Divanilton Pereira: Reafirmando um projeto nacional na Petrobras
Em junho do ano passado, ao analisar o plano de negócios revisado pela então nova presidenta da Petrobras Graça Foster, registrei em artigo nossas preocupações quanto aos novos métodos e caminhos a serem implementados no sistema Petrobras.
Por Divanilton Pereira, CTB*
Publicado 18/03/2013 10:25
Já naquele período, na política mais geral, Graça Foster – sem querer fazer maiores especulações – cometeu um desastre tático. Todas as vezes que se coloca no centro das decisões e elaborações apenas o foco pela gestão técnica em detrimento da política, a resultante não poderia ser diferente: ela colocou a Petrobras na mira e conseguiu armar até a então sem discurso oposição direitista do Brasil.
Não à toa, o PSDB realizou um seminário em Brasília dia 12 último para debater e elaborar projetos para “salvar” a Petrobras. Aécio Neves proclamou ao término: “precisamos reestatizar” essa empresa. Sem comentários.
Lembro que o primeiro programa eleitoral que foi ao ar do então candidato Lula em 2002 foi gravado em frente à sede central da Petrobras no Rio de Janeiro. De lá defendeu que a empresa fosse fortalecida e impulsionada para alavancar as inúmeras cadeias produtivas que a petrolífera gera. Defendia ele, por exemplo, a construção das plataformas no Brasil.
Foi dado ali o rumo estratégico dessa nova empresa: Ela deve ser um instrumental da soberania nacional e um meio para a consecução do novo projeto do desenvolvimento brasileiro. Posteriormente o povo elegeu esse programa.
“Eficácia” para quem e para onde?
Atualmente, sob a aparência da eficiência, se revisam algumas dessas perspectivas desse mesmo programa. A gestão Graça Foster, ao afirmar que os primeiros anos seriam para “arrumar a casa”, gerou sobre alguns a falsa ideia de que a empresa estaria sobre escombros e que se faria necessária uma varredura em busca da eficiência, da meritocracia e do tecnicismo. São valores que estão sendo tomados isoladamente e induzem na organização a instabilidade e cenários incertos e duvidosos. Um prato cheio para os especuladores financeiros e para disputa política nacional.
O que apenas especulei no ano passado, revela-se hoje. Através do discurso do caixa “vazio”, fortaleceu, via revisão do último plano de negócios, uma política exportadora de óleo cru, reposicionando para revisões os projetos que são capazes de gerar o necessário valor agregado à economia nacional. Sob tais velhas premissas “reexaminam-se” e com isso retardam-se importantes projetos na área do refino como os no Nordeste e o do COMPERJ. Além disso, recentemente, transferiu para a Ásia a contratação de importantes aquisições em detrimento do “ineficiente” parque brasileiro.
Uma diretriz política deve retomar o comando
Face a esses fatos e tendências que se apresentam, orientando-se pela unidade e luta, precisamos interferir nesse processo para que a Petrobras não se restrinja a produzir lucros fabulosos aos acionistas privados – apesar de um direito – mas que a nova gestão também intensifique-a como indutora da economia nacional e fortaleça os seus projetos que visam diminuir as desigualdades regionais do país.
Não interessa o país ser um exportador de óleo cru. Essa diretriz foi derrotada nas urnas e até pela nova regulação do setor aprovada no Congresso Nacional.
O trabalho também sob novo “ajuste”
No tocante aos direitos da força de trabalho, estes estão expostos como causa do “crescente e elevado custeio” em várias passagens no revisado planejamento. Dessa errônea conclusão surge o PROCOP – Programa de Otimização de Custos Operacionais – um programa contencioso e focado numa revisão agressora ao ambiente laboral que visa “economizar” potencialmente R$ 32 bilhões até 2016.
Integrada a essa diretriz, executam o PROEF – Programa de Eficiência Operacional – que prevê uma mobilidade profissional interna que institucionaliza a desmobilização dos ativos dos campos maduros, sobretudo na região Nordeste, já anteriormente afetada pela queda nos seus investimentos.
Além disso, de uma forma preconceituosa e sorrateira, afastam gestores que tiveram origem no movimento sindical, jogando sob estes a pecha da desqualificação. Esse é o mesmo discurso que Lula enfrentou, e agora reaparece contra o novo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Uma estratégia a serviço do conservadorismo reacionário.
Uma pauta estratégica para as trabalhadoras e os trabalhadores
Essa circunstância política que passa a Petrobras, de uma forma geral, não está suficientemente clara para a nação, como também, até entre as trabalhadoras e os trabalhadores petroleiros.
Entre nós, são raras as agendas sindicais que contêm essa pauta. Estamos meio que imersos numa agenda específica e pela dignidade remuneratória. É imprescindível, mas limitar-se a ela, continuará nos aprisionando nesse economicismo exclusivo, desgastando o sindicalismo e as frações de nossa classe.
Enquanto isso, outros disputam e até prevalecem dando rumos inapropriados aos objetivos estratégicos para a Petrobras.
Por um passo adiante.
Mãos à obra.
(título original "Reafirmando um projeto político desenvolvimentista e nacional na Petrobras" alterado por redação Vermelho)
*É técnico de petróleo, membro do Comitê Central do PCdoB, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP).