Presidente da Contag destaca orgulho por unidade interna
Para o presidente reeleito da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Alberto Broch, a unidade interna da entidade merece grande destaque. Ao final do 11º Congresso, realizado entre os dias 4 e 8 de março, ele realizou um balanço de seu mandato e apontou algumas perspectivas para o período da nova gestão (2013-2017).
Publicado 16/03/2013 10:28
Portal CTB: Qual o balanço que você faz desse seu primeiro mandato como presidente da Contag?
Alberto Broch: Avalio como bastante positivo esse nosso mandato, principalmente pela conjuntura em que assumimos – e aqui me refiro à conjuntura política interna do movimento sindical. Assumimos um mandato num Congresso – o décimo – no qual a Contag se desfiliou da CUT. Isso criou um impacto muito grande, havia um sentimento muito grande para aqueles que historicamente lutaram para manter a Contag filiada à CUT.
Por outro lado, criou-se uma expectativa muito grande para aqueles que sempre eram contrários. Assumimos num contexto não apenas dessa desfiliação, mas também da criação de outra grande central sindical, que é a CTB. Como lidar com essas coisas dentro da Contag? Assumimos também num contexto em que a Contag, com seus 46 anos de história, nunca havia tido um presidente fora do eixo do Nordeste – essa definição já era quase uma questão cultural. Então também tínhamos que lidar com essas coisas.
Também assumimos num contexto de transição entre o governo Lula e o da presidenta Dilma. Apesar de ser uma continuidade, são estilos diferentes de governo. Assumimos também num contexto de efervescência de organizações que se criam no campo, uma questão muito complexa – e sem perder a perspectiva de unidade da classe trabalhadora, da Contag, para que ela seja forte.
Creio que nesse contexto político conseguimos dar conta e ter a capacidade de fazer uma chapa unitária para o 11º Congresso da Contag, após o lançamento de duas candidaturas polarizando em todo o Brasil. Então avalio, por esses aspectos, que tivemos uma capacidade política muito grande.
Do ponto de vista das realizações e dos diálogos internos, realizamos nesse período a maior marcha da América Latina, com quase cem mil mulheres [Marcha das Margaridas]. Realizamos todos os anos o Grito da Terra. Fizemos a primeira grande realização dos 50 anos de história da Contag, que foi a Assembleia dos Assalariados Rurais. Pautamos o governo sobre uma política nacional, melhoramos as políticas públicas através da negociação para o campo brasileiro, para a agricultura familiar. Conquistamos também a diminuição enorme das taxas de juros no campo.
Mas também tivemos problemas. Por exemplo, não conseguimos avançar na reforma agrária. Há uma insatisfação enorme da nossa base. Há problemas enormes nos assentamentos, no que diz respeito à chegada de algumas políticas, de qualificação. Mas creio que isso é uma estratégia de luta nossa, e não vamos parar de lutar.
Avalio, portanto, como bastante positivo, com muitas frentes de luta, muitos encaminhamentos políticos e com algumas questões internas do movimento sindical com uma clareza muito grande do que nós queremos e aonde vamos chegar.
Você falou sobre essa insatisfação no campo em relação à reforma agrária. No segundo dia do 11º Congresso da Contag, a presidenta Dilma veio até aqui e prometeu investir mais nessa política daqui por diante. Como você viu essa declaração?
Em primeiro lugar, o fato de a presidenta Dilma ter vindo ao Congresso da Contag (fora do ato de abertura, uma decisão pessoal dela) significou um gesto de valorização do movimento sindical rural. A presidenta da República veio ao Congresso, falou por 1h20, algo que não é costumeiro, fazendo quase um balanço de governo (falou de economia, política, questões sociais) e, de alguma forma, se comprometeu com a pauta da reforma agrária. Isso me parece algo bastante positivo. Digo isso porque nas outras manifestações ela sempre foi muito crítica à reforma agrária. Havia uma expectativa entre nós de que no governo dela esse tema fosse encerrado. E o fato dela ter deixado janelas abertas e ter se comprometido com a pauta foi uma reversão de uma tendência que víamos no governo dela.
Não me iludo de que ela fará uma revolução na reforma agrária. Mas o fato dela ter se comprometido permitirá que nós, agora no Grito da Terra, possamos intensificar essa proposta. Creio, portanto, que poderemos retomar essa pauta em dois sentidos: melhorar os assentamentos e intensificar a desapropriação de terras. Isso nos coloca também um desafio interno, no sentido de pautar o governo com propostas, pois não dá mais para fazer a reforma agrária de décadas atrás – o mundo mudou, o capitalismo se desenvolveu e a relação no campo é diferente. Acho que agora teremos a garantia de que essa pauta não vai morrer, como pensávamos em alguns momentos.
O 11º Congresso da Contag votou pela paridade entre homens e mulheres nos cargos de direção da entidade. Você tem alguma satisfação pessoal em ter obtido esse avanço durante seu mandato como presidente?
Sem dúvida. Trata-se de algo histórico. Na data em que a Contag completa 50 anos, o 11º Congresso será lembrado como aquele em que foi aprovada a paridade entre homens e mulheres nos cargos de direção da entidade. Foi uma grande luta e atribuo isso à liderança de nossas mulheres. Faço aqui um reconhecimento público do intenso trabalho que elas fizeram em torno de um ano de preparação para este Congresso.
Mas o importante é que conseguimos aprovar uma tese tão forte como esta sem traumas, apoiada por homens e mulheres. Tive a grata satisfação de fazer uma defesa dessa proposta no Congresso, como reconhecimento dessa causa. E agora temos novos desafios, pois tenho certeza de que as mulheres não querem a paridade simplesmente para ter metade dos cargos, mas por quererem mulheres e homens preparados para assumir as próximas direções. Isso exigirá um debate permanente para que a gente possa escolher os melhores homens e mulheres, tanto na Contag quanto nas nossas federações.
A unidade interna da Contag é a grande vitória deste Congresso?
Esse é um detalhe que para mim é muito significativo. Apesar de todos os problemas que a Contag tem por conta de sua heterogeneidade política e sua diversidade regional e cultural, que carrega traços fortes no campo, entre os ribeirinhos, no pampa gaúcho, no semiárido, no Pantanal, no Cerrado, tivemos a capacidade política de manter a Contag inteira. Todas as regiões estão dentro da Contag. Destaco também nossa persistência em nos mantermos em um caminho de democracia interna, durante todo um ano de preparação para o Congresso, que contou com quase quatro mil assembleias, nas quais foram eleitos mais de 16 mil dirigentes, entre homens e mulheres, jovens e da terceira idade, que participaram em 96 plenárias estaduais e regionais. A unidade da Contag neste Congresso foi muito marcante diante desse cenário. É um orgulho para todos nós.
Por Fernando Damasceno, do Portal CTB