PCdoB-CE debate ações partidárias e rumos para 2014
O Comitê Estadual do PCdoB-Ceará se reuniu no último final de semana para debater a conjuntura política atual, o projeto eleitoral de 2014 e a preparação para o início do processo do 13º Congresso Nacional do Partido, que se realizará neste ano. Os comunistas cearenses também discutiram a seca que assola o Nordeste e o Ceará, em particular.
Publicado 20/03/2013 10:34 | Editado 04/03/2020 16:28
O presidente do PCdoB cearense, Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), iniciou a reunião destacando o cenário político em que acontecerá o 13º Congresso do Partido, com o agravamento da crise do capitalismo e a transição para uma nova geopolítica, com o fortalecimento dos países que compõem o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o declínio de potências como os Estados Unidos e instabilidade em países da Europa, como em Portugal, Grécia e Itália.
Segundo o dirigente comunista, “neste cenário, surge uma nova luta pelo socialismo em que a América Latina, com suas particularidades, torna-se laboratório importante para esta reestruturação”. Dois fatos distintos ilustram a situação latino-americana: no Equador a reeleição, em primeiro turno, de Rafael Correa e na Venezuela a comovente mobilização nacional com a morte de Hugo Chávez. “Nos dois casos o povo demonstrou reconhecer o papel desses líderes que propiciaram o avanço nos direitos da população e inúmeras conquistas sociais”. Patinhas acredita que o 13º Congresso do PCdoB debaterá este novo mundo, com mudanças na correlação de forças mundiais e a integração da América Latina.
Cenário político brasileiro
Ao analisar a conjuntura nacional, Patinhas destacou a vitória dos partidos da base de apoio à presidenta Dilma, nas eleições de 2012, e o enfraquecimento dos partidos de oposição (PSDB e DEM), apesar do esquema de apoio à oposição que inclui a chamada “grande mídia” e uma expressiva parcela do poder judiciário. “Apesar da derrota, a direita ainda tenta manter a ofensiva, antecipa o debate eleitoral, tenta dividir aliança governista estimulando candidaturas de partidos aliados, mas enfrenta grandes dificuldades para viabilizar seu candidato a presidente,que seria o senador tucano Aécio Neves”.
Carlos Augusto ressalta que uma avaliação sobre os 10 anos do período liderado por Lula e Dilma estará no centro das discussões do 13ª Congresso do PCdoB, que fará um balanço dos governos e da contribuição dos comunistas na condução dos destinos do país, assim como nas lutas sociais que ocorreram neste período. “Os comunistas consideram que o Brasil precisa seguir determinado no sentido de avançar ainda mais nas mudanças de modo a impulsionar um desenvolvimento consistente e sustentável, capaz de gerar bem estar para o conjunto da população”, defende o dirigente.
Patinhas vê com entusiasmo o fato de que o movimento social esteja retomando o seu protagonismo, como ocorreu recentemente com a 7ª Marcha das Centrais Sindicais, que ocupou Brasília reivindicando a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, 10% do PIB e 50% do Pré-sal para a educação, o fim do fator previdenciário e outras bandeiras de grande relevo para o nosso povo. Do mesmo modo é positiva a convocação da Jornada de Lutas da Juventude Brasileira, que acontecerá no final de março e início de abril. O dirigente comunista destaca ainda sinalização da presidenta de se aproximar dos movimentos sociais. “Diferente dos dois primeiros anos de governo, Dilma agora passa a ter atitude em relação aos movimentos sociais, movimentando-se politicamente”, avalia.
Analisando o quadro político do Ceará, Patinhas considera que o Estado também passou a viver um novo momento a partir da eleição do governador Cid Gomes, em 2006, apoiado pelas forças democráticas e progressistas, que também ajudaram a eleger Inácio Arruda, o primeiro senador comunista do Ceará. “Desde então é visível o esforço para dotar o Ceará de uma infraestrutura capaz de permitir ao Estado dar um salto no seu desenvolvimento, assim como o empenho em melhorar as políticas públicas nas áreas sociais, em especial na saúde e na educação”, avalia o presidente do PCdoB cearense.
Para o dirigente comunista, “ao ocuparem pela primeira vez uma Secretaria de Estado, no caso a da Saúde, os comunistas têm demonstrado grande capacidade de gestão e sintonia com os objetivos do poder executivo estadual”. Para ele, assim como no Brasil, o processo de mudanças no Ceará deve ter continuidade e maior impulso, tanto em função de seu desenvolvimento ainda insuficiente, como devido às condições precárias em que vive grande parte dos cearenses, como demonstra o estado de calamidade provocando pela seca que atinge a região nordestina. Na opinião de Carlos Augusto, “tais mudanças exigem a unidade das forças democráticas e progressistas no Estado, assim como um maior protagonismo dos movimentos sociais”.
2014: manter a bancada no Congresso Nacional e ampliar na Assembleia Legislativa
Neste contexto é que se dará a disputa eleitoral de 2014 quando o povo brasileiro terá mais uma oportunidade para reafirmar a opção pelas mudanças, por um Brasil justo, soberano, democrático e desenvolvido. O presidente do PCdoB/CE ratifica as principais metas do Partido para 2014. “Além de buscar manter a unidade que envolve os principais partidos que apoiam Dilma (PT, PMDB, PSB, PCdoB, PDT), nosso objetivo é aumentar nossas bancadas de parlamentares tanto no Congresso Nacional quanto nas assembleias estaduais”.
No Ceará, o PCdoB defende a unidade em torno do avanço das mudanças em curso e também buscará a consolidação e ampliação de seus espaços políticos no Estado. Segundo Patinhas, o senador Inácio Arruda tem cumprido com dedicação e competência o compromisso que assumiu ao ser eleito de atuar em prol do desenvolvimento do Ceará e da melhoria na vida dos cearenses, assim como apoiar as reivindicações dos municípios. Neste sentido o PCdoB buscará sua reeleição, assim como dos deputados federais Chico Lopes e João Ananias, cujos mandatos são destaques não só na bancada cearense como também na própria Câmara dos Deputados. O dirigente afirmou ainda que, na Assembleia Legislativa, o deputado Lula Morais também é destaque por se posicionar com habilidade e firmeza no debate político, como também na defesa dos interesses do Ceará e dos direitos do povo cearense. “Por esta razão, o PCdoB buscará sua reeleição e a eleição de pelo menos mais dois novos deputados comunistas”.
Protagonismo nas lutas sociais
Patinhas ressalta que este momento de revolvimento do Partido na construção do seu 13º Congresso e o impacto que ele causará nas eleições de 2014 devem estar em sintonia com importância da atuação dos comunistas nas demais frentes. “Além da frente institucional, devemos reforçar nossa atuação nos movimentos sociais e na luta de ideias. Em 2022, ano do centenário do PCdoB, queremos estar ainda mais fortes, nas prefeituras, no parlamento e nos movimentos sociais, com o partido consolidado nos municípios. Para isso, o resultado das eleições de 2014 ajudará neste crescimento e na integração das demais frentes, onde uma ajuda a outra a crescer”, ratifica.
O dirigente do PCdoB ressalta o papel da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da União da Juventude Socialista (UJS), que vêm desempenhando várias ações de destaque junto aos movimentos sociais. “Nosso objetivo deve ser fortalecer ainda mais as duas entidades, para que atuem de forma unida e organizada, defendendo bandeiras comuns como a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário, mais recursos para a saúde e educação e até ações coordenadas em relação à estiagem”, cita.
Na luta de ideias, Patinhas destaca um calendário de lançamento de publicações importantes para os comunistas. “Fazemos parte de um Partido que tem trajetória de luta e personagens que ajudaram a construir a democracia deste país. Somos um Partido consolidado, que vive uma nova fase e valoriza sua história”, ratifica.
Na programação, o PCdoB/CE, em parceria com a Fundação Maurício Grabois, participará dos lançamentos, no Ceará, de diversos livros. No dia 26 de março, na Casa Amarela Eusélio Oliveira, o lançamento da publicação sobre os 90 anos do Partido Comunista do Brasil, contará com a participação do editor do jornal “A Classe Operária”, José Carlos Ruy. Em abril, no dia 12, será lançado o livro "Uma vida de Combates", de Osvaldo Bertolino, que conta a história de Mauricio Grabois. Já no dia 9 de maio, será a vez do lançamento da biografia sobre João Amazonas, "Meu Verbo é Lutar", de Augusto Buonicore. E em junho, no dia 6, será lançado o livro "Meu Companheiro – 40 anos ao lado de Luiz Carlos Prestes", de Maria Prestes, viúva do Cavaleiro da Esperança.
Enfrentar o drama da seca
Diversos participantes da reunião falaram sobre as graves consequências da seca que assola o Nordeste e, em particular, o Ceará há cerca de quatro anos. A escassez de água ocorre desde 2010, quando a média de chuvas foi bem abaixo da média do semiárido, que é de 700mm por ano. Já em 2011, as chuvas foram mais abundantes, mas insuficientes para o armazenamento nos reservatórios como açudes e barragens e em 2012 a seca superou a estiagem de 1958, uma das mais inclementes da história, quando milhares de nordestinos morreram à míngua.
Até o momento as previsões para 2013 são ainda mais drásticas. Presente à reunião, o prefeito de Crateús, Carlos Felipe, informou que em sua região as chuvas não chegaram à metade das que ocorreram no ano passado. Felipe informou que cerca de 100 mil cabeças de gado já teriam morrido e em grande parte do sertão, onde antes era pasto, há verdadeiros cemitérios de animais.
Diante dessa situação a direção estadual do PCdoB decidiu orientar o coletivo partidário a atuar junto ao poder público em busca de medidas que ajudem a aliviar o sofrimento da população interiorana, a reduzir os impactos dos prejuízos na produção agropecuária e decorrente da morte de grande parte do rebanho bovino. Os comunistas também defenderão maior agilidade na realização de obras de combate à seca como a integração da bacia do Rio São Francisco com o Nordeste Setentrional – chamado popularmente de Projeto de Transposição das Águas – iniciado ainda no primeiro governo do Presidente Lula, mas ainda enfrenta entraves burocráticos, orçamentários e até de algumas organizações que se declaram defensoras o meio ambiente, mas parecem não se comover com o sofrimento de milhões de nordestinos. Os parlamentares do PCdoB no Congresso Nacional, na Assembleia Legislativa e nas Câmaras Municipais também deverão agir com vigor na defesa de medidas urgentes e em ações que previnam no futuro as mazelas decorrentes da seca.
Mobilizar o partido durante o 13º Congresso
Abel Rodrigues, secretário de Organização do PCdoB/CE, falou sobre a realização do 13º Congresso do Partido, que já está em fase de construção em todo o país. “Nosso desafio é ousado: mobilizar o conjunto do Partido e construir este encontro coletivamente, de modo que ele seja o maior já realizado no Ceará. Este êxito depende do nosso desempenho”, conclama.
Realizado a cada quatro anos, desde a redemocratização do país, os congressos têm a importância de ser a expressão maior da democracia que rege a vida do Partido. “Este é o momento em que o coletivo partidário é chamado a construir a linha política do PCdoB. Ele representa o revolvimento, o despertar, a força transformadora da militância que acelera o ciclo de crescimento que estamos vivendo”, enaltece Rodrigues.
O dirigente comunista ratifica que a pauta do encontro será nacional, focada nos 10 anos dos governos Lula/Dilma e a atualização da perspectiva do Brasil a partir daí. “Consideramos que este foi um período de conquistas democráticas, patrióticas e populares, mas a realidade concreta nos aponta ainda insuficiências e problemas a serem superados”.
Abel destaca as fases de construção do Congresso. “Dividimos o processo em dois momentos: o primeiro é preparatório e vai deste mês de março até junho. Nesta fase queremos sacudir e revigorar o Partido, especialmente os comitês municipais”, informa. Já na segunda fase, que acontece de junho a novembro, serão realizadas a convocação oficial do Congresso, as conferências municipais e assembleias de base. “Temos como desafio alcançar um novo ritmo de funcionamento e fomentar a cultura de vida coletiva do Partido”, pontua.
Para a realização das conferências municipais, Abel Rodrigues explica que as cidades cearenses foram divididas em três grandes grupos. O primeiro é formado por Fortaleza, sete cidades com mais de 100 mil habitantes e municípios administrados por comunistas. O grupo dois é composto por cidades que têm entre 50 mil e 100 mil habitantes, municípios com vice-prefeitos e/ou vereadores. Já o terceiro grupo soma cidades com menos de 50 mil habitantes. “No total deveremos reunir representantes de mais de 140 municípios do Ceará”, projeta.
Metas ousadas e exequíveis
Rodrigues enumera algumas metas “ousadas, mas exequíveis” a serem atingidas neste período de construção do 13º Congresso: realizar, pelo menos, 140 conferências municipais; mobilizar 8.500 filiados; reativar bases que se reuniram no processo do 12º Congresso, em 2009; realizar campanha de filiação buscando atingir 30 mil filiados no Ceará; assegurar formação básica do Curso do Programa Socialista em 100 municípios. “Garantir o êxito do 13º Congresso é nossa missão. Com a compreensão do coletivo, o compromisso e o envolvimento de todos os dirigentes do Partido, não tenho dúvidas de que este será um importante momento de crescimento não só do PCdoB no Ceará, mas de um novo olhar para o país”, defendeu.
De Fortaleza,
Carolina Campos