Um Congresso sobre os mais necessitados
Às dificuldades que os jovens enfrentam no mundo para encontrar opções de estudo e formação, são acrescentadas as portas do trabalho fechadas, de modo que na última classificação decidiram chamá-los de NINI: nem estuda nem trabalha.
Por Sinay Céspedes Moreno
Publicado 06/04/2013 05:18
O que acontece se nem estudam nem trabalham? São a geração vadia, problemática e perdida que alguns adultos persistem em culpar? Conforme pesquisadores dedicados a pesquisar sobre esta etapa da vida, a resposta se encontra em outro lugar, ligada a sistemas sociais que em muitos países não conseguem garantir condições mínimas para os jovens encontrarem espaços de inserção social nos quais possam desenvolver-se plenamente, quer no estudo quer no trabalho.
Para debater sobre estas questões realizou-se o Congresso Internacional de Pesquisadores sobre Juventude, em Havana, de 4 a 8 de março último voltado para facilitar a criação de espaços de socialização sobre diversas problemáticas que afetam este grupo populacional.
Em entrevista à Prensa Latina, a coordenadora residente das Nações Unidas em Cuba, Bárbara Pesce-Monteiro, validou a importância do foro: "parece-me um tema muito interessante porque a juventude é o espelho da sociedade do presente e temos que conhecer este presente para poder construir o futuro que ensejamos".
Pesce-Monteiro considerou que este grupo é fundamental como parte da vida social, se tornando preciso escutá-los, inseri-los e envolvê-los no andamento do desenvolvimento.
"Acho importante que este encontro tenha se realizado em Cuba, é um sinal de interesse e liderança", considerou sobre o foro que reuniu a mais de 400 delegados e convidados de 13 países.
Deste modo pode-se fazer um intercâmbio de ideias a partir das experiências cubanas e também de outras nações, assinalou, às vezes com comparações entre realidades diferentes, e outras com respeito a problemas dos jovens que são os mesmos nas várias partes do mundo.
A secretária nacional da União de Jovens Comunistas (UJC) de Cuba, Yuniasky Crespo, afirmou que as novas gerações, apesar de serem as mais expostas e ameaçadas pelos conflitos que afetam o mundo, são as mais engajadas com seu desenvolvimento.
Neste sentido, considerou que o congresso foi um espaço propício para reflexões profundas que podem contribuir para a configuração de políticas públicas mais precisas no atendimento de meninos, adolescentes e jovens.
Mais de 250 conferências foram apresentadas nos 15 simpósios desenvolvidos no Palácio das Convenções de Havana, sede principal do evento, o qual também incluiu a realização de duas conferências magistrais e vários painéis.
Do mesmo modo, foram ministrados 16 cursos antes do evento nos quais participaram cerca de 500 profissionais e estudantes universitários de países como Chile, Costa Rica, Venezuela e Colômbia.
Simultaneamente realizou-se o 2º Foro de Revistas Ibero-americanas sobre Juventude, no qual se dialogou sobre as experiências e realidades deste tipo de publicações e se enfatizou a utilidade de criar uma Revista Ibero-americana sobre Juventude como referência na região.
Educação e Trabalho
A necessidade de conseguir uma educação gratuita e de qualidade para todas as crianças, adolescentes e jovens foi amplamente abordada nas jornadas do encontro.
No entanto, vários especialistas coincidiram em que o problema tem uma raiz mais profunda: a ausência de condições de vida que permitam aproveitar ao máximo qualquer opção educativa, pormenor evidente nos altos índices de repetições, atraso e abandono escolar.
Sobre o tema, a representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Begoña Arellano, mencionou que na América Latina e Caribe 45,3 por cento dos adolescentes de 12 a 17 anos vivem em condições de pobreza.
Acrescentou que o panorama é marcado pelo escasso investimento e o acesso limitado aos serviços, a desintegraçao familiar e menor proteção, bem como pela falta de participação na sociedade deste grupo populacional.
Isso evidencia a necessidade de políticas integrais que sejam focadas nas necessidades específicas da cada comunidade, assinalou à Prensa Latina o pesquisador cubano Luis Gómez Suárez, que acrescentou que o sistema capitalista impede a generalização de uma política social.
"No mundo capitalista os mais beneficiados deste tipo de políticas são os mais integrados ao sistema e imersos de alguma maneira na educação e no trabalho; enquanto aqueles que ficarem fora disso ficam atrasados, notadamente os moradores de zonas rurais ou marginais urbanas, bem como as mulheres e as meninas", apontou.
Por sua vez, Pesce- Monteiro manifestou que ao ficar sem receber uma boa educação, muitos jovens estão em desvantagem para se inserir no mercado de trabalho.
O resultado são os atuais altos índices de desemprego juvenil, com a piora da situação para o sexo feminino.
Na Espanha, por exemplo, o desemprego atinge 70 por cento dos jovens de 16 a 19 anos, bem como quase 50 por cento daqueles de 20 a 24, informou o professor catalão Carles Feixa.
A inserção na sociedade mediante o trabalho é negada a esses jovens, considerou o pesquisador da Universidade espanhola de Lleida.
Homenagem a Hugo Chávez
A realização do evento coincidiu com "a trágica notícia do falecimento do líder da Revolução Bolivariana da Venezuela, Hugo Chávez", afirmaram vários participantes no Congresso procedentes dessa nação sul-americana.
"Quando desembarcamos em Havana o soubemos e nos caiu acima um balde de água fria; é muito triste, não assimilamos ainda esta perda", expressou à Prensa Latina o jovem Víctor García.
Nas jornadas do evento, inúmeras foram as homenagens ao reconhecido presidente, tanto em sessões formais quanto em intercâmbios informais entre os participantes, uma amostra de que a Venezuela não é a única que chora com a morte de Chávez, segundo comentavam.
A diretora do Centro de Estudos sobre Juventude de Cuba, Teresa Vieira, recordou o discurso do mandatário durante o 16º Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, realizado na capital venezuelana em 2005, no qual afirmou que os jovens fazem parte do amanhecer do mundo e de sua salvação.
"E este Congresso é um espaço de salvação da humanidade – apontou Vieira – desde o qual nós podemos contribuir partindo do nosso trabalho como pesquisadores".
Prensa Latina