Venezuelanos respaldam sucessor de Chávez: "Assim que se governa"
Os venezuelanos começam a mobilizar-se para defender a Revolução Bolivariana na eleição de 14 de abril. Em dois dias, os populares lotaram quatro atos de preparação da campanha de Nicolás Maduro, atual presidente em exercício e sucessor de Hugo Chávez.
Por Felipe Bianchi*, de Caracas
Publicado 30/03/2013 09:42
Na quarta-feira (26) em Caracas e na quinta-feira (27) em três cidades da chamada parte “oriental” do país, milhares de venezuelanos encheram ruas e ginásios e assumiram um compromisso com o candidato: "Chávez, te juro, meu voto é por Maduro".
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Na capital, o presidente visitou a região de Propatria. A chegada de sua comitiva, em carro aberto, foi marcada por uma enorme “escolta militante”: dezenas de motociclistas com camisetas vermelhas acompanharam a delegação presidencial até o palanque onde Maduro falaria, por cerca de duas horas, com seus militantes. Houve tempo até para a celebração e exibição do gol da “Vinho Tinto” – a seleção venezuelana enfrentava a Colômbia no mesmo horário, em jogo válido pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2014.
Chávez vive, la lucha sigue
No dia seguinte, Maduro cumpriu agenda em três outros estados: primeiro, visitou Maturín, em Monagas; depois, viajou até Cumaná, em Sucre; ao fim do dia, esteve em Isla Margarita, na região de Nueva Esparta. Em todas as cidades a comitiva presidencial foi recebida com festa da população e com a saudação dos soldados das Forças Armadas venezuelanas: “Chávez vive, la lucha sigue. Independencia y patria socialista”.
Em meio à multidão que se aglomerava em cada cidade, funcionários da presidência recolheram, em grandes mochilas verde-oliva, centenas de cartas, mensagens e pastas entregues pelos cidadãos. Segundo a equipe de Maduro, desde o Governo Chávez tornou-se um costume que as pessoas escrevam seus anseios, sugiram projetos e relatem seus problemas diretamente para os governantes.
Em seu discurso, além de garantir a continuidade do programa chavista, o presidente também criticou a postura do candidato oposicionista Henrique Capriles. “Ele está obcecado comigo. Em seus discursos, só se ouve falar de mim. Nicolás, Nicolás, Nicolás”, disse. Em resposta, os milhares de presentes repetiam o primeiro nome de Maduro, satirizando o representante da direita. “A obsessão dele tem uma razão: sou filho de Chávez”, afirma.
Ainda sobre seu principal oponente na eleição de 14 de abril, o presidente afirmou que “Capriles é financiado pelos imperialistas, odeia os pobres e odiou Chávez até seu último suspiro de vida”. O “Burguesito”, apelido que Maduro utiliza para se referir a Capriles, “representa o interesse das oligarquias", mas assegurou que "não voltarão a mandar no país".
Maturín e o condutor de ônibus
Na capital do estado de Monaga, Maduro retornou às raízes ao conduzir o ônibus de sua delegação até o local no qual os militantes o aguardavam – por sete anos o presidente trabalhou em tal profissão. Enquanto guiava, era abordado nas ruas e obrigado a frear constantemente para acenar ao povo que o saudava.
Entre declaracões – coletivas e extasiadas – de amor a Chávez, Maduro convoca a massa para o plano do “1×10”: cada militante chavista tem a missão de conquistar 10 outros votos. A ambiciosa meta do candidato é alcançar 10 milhões no dia do pleito. “14 de abril será um dia de insurreição popular, eleitoral e pacífica”, brada.
De novo evocando a figura do “Burguesito”, o presidente debocha da ligação que Capriles tem com o capitalismo e o imperialismo estadunidense. “Ele vive falando em Manhattan, Central Park, Nova Iorque… mas aqui é Maturín, meus amigos”.
Em Sucre, Maduro relembra Simón Bolívar
Em pleno dia do Nazareno de São Paulo, a quem os fiéis pagam promessas e cumprem tradicional procissão, o ginásio municipal de Cumaná também teve lotação máxima para o ato de Maduro. O presidente, que havia deixado Maturín muito suado pelo calor que fazia na cidade, volta ao palanque esbanjando bom humor e energia.
Desta vez, Maduro recorda e reforça o sonho de Bolívar e Chávez em construir uma Pátria Grande latino-americana. “Da Patagonia, lá no sul do continente, até Quito, Lima e Potosí, não esqueçamos que nossa luta é em toda a América”.
Ele ainda questiona a multidão quanto ao que esperam dos rumos do país nos próximos seis anos de governo: “Socialismo ou capitalismo?”, “Pátria ou imperialismo?”, “Independência ou submissão?” e, por fim, “Chávez ou o Burguesito?”.
Todas as perguntas, claro, prontamente respondidas por uma eufórica massa composta de militantes partidários e cidadãos comuns com os olhos cheios de lágrimas.
Isla Margarita: turismo, esporte, segurança e economia
No começo da noite, Maduro e sua comitiva chegaram ao aeroporto de Isla Margarita, uma das ilhas que compõem o estado de Nueva Esparta, e se dirigiram para a cidade de La Asunción. Conforme as informações divulgadas pela organização do ato, cerca de 7.700 pessoas compareceram ao ginásio dos Guaiqueríes de Margarita, tradicional equipe de basquete do país.
Maduro fez menção ao time e leu em voz alta todos os seus títulos, estampados em bandeiras nas paredes do ginásio, assim como o nome de ídolos dos Guaiqueríes. Um deles, Cruz Lairet, estava nas arquibancadas e se dirigiu ao palanque de Maduro, a pedido dos presentes.
Após cumprimentar o presidente, o ex-atleta relembrou sua história e declarou apoio ao sucessor de Hugo Chávez. “Me orgulho muito de eu e meu irmão termos feito história na equipe, já que viemos de uma família humilde. Mas me orgulho ainda mais de Chávez, que tem transformado a Venezuela em uma potência esportiva”, disse o ídolo local.
À véspera do feriado de Semana Santa, Maduro destacou a alta procura por hotéis no país como rechaço à tese de que a economia vai mal. “80% dos hotéis estão lotados hoje e amanhã, quando começa o feriado, a previsão é de que o número suba para 95%”, comenta. “Há fila para se hospedar e ainda dizem que estamos quebrados!”. O candidato também argumenta que “pela primeira vez na história da Venezuela, o povo pode fazer turismo e conhecer seu próprio país”.
Quanto à segurança, um dos temas mais discutidos nas pré-campanhas eleitorais, Maduro rebate as críticas da oposição. “Qual alternativa eles defendem? Reprimir e agredir o povo? Não é a solução”, avalia. “Queremos resolver o problema por meio de políticas sociais e não de máfias policiais”.
O povo manda seu recado
Com um estilo próprio, o condutor de ônibus e presidente do país demonstrou, nos quatro atos, que conta com apoio massivo para levar adiante o processo revolucionário comandado por Chávez. Os muros de Caracas, Maturín, Cumaná e Isla Margarita transbordam de mensagens de amor ao ex-presidente e de confiança em seu sucessor.
Nas quatro cidades, inclusive, foi possível escutar um grito em comum, revelador da avaliação que as classes populares fazem do trabalho de Chávez e Maduro e que respalda, por seis anos mais, a Revolução Bolivariana: “Así, así, así que se gobierna”.
* Felipe Bianchi é jornalista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e integra, em Caracas, a equipe do ComunicaSul
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