Brasil e China: caminhos para superar a crise
Uma das características do planejamento chinês no que diz respeito à definição das metas de crescimento da economia é que elas são atingidas e quase sempre superadas. Isso ocorre pelo alto nível de investimento público em obras de infraestrutura, o que faz como que a economia tenha um crescimento estável e de fato previsível pelo governo, sofrendo menos as consequências negativas do setor externo.
Murilo Ferreira da Silva*
Publicado 20/03/2013 14:46
De modo diferente o crescimento chinês vem se dando juntamente com aumento da concentração de renda, explicado, em parte, pela criação de novos postos de trabalho com elevada remuneração. São os profissionais qualificados requeridos pelo setor industrial em expansão, além das obras de infraestrutura patrocinada em larga escala pelo governo.
Com a implementação do PAC no Brasil a partir de Lula elevaram-se os investimentos públicos em diversas áreas, dando uma nova dinâmica à economia nacional. Com a economia crescendo em um ritmo mais acelerado o país passou a enfrentar o problema da escassez de mão de obra qualificada. Tanto o setor público como o privado sofreram limitações em função desse problema.
Mas, após 2008, a crise global fez retroceder os investimentos. Tais restrições externas acabaram por ter um efeito diverso entre o setor público e o privado, sendo que o primeiro se viu na contingência de ser o indutor da retomada da economia, adotando uma série de medidas anticíclicas e o segundo fortemente constrangido pela falta de confiança proporcionada por um ambiente externo adverso.
As políticas sociais e de valorização do salário mínimo, juntamente com as desonerações fiscais – a exemplo das editadas recentemente e que incidem sobre os produtos da cesta básica – vem elevando a capacidade de consumo da população, ao mesmo tempo em que se conseguiu manter sob controle a inflação. Contudo, de todas as metas do governo a taxa de crescimento do PIB tem ficado abaixo das estimativas oficiais.
Na China, as últimas intenções do governo tem sido aquelas que os aproximam das adotadas pelo Brasil e que giram em torno de se perseguir o crescimento da economia com distribuição de renda e elevação do poder de consumo das famílias. Isso através da elevação dos gastos sociais que se pretende reverter uma relação na qual o Investimento e as Exportações possuem um peso desproporcional em relação ao consumo interno na formação do PIB, diminuindo também a dependência externa chinesa e passando a valorizar o grande potencial do seu mercado interno para o desenvolvimento.
O problema para nós é que temos um dos tripés fundamentais da economia, o setor privado, assustado com a crise internacional e bastante moderado nas ações, contribuindo para manutenção do baixo padrão de investimentos. Ao contrário da China, onde o setor público é tão poderoso que seus movimentos acabam “puxando” o conjunto da economia para o alcance das metas e dos objetivos definidos.
Se o que nos afeta em maior grau são as condicionantes da crise externa, pode-se trabalhar em duas direções: a primeira seria reverter o quadro pessimista com pesados investimento públicos, que por sua vez teria o poder de atrair o empresariado para um novo ciclo de prosperidade, que seria alcançado elevando-se a um patamar superior a taxa de investimento nacional. Está claro que somente seria possível à custa da redução do superávit primário no próximo período.
A segunda direção poderia ser amenizar o problema ainda persistente de uma taxa de juros considerada alta para os padrões dos países desenvolvidos. Este ainda constitui um fator de grande importância que trava os investimentos e faz a economia crescer pouco. Isso tudo, associado a um câmbio sobrevalorizado, desestimula a Indústria nacional e a faz perder competitividade externa, além de fazer com que as importações sejam ainda mais estimuladas para atender o consumo interno aquecido.
No campo das relações internacionais o Brasil vem fazendo grandes esforços para superar os desafios impostos pela crise mundial. A escolha de parceiros preferenciais – é claro, os nossos vizinhos – tem nos dado uma vantagem competitiva diante de grandes blocos de interesses, como o Europeu, o Norte Americano e o Asiático. Em tempos de crise acirram-se as contradições entre as nações e nós, sul-americanos, estamos nos fortalecendo e nos protegendo por conta de nossa Integração.
*Murilo Ferreira da Silva é Professor de Economia e Administração Rural da UEMG-Campus Passos e membro do Comitê Estadual do PCdoB em Minas