Polícia Civil é acusada de ação violenta em acampamento no Pará
Famílias que ocupam há cinco anos parte da fazenda Castanhais, no Pará, foram agredidas durante uma ação da Polícia Civil. De acordo com relatos dos trabalhadores rurais, as agressões ocorreram tanto por policiais quanto por seguranças de fazendas que acompanhavam a ação. As terras ocupadas fazem parte do complexo de fazendas do Grupo Agropecuária Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, que concentra 600 mil hectares de terras no Sul do Pará.
Publicado 27/02/2013 10:15
No dia 9 de fevereiro, um grupo de pessoas encapuzadas entrou na ocupação alegando cumprir mandado de busca e apreensão, sem mostrar cópia do documento. Segundo relatos dos moradores, cerca de 110 famílias, suas casas foram queimadas, os animais foram mortos, bens materiais foram apreendidos e 17 trabalhadores foram levados presos para a sede da Fazenda Santa Bárbara.
"De acordo com denúncias feitas por vários agricultores à FETAGRI[Federação dos Trabalhadores na Agricultura] e a CPT [Comissão Pastoral da Terra] de Marabá, na manhã do sábado, dia 9 de fevereiro, policiais civis de São Geraldo e da Deca[Delegacia de Conflitos Agrários] de Marabá, entraram na área acompanhados de seguranças da fazenda e algumas pessoas encapuzadas, que não puderam ser identificadas",diz um trecho de uma nota emitida pela Fetagri e CPT.
Ainda de acordo com testemunhas, enquanto os policiais prendiam os trabalhadores e apreendiam seus pertences, os homens encapuzados ateavam fogo nas casas, muitas delas, sem que as famílias pudessem retirar o que tinha dentro. Durante a ação policial, foram queimadas 16 casas. Após atearem fogo nas casas, tratores da fazenda passavam a destruir as plantações das famílias.
Pequenos animais como porcos, galinhas, bodes, patos foram mortos ou ficaram perdidos no meio do mato. Mulheres foram humilhadas, crianças e idosos foram abandonados no meio da fazenda, debaixo de chuva e sem nenhuma proteção ou alimentação.
Da sede Espírito Santo, os trabalhadores foram levados em um ônibus da fazenda até a beira da PA 150 onde foram embarcados em uma VAN, locada pelo gerente da fazenda. Em Marabá, todos foram interrogados na Deca e liberados no dia seguinte. Na segunda feira (11), o gerente da fazenda, conhecido por Caim, retornou para a área acompanhado dos seguranças e dos homes encapuzados.
Ameaçando e humilhando as famílias, continuou com a destruição das casas e das roças. De acordo com levantamento feito pelas famílias, 98 casas foram queimadas e mais de 45 alqueires de roça de arroz, milho, mandioca, banana, abóbora, etc foram destruídos. Grande parte das famílias mal conseguiram retirar alguns pertences de dento das casas.
A trabalhadora rural Leandra conta que reuniu 13 crianças, sendo uma delas deficiente, e levou para seu barraco. Segundo ela, chovia quando o gerente chegou em sua casa acompanhado dos seguranças e deu ordens para que todos saíssem. Sem ter para onde ir com as crianças, se negou a sair e implorou para que sua casa fosse poupada até o dia seguinte. O gerente então deu ordens para que o tratorista derrubasse a casa com todos dentro.
A casa só não foi derrubada porque um dos seguranças, conhecido como Frank, discutiu com o gerente e não permitiu a ação violenta. Durante o tempo que estiveram detidos na sede da Fazenda Espírito Santo, os trabalhadores presenciaram o gerente dando ordens para que os carros da polícia fosse abastecidos, bem como policiais gesticulando que receberiam dinheiro após a operação. No processo que tramita na Vara Agrária de Marabá não há ordem de despejo a ser cumprida contra as famílias.
As famílias estão abandonadas em um canto da fazenda sem apoio, sem alimentos e sofrendo ameaças permanentes dos jagunços da Santa Bárbara. A CPT e a Fetagri estão tomando providências para oficializar denúncia do fato ao Ministério Público, à Ouvidoria Agrária Nacional, à Corregedoria de Polícia e às Entidades de defesa dos direitos humanos.
Com Fetagri Regional Sudeste, Comissão Pastoral da Terra da diocese de Marabá na Página do MST