Obama deixa Israel sem posição construtiva sobre a Palestina

O presidente dos Estados Unidos Barack Obama parte de Israel nesta sexta-feira (22), ainda alvo de críticas da esquerda palestina, de movimentos civis e de vizinhos de Israel, como o partido de resistência islâmica Hezbolá, do Líbano. Por outro lado, a dificuldade de manutenção de um processo de paz eficiente recebeu como pretexto o "difícil" governo de Israel.

Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho 

Obama deixa Israel após primeira visita oficial - AP

O presidente israelense Shimon Peres disse a Obama que a nova coalizão de governo formada a duras penas pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu (reeleito em janeiro) dificultará qualquer progresso nas negociações de paz. A iniciativa tem previsão para ser abordada pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, que ficará em Israel após a partida de Obama.

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É desnecessário lembrar que o governo de Netanyahu teve já muitas oportunidades para lidar com um processo de paz eficiente, já que o primeiro-ministro foi eleito ainda em 2009, logo após a operação militar de 22 dias “Chumbo Derretido” contra a Faixa de Gaza, em que 1.400 palestinos foram mortos.

Na altura, a ministra das Relações Exteriores que arquitetou a operação junto com o então primeiro-ministro Ehud Olmert e com o secretário de Defesa Ehud Barak era Tzipi Livni, que Netanyahu convenceu a juntar-se à coalizão atual. Ela ficou com a responsabilidade por um eventual processo de paz, mas o seu comprometimento com uma solução construtiva já foi questionado diversas vezes.

Não faltam demonstrações de que os recentes governos sionistas de Israel têm pouca ou nenhuma vontade de solucionar o conflito conforme as resoluções da ONU, ou seja, reconhecendo um Estado da Palestina através da autodeterminação dos palestinos (direito reconhecido pela ONU ainda em 1948, quando foi estabelecido o Estado de Israel), devolvendo-lhes os territórios usurpados desde 1967, ano da guerra inaugural (oficialmente) da ocupação ilegal, e garantindo também o retorno dos palestinos expulsos de suas terras desde 1948, conforme a resolução 194 da ONU daquele ano.

O presidente Peres já deu também demonstrações da postura irredutível e opressora do seu governo em discursos recentes na Europa, quando afirmou que a culpa pela violência na região e, consequentemente, pela falta de solução ao conflito entre Israel e Palestina é dos palestinos da Faixa de Gaza, classificada por Peres como “uma base terrorista”.

O partido de resistência islâmica Hezbolá, que integra o governo do Líbano depois de um longo período de conflitos políticos, condenou Obama nesta sexta-feira (22) por receber do presidente a designação de "grupo terrorista", o que faz parte de uma estratégia usual dos EUA para deslegitimar movimentos de resistência anti-imperialista.

O Hezbolá defende a soberania nacional libanesa e denuncia constantemente a invasão diária de Israel ao território e ao espaço aéreo libanês.

Protestos contra negociações com Israel

Dias antes da chegada de Obama, frentes de luta, partidos e movimentos civis já tinham se posicionado contra a visita, ou contra uma imposição de negociações com Israel. O descrédito com relação ao governo sionista é generalizado, e a recusa de um comprometimento com um ente assentado em violações diárias de direitos humanos e em opressão sistemática é a base desses protestos.

Ainda no dia da chegada de Obama, por exemplo, quarta-feira (20), ativistas montaram um acampamento no corredor da Cisjordânia, na região denominada por Israel como Leste 1 (E-1), em que serão construídas cerca de 3.000 habitações em assentamentos judeus, conforme anunciado pelo governo em 2012 (como punição pelo pedido de reconhecimento feito pela Autoridade Palestina à ONU).

Em visita a Ramallah, na Cisjordânia, Obama disse ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, durante uma conferência de imprensa, que a paz não será alcançada "através da violência ou da ocupação". Obama havia dito a Netanyahu, no dia anterior, que não acha "construtivos" os assentamentos judeus em território palestino, mas que "entende que a política israelense é complicada" e que o assunto "não será resolvido do dia para a noite".

O Portal Vermelho já abordou os protestos da esquerda palestina contra a visita de Obama, e o Partido do Povo Palestino (PPP) fez um chamamento, nesta quinta-feira (21), insistindo na “recusa em retomar as negociações sem uma interrupção na instalação de assentamentos e a observância das resoluções internacionais”.

As reivindicações do PPP coincidem em grande parte com as de outros partidos e movimentos civis palestinos, ou seja, a libertação dos prisioneiros políticos (dos quais muitos estão em greve de fome em protesto contra a sua detenção arbitrária e sob a “detenção administrativa”).

O partido e outros movimentos também apelam ao presidente dos EUA pelo reconhecimento de um Estado palestino “independente com sua capital em Jerusalém, em todo o território ocupado em 1967, e por se abster de apoiar Israel e sua agressão e ocupação dos territórios palestinos”.

O PPP declarou rejeitar “toda a pressão para quebrar a posição palestina sobre o reatamento das negociações, que só poderiam ser retomadas com a cessação total das práticas agressivas contra o nosso povo e a libertação de presos”.