Exumação tentará identificar corpo de morto pelo regime militar
Peritos da Polícia Federal exumaram nesta terça-feira (9), no Cemitério de Inhaúma, na zona norte, a ossada que seria do militante de esquerda Alex de Paula Xavier Pereira, morto aos 22 anos por agentes do regime militar em 1972, em São Paulo. Os peritos coletaram fragmentos do fêmur e do úmero, além de dentes, para submeter a exame de identificação.
Publicado 09/04/2013 15:37
O pedido de exumação foi feito pela família e pelo Ministério Público e autorizado pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, no ano passado. Xavier foi enterrado sob nome falso no cemitério de Perus, em São Paulo. Em 1979, sua família encontrou uma ossada que seria do guerrilheiro.
Em 1980, os restos mortais foram trazidos para Inhaúma e, em 1998, foi feita a primeira exumação para tentar identificá-los, sem sucesso. “Para a família é importante para sabermos se é realmente o Alex. Essa dúvida persiste ao longo de mais de 30 anos. Queremos pelo menos encerrar essa etapa de que conseguimos resgatar o Alex”, disse sua irmã, Iara Xavier, que no mesmo ano perdeu outro irmão, Iuri Xavier, e, no ano seguinte, o marido, Arnaldo Cardoso, todos vítimas da ditadura.
O registro oficial da morte de Alex Xavier relata que ele teria sido morto durante um tiroteio, mas investigação da comissão especial da Secretaria de Direitos Humanos revela que ele foi torturado e executado. Segundo o procurador da República Sérgio Suiama, caso a identidade da ossada seja confirmada, será possível prosseguir com uma investigação criminal para processar os responsáveis pelo homicídio e pela ocultação de cadáver, já que ele foi sepultado com nome falso.
“São dois objetivos aqui. O primeiro é dar uma resposta à a família que há 40 anos vem procurando [descobrir] onde estão os restos mortais de seu ente querido. E também dar uma resposta à sociedade em termos de justiça e responsabilização dos autores dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver”, disse.
Os ossos coletados pelos peritos serão levados para o Instituto Nacional de Criminalística, onde o material genético será comparado com o de membros da família, inclusive o de Iuri Xavier, irmão de Alex, que também teve os restos mortais exumados hoje.
“Esse trabalho, por si só, é uma denúncia de que, enquanto não formos a fundo nesse problema, que é do Estado brasileiro, a ditadura ainda vai persistir. Saber e esclarecer o que aconteceu com Alex é limpar um pouco do que a ditadura deixou no Brasil”, disse o coordenador-geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, Gilles Gomes.
Alex Xavier, que militava na Ação Libertadora Nacional (ALN), é um dos 361 mortos e desaparecidos durante a ditadura, reconhecidos pela comissão especial da Secretaria de Direitos Humanos.
Segundo o procurador da República Sérgio Suiama, existem 180 investigações em curso no MPF para apurar crimes cometidos durante a ditadura militar (1964-1985). Entre eles, estão incluídos execuções, sequestros e ocultação de cadáveres. Desse total, 120 inquéritos tratam apenas de casos ocorridos no Rio.
"Caso não seja confirmada a identificação de Alex pelo exame de DNA, vamos continuar investigando. Queremos punir os responsáveis por ocultação de cadáver," afirma Suiama.
Alex foi enterrado como indigente, com o nome de João Maria de Freitas no Cemitério Dom Bosco, no bairro Perus, em São Paulo. O local era utilizado para enterrar vítimas do regime. Oito anos depois, uma ossada foi transferida para Inhaúma como sendo a do militante. A identidade de Alex, porém, nunca foi confirmada.
O pedido de exumação foi feito pela irmã de Alex, Iara Xavier Pereira, de 61 anos, que retornou ao Brasil em 1979 após o exílio. Desde então, ela procura pelo corpo do irmão. A família de Iara militou no PCB e depois na ALN. À época, Iara perdeu outro irmão: Iuri Xavier Pereira, cujos restos mortais foram identificados.
"Quando o Alex morreu, não podíamos ir atrás do corpo porque tínhamos medo de ser presos. Em 1996, identificamos o Iuri. São 33 anos sem resposta sobre o Alex. Todo cidadão tem o direito de sepultar os seus mortos. Estamos correndo atrás das provas. Minha mãe vai fazer 88 anos. Meu pai já morreu. É uma luta sem fim," desabafa Iara.
Com Agência Brasil e O Globo