Escândalo no governo francês se espalha
O escândalo pelas contas secretas do ex-ministro francês de Orçamento, Jerome Cahuzac, toma a cada dia uma nova dimensão e ameaça em barrar a capacidade do governo de dar uma resposta coerente para amenizar o sentimendo dos cidadãos.
Publicado 08/04/2013 16:13
O titular da pasta de Relações Exterioras, Laurent Fabius, viu-se obrigado a difundir um comunicado onde nega de maneira insegura os rumores sobre supostos depósitos em seu nome em um banco suíço.
Fabius se adiantou assim à publicação de um artigo do jornal Liberacion desta segunda-feira (8) onde se fazem referências a dita conta, conquanto este meio não contribui com as provas sobre o tema.
O fato mostra, em todo o caso, o ambiente tenso no país, depois da confissão de Cahuzac de possuir há mais de 20 anos cerca de 600 mil euros não declarados em uma conta no exterior, o que transformou-se em uma tormenta sem precedentes nos últimos anos.
A má surpresa foi dupla, primeiro porque o presidente François Hollande prometeu uma "república irrepreensível" quando foi empossado há pouco mais de 11 meses e afirmou ter escolhido minuciosamente seus colaboradores.
Mas, se trata de um delito de lavagem de dinheiro e evasão fiscal cometido precisamente pelo servidor público encarregado de vigiar a saúde das contas do Estado e lutar contra quem tente sonegar impostos.
Segundo as pesquisas realizadas nos últimos dias, o escândalo foi um choque muito grande para a opinião pública, mas tudo indica que certos círculos políticos já tinham conhecimento sobre o comportamento do ex-ministro.
Quem ajudou a abrir uma conta na Suíça foi o advogado Philippe Péninque, um homem muito vinculado com a presidenta do ultradireitista Frente Nacional (FN), Marine lhe Pen.
Em 2010 Cahuzac transferiu seus fundos da UBS para o banco Reyl, que se encarregou por sua vez de enviá-los a sua filial em Singapura, onde estão na atualidade.
De acordo com o jornal suíço Le Temps, um dos diretores do Reyl é Hervé Dreyfus, amigo íntimo do ex-presidente Nicolás Sarkozy.
Todo isso aponta, então, que nos dois principais partidos de oposição francesa, o FN e a União por um Movimento Popular, o assunto era amplamente conhecido.
A tormenta política se tornou mais forte neste domingo com a notícia divulgada em Genebra que Cahuzac, além dos 600 mil euros já aceitos, teria tentado sem sucesso colocar na Suíça cerca de 15 milhões de euros.
Nada há confirmado nesse sentido, mas já a imprensa francesa começa a se perguntar qual seria a origem dessa quantidade de dinheiro, caso sejam verdadeiras as informações.
A cada dia se revelam novas arestas do caso, enquanto o governo faz questão da tese da culpa solitária do ex-ministro e se recusa a fazer uma reestruturação do gabinete como exige uma parte da população e alguns partidos políticos.
Para Hollande, o escândalo explodiu no pior momento, pressionado pelos maus resultados da economia e do aumento do desemprego.
Em poucos dias seu minguado índice de aceitação caiu em três pontos e está agora em 27%, o menor para um presidente antes de cumprir em um ano de trabalho.
Espera-se que nos próximos dias seja feito o anúncio de um pacote de medidas para evitar a repetição destas fraudes, moralizar a gestão pública e recuperar um pouco a imagem perdida.
A impressão existente, no entanto, é que ainda nem todos os ângulos do caso vieram à tona e restam muitas perguntas por responder. Um delas é quanto sabia o governo sobre o tema, antes dele ser detonado.
Com informações da Prensa Latina