Michel Chossudovsky: Israel é membro de fato da Otan

É conhecido o papel que Israel desempenha na ofensiva imperialista, não apenas no Oriente Médio mas em outras regiões, nomeadamente na África e na América Latina. Esse papel avança na sua formalização institucional, em particular com o novo acordo Israel-Otan. A ambição sionista e o imperialismo são parte integrante da mesma ameaça global contra os povos de todo o mundo. Por Michel Chossudovsky

O secretário-geral da Otan, general Anders Fogh Rasmussen, recebeu em 7 de março o presidente de Israel, Shimon Peres, na sede da Otan em Bruxelas. A ordem do dia: sublinhar a cooperação militar entre Israel e a Aliança Atlântica concentrando-se em temas da luta “contra o terrorismo”. Israel compartilhará com satisfação o conhecimento que já alcançou e as suas capacidades tecnológicas com a Otan. Israel tem experiência de lidar com situações complexas, e devemos fortalecer a cooperação para que possamos combater juntos o terror global e ajudar a Otan nas complexas tarefas que enfrenta, incluindo o Afeganistão.” Israel já está envolvido em operações encobertas e de guerra não convencional em articulação com os EUA e a Otan.

Este acordo é de particular importância porque aprofunda a relação Israel-Otan para além do chamado “Diálogo Mediterrâneo”. A declaração conjunta aponta para uma cooperação Israel-Otan na luta “contra o terror” e na procura da paz no Médio Oriente e no mundo. O que tudo isto sugere é a participação de Israel na guerra ativa junto à Otan, ou seja, como membro de fato da Aliança Atlântica. Por outras palavras, Israel estaria diretamente envolvido se os EUA-Otan lançassem uma operação militar propriamente dita contra a Síria, o Líbano ou o Irã. Israel ofereceu ajuda à Otan em operações de “contraterrorismo” dirigidas contra o Hezbolá e o Irã. No decurso das discussões as duas partes acordaram em que Israel e a Otan são parceiros na luta “contra o terror”, diz a declaração.

O presidente Peres sublinhou a necessidade de manter e aumentar a cooperação entre Israel e a Otan e a capacidade de Israel de cooperar e proporcionar ajuda tecnológica e conhecimento dada a vasta experiência que tem ganho no campo do contraterrorismo. “Israel estará disposto a compartilhar o conhecimento conseguido e as suas capacidades tecnológicas com a Otan. Israel tem experiência no enfrentamento de situações complexas, e devemos fortalecer a cooperação para que possamos lutar juntos contra o terror global e ajudar a Otan em face das complexas ameaças que enfrenta, incluindo no Afeganistão”, disse Peres a Rasmussen.

História da cooperação militar entre Israel e a Otan

Vale a pena assinalar que em novembro de 2004, em Bruxelas, a Otan e Israel assinaram um importante protocolo bilateral que abriu caminho para a realização de exercícios militares conjuntos da Otan e Israel. Um acordo complementar foi assinado em março de 2005 entre o secretário-geral da Otan e o primeiro-ministro Ariel Sharon. O acordo de cooperação militar bilateral de 2005 foi encarado pelos militares israelenses como um meio para demonstrar a capacidade de dissuasão de Israel relativamente a potenciais inimigos que o ameacem, sobretudo o Irão e a Síria.

A premissa existente sobre a qual assenta a cooperação militar entre a Otan e Israel é que Israel está debaixo de ataque. Existe evidência de coordenação militar e de inteligência entre a Otan e Israel, que inclui consultas relacionadas com os territórios ocupados. Antes do lançamento da Operação Chumbo Derretido em Gaza, a Otan já estava intercambiando inteligência com Israel, compartilhando peritagem em segurança, e organizando treinos militares. O ex-chefe da Otan, Scheffer, visitou Israel em meio à ofensiva de Israel em Gaza. E funcionários da Otan opinavam na época que a cooperação com Israel era essencial para a sua organização. (Al Ahram, 10 de Fevereiro de 2010). O acordo bilateral de Bruxelas de março de 2013 entre Israel e a Otan é a culminação de mais de 10 anos de cooperação entre ambas as partes. Este acordo obriga a Otan a vir em ajuda de Israel sob a cobertura da doutrina de segurança coletiva?

O acordo reforça o processo atual de planificação militar e logística EUA-Otan-Israel relacionado com qualquer operação futura no Oriente Médio, incluindo um bombardeio aéreo de instalações nucleares do Irã. A delegação presidencial israelense estava composta de vários altos conselheiros militares e governamentais, incluindo o brigadeiro-general Hasson Hasson, secretário militar do presidente Peres, e Nadav Tamir, conselheiro político do presidente de Israel. Concluído em discussões a portas fechadas, o texto do acordo Israel-Otan não foi publicado. Depois da reunião, a Otan publicou uma declaração conjunta.

O secretário-geral Rasmussen declarou na informação à imprensa: “Israel é um importante parceiro da Aliança no Diálogo Mediterrâneo. A segurança da Otan está vinculada à segurança e estabilidade da região mediterrânea e do Oriente Médio. E a nossa Aliança valoriza enormemente o nosso diálogo político e a nossa cooperação prática. Israel é um dos nossos mais antigos países associados. Enfrentamos os mesmos desafios no Mediterrâneo Oriental”.

E prosseguiu o secretário-geral da Otan: “Como enfrentamos as ameaças à segurança do Século 21, temos todos os motivos para aprofundar a nossa duradora associação com países do nosso Diálogo Mediterrâneo, incluindo Israel. Todos sabemos que a situação regional é complexa. Mas o Diálogo Mediterrâneo continua sendo um singular fórum multilateral, no qual Israel e seis países árabes podem discutir conjuntamente com países europeus e norte-americanos desafios comuns à segurança. Vejo mais oportunidades para aprofundar o nosso já próximo diálogo político e a nossa cooperação prática em benefício mutuo.”

Michel Chossudovsky é escritor, professor emérito de Economia na Universidade de Ottawa, fundador e diretor do Centro de Investigação sobre a Globalização (CRG).

Fonte: Globalresearch / O Diário.info / Blog da Resistência [www.zereinaldo.blog.br]