Mulheres constroem suas próprias casas na Venezuela
Em centro comercial de Caracas, ao lado de bancos e prédios empresariais, mulheres conseguiram desapropriação de terreno e levantam edifício de seis andares.
Por Jonatas Campos, de Caracas
Publicado 09/04/2013 15:29
Um grupo de 33 mulheres resolveu se unir para construir seus próprios apartamentos, na região central de Caracas, capital da Venezuela. Para isso, ocuparam um armazém abandonado e pediram apoio governamental para desapropriação do terreno. Mais além, depois de permanecer no local com seus filhos, fazer vigília, pressionar o governo e conseguir a desapropriação, agora, elas mesmas estão pegando no pesado para garantir o sonho da casa própria. A obra está avançada. “Próxima quarta-feira vamos colocar o concreto das vigas”, diz Greimar Freites, mãe de um filho e administradora geral.
“Unimos um grupo de mães solteiras e fizemos um acampamento aqui. A luta foi grande. Havia muitas pessoas contra, mas aqui estamos”, diz com orgulho Yuri Colina, 30 anos e mãe de um filho. Ela explica que a ideia veio há cerca de dois anos, quando passavam pelo terreno abandonado no centro da cidade. A maioria delas mora na casa dos pais. “Decidimos ocupar e fazer nossas casas por autogestão. Reivindicamos ao presidente (Chávez) e ele nos deu apoio”, concluiu. A área onde encontra-se o futuro edifício fica a menos de um quilômetro do Palácio de Miraflores, sede do governo da Venezuela. O nome tenta traduzir o sentimento de orgulho das futuras donas, “Nova Comunidade Socialista Mulheres Vencedoras”. Apenas três das famílias listadas são comandadas por homens.
Karen Cortéz, 25 anos e com três filhos, explica que a demolição do antigo armazém abandonado foi feita por elas próprias. Mostram orgulhosas na tela do computador, no pequeno escritório dentro da obra, as primeiras fotos da empreitada. O projeto foi elaborado pelo Movimiento de Pobladores (movimento popular pela moradia, em tradução livre), que também é o encarregado de capacitá-las para o serviço pesado.
O financiamento vem do Fundo de Compensação Interterritorial, destinado a investimentos públicos de compensação regional e políticas complementares. Estão sendo investidos 6,6 milhões de bolívares (cerca de US$ 1 milhão) em todo o projeto.
Os dois edifícios, quando prontos, terão 36 unidades (duas por andar), um parque para as crianças e um pequeno teatro. Os apartamentos serão de 57 metros quadrados, dois quartos, sala, banheiro e cozinha. Com unhas pintadas, maquiagem e capacete, as 33 mulheres envolvidas no projeto administram tudo, desde a tomada de preços dos materiais de construção, à contratação de pedreiros, arquiteto e engenheiro. “Nós fazemos a construção, mas eles são a mão-de-obra especializada”, explica Yordana Campos, 23 anos e mãe de um menino. Os poucos pedreiros presentes capacitam as mulheres, que pegam no pesado no horário da tarde.
A entrega do primeiro edifício está prevista para outubro desde ano. “Já fizemos o contato com o programa Minha Casa Bem Equipada para o financiamento de móveis, geladeira, fogão”, diz Greimar. Ela refere-se ao programa do governo que financia a compra de móveis, eletrodomésticos e toda linha branca para as casas com baixos juros e largo prazo de pagamento.
“Nosso maior desafio foi unir a comunidade”, sentencia Greimar. “Depois dessa obra vamos estudar para ser engenheiras”, diz Yordana. “Sou chorona quando me lembro das dificuldades, mas vencemos”, conclui Yuri.
*Jonatas Campos é jornalista do Brasil de Fato e integra, em Caracas, o coletivo ComunicaSul de comunicação colaborativa