje, o índice triplicou para 6%. Notem que a evolução ainda é irrisória, o que nos faz concluir que a política afirmativa precisa ser intensificada.
Sim, senhoras e senhores, o racismo no Brasil ainda é um problema sério. Basta olhar ao nosso redor: apesar de sermos maioria na população brasileira, são poucos os políticos negros nesta Casa e no Senado Federal. Na TV, a população negra, na grande maioria das vezes, não é representada.
Os números mostram que a juventude negra está sendo exterminada: a cada três assassinatos, dois são de pessoas negras, o que mostra que a nossa segurança pública ainda é voltada para a proteção de uma elite branca; na Paraíba são mortos 1.083% mais negros do que brancos. Na Bahia, meu estado, os assassinatos de negros superam em 439,8% os de brancos.
Temos ainda muito que realizar. Mas no sentido da educação, da oportunidade, da reparação, estamos no caminho certo.
Fonte: Ascom do deputado federal Valmir Assunção