Gritos por liberdade ecoam nos quilombos do MA, por Gerson Souza
O Maranhão é um dos estados com maior população negra do Brasil. Segundo o IBGE (2010), em termos relativos, o maior número de pessoas auto declaradas pretas e pardas reside na Bahia com 73,1% da população, seguida do Maranhão, Piauí e Pará todos com mais de 71% (o que remonta ao período do estado colonial do Maranhão Grão-Pará, período no qual grande contingente de negros escravizados foi trazido para essa região).
Por Gerson Pinheiro de Souza
Publicado 04/04/2013 09:14 | Editado 04/03/2020 16:47
Embora a população negra esteja distribuída por todo o estado do Maranhão, reside em maior densidade em áreas banhadas pelas bacias do Itapecuru, Mearim e Munim e pelas baías e estuários das Reentrâncias Maranhenses. Esses foram os destinos da maioria dos negros trazidos da África e vendidos como escravos para trabalharem nas plantações de algodão, nos engenhos de cana de açúcar e no comércio e serviços da capital.
A luta dos negros no Maranhão por liberdade, assim como em todo o Brasil, teve início desde a chegada dos primeiros africanos escravizados. Capítulo importante nessa luta foi, sem dúvida, a fuga das senzalas para locais onde pudessem, livres dos grilhões, se organizar em comunidades, e assim, construir as condições de sobrevivência longe dos seus algozes. É importante destacar a figura do Negro Cosme pela sua preocupação com a educação: é dele a primeira iniciativa (registrada) da criação de uma escola no quilombo, em Lagoa Amarela, hoje pertencente ao município de Chapadinha. Mas, principalmente pela sagacidade de, sabedor da dificuldade de sucesso de uma luta organizada a partir do quilombo, ter aproveitado para engrossar as fileiras da Balaiada, somando aos interesses dos populares das cidades e aos dos vaqueiros as reivindicações quilombolas.
Com a abolição e, em muitos casos, após a falência das grandes plantações de algodão na segunda metade do século 19, parcela significativa dessa população permaneceu nos quilombos rurais ou no interior desses grandes latifúndios falidos. Na segunda metade do século 20 muitos foram expulsos pelo processo de grilagem migrando para quilombos urbanos na periferia de São Luís e de outros municípios grandes e médios do interior do estado. Confinados aos Quilombos (rurais ou urbanos) nos quais é quase imperceptível a presença do estado, os negros maranhenses vivem em condições ainda muito difíceis, mesmo após os programas sociais dos governos progressistas dos presidentes Lula e Dilma.
Segundo todos os indicadores socioeconômicos, negros/as ganham menos para as mesmas funções, padecem das piores condições de vida e estão ausentes dos espaços de poder. Ao mesmo tempo essa população, em especial a juventude, é a principal vítima da política de segurança pública do estado, que encarcera, tortura e mata, em uma absurda proporção… Morrem duas vezes e meia mais negros do que brancos no Brasil. (Mapa da Violência 2012: a cor dos homicídios no Brasil).
Esses dados nacionais, quando somados ao rosário de índices negativos que recheiam as estatísticas sobre o Maranhão colocando-o em último ou penúltimo lugar em: índice de desenvolvimento humano, renda per capta, analfabetismo, pessoas abaixo da linha da miséria, dentre outros, confirmam a estreita relação entre degradação social e a cor da pele, entre desigualdade racial e desigualdade social.
Assim, o estado com uma das maiores populações negras do País é também o que tem os piores índices sociais. Ainda não conseguiu se livrar da triste realidade expressa pelo acelerado enriquecimento da antiga elite escravocrata transformada em moderna sócia do grande capital. Elite detentora de gigantescas fortunas depositadas nos paraísos fiscais de além-mar e, ao mesmo tempo, mantenedora do coronelato feudal como regra basilar das relações sociais. Que impõe aos antigos escravos a condição de servos através de uma extensa rede de compadrio. Se já não é possível mantê-los nas senzalas, os mantém presos a currais eleitorais comandados por sub-coronéis distribuídos por todas as regiões do Estado e ligados, tal marionetes, ao coronel mor e sua família.
Entendemos que o racismo no Brasil não pode ser considerado apenas como mazela residual do período escravista, pois é um instrumento cotidianamente renovado pelo capitalismo como forma de ampliar a exploração das elites sobre a maioria do povo. No Maranhão, estado com altos índices de desigualdade social, a imensa dívida para com os afrodescendentes tem sido agudizada pelo domínio de cinco décadas do mesmo consórcio oligarca. Portanto, a luta contra o racismo deve estar ligada à luta travada por maranhenses de todas as etnias pela conquista de um Maranhão no qual sejam dadas a todos as condições de vida dignas. Assim, a exemplo do que fez Cosme Bento, o Movimento Negro no Maranhão deve somar-se aos que, atendendo os anseios populares, dialogam pelo Maranhão na luta pelo fim da Oligarquia e por melhores dias para o nosso povo.