Putin: A Síria não pode ser uma nova Líbia ou um novo Iraque
Antes de sua viagem à Alemanha, realizada neste fim de semana, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, concedeu entrevista à maior rede de televisão alemã, a ARD, na qual falou dos temas foram tratados durante a visita, tanto os relacionados à cooperação bilateral Rússia-Alemanha quanto os que dizem respeito à política internacional.
Publicado 08/04/2013 18:35
Leia abaixo trechos da entrevista reproduzida pelo site Diário da Rússia:
ARD: Presidente Vladimir Putin, como o senhor avalia o estágio atual das relações entre Rússia e Alemanha?
Vladímir Putin: Vamos ampliar o alcance da sua pergunta e dizer que a União Europeia responde por 50% da movimentação comercial da Rússia. Pois bem: entre os países membros da União Europeia, a Alemanha é a nossa principal parceira. A balança comercial Rússia-Alemanha registra US$ 74 bilhões. Portanto, entre os países da União Europeia, a Alemanha mantém a liderança nas relações econômicas com a Rússia, além de ser o nosso maior investidor externo.
Quais as perspectivas de esta cooperação bilateral aumentar?
Como disse, o intercâmbio comercial hoje entre Rússia e Alemanha é de 74 bilhões de dólares, e tende, de fato, a aumentar, apesar de alguns problemas pendentes. Por trás destes números estão os postos de trabalho e a troca de modernas tecnologias. A República Federal da Alemanha continua sendo um dos principais investidores da Federação Russa, com um montante de 25 bilhões de dólares em investimentos acumulados. Somente em 2012, os investimentos da Alemanha na Rússia aumentaram US$ 2,2 bilhões.
Desde a eclosão da crise econômica em Chipre, esta será a primeira vez em que os governantes da Rússia e da Alemanha se encontrarão pessoalmente. O que o senhor pretende conversar com a chanceler Angela Merkel?
A Rússia entende que não há necessidade de impor confiscos de ativos aos depositantes dos bancos cipriotas e que as condições de empréstimo de capitais podem perfeitamente ser bem discutidas entre todas as partes. A Rússia já prestou socorro financeiro a Chipre e não impôs exigências draconianas.
Como o senhor vê as informações veiculadas pela mídia internacional de que Chipre foi transformado numa grande lavanderia financeira?
As acusações de que Chipre se presta a lavar ou a clarear dinheiro precisam ser provadas. Será que os autores de tais acusações desconhecem as regras elementares da responsabilidade jurídica? Uma destas regras é a da presunção de inocência que deve ser atribuída a quem se vê alvo de acusações de atos ilícitos. Então, partindo-se deste princípio, como se pode dizer que todos os depositantes dos bancos cipriotas agem ilegalmente? É preciso ter provas para dizer isso. Provas bem consistentes, por sinal.
Vamos falar da Síria, país para o qual a Rússia exige soluções diplomáticas e veta qualquer possibilidade de intervenção externa. A seu ver, quais são as perspectivas para que a crise e a guerra civil na Síria cheguem ao fim?
A Rússia não admite intervenção externa na Síria, nem que este país sofra interferências em seus assuntos soberanos. Nós não queremos que se repitam na Síria os fatos ocorridos na Líbia, no Iraque e no Iêmen. Estes países sofreram uma verdadeira desintegração após as mudanças de poder. A Rússia sustenta que a sociedade síria é a única parte legítima para obter a solução dos seus conflitos. Não há razões para quaisquer interferências externas no país.
Presidente Putin, vamos falar agora de uma situação interna do seu país que provocou e continua provocando intensa repercussão no exterior – o controle das ONGs, organizações não governamentais. No caso específico, o fato de as 654 ONGs financiadas por outros países merecerem atenções especiais do governo russo. O que o senhor nos diz a respeito?
Não inventamos nada de novo a este respeito ao exigir que organizações não governamentais financiadas com recursos do exterior façam os seus registros, junto aos órgãos competentes russos, de acordo com o que realmente são: pessoas jurídicas de capital externo. Qual é a novidade que nós introduzimos? Diversos países agem assim, inclusive os Estados Unidos. O Kremlin não inventou nada. Para ter uma ideia do que se passa na Rússia com estas ONGs de capital externo, quatro meses após a entrada em vigor da lei que regula a atividade das ONGs de capital externo, foram transferidos para as suas contas bancárias 28,3 bilhões de rublos, o que equivale a quase um bilhão de dólares. Será que a sociedade russa não tem o direito de saber quem recebe este dinheiro e qual é a destinação do seu uso?
Para encerrar, Presidente Putin: quais são os seus planos pessoais para o futuro? Por futuro, entenda-se 2018, o ano em que terminará o seu mandato presidencial.
Adoro Direito e Literatura, e espero poder me ocupar destas áreas sem manter ligações com quaisquer estruturas públicas. Admito, porém, manter ligações em outras áreas como as relacionadas à sociedade russa e ao mundo dos esportes na Rússia.
Fonte: Diário da Rússia