Aldo Rebelo: "O Carnaval morreu. Viva o carnaval!"
Já em 1957, a escritora Eneida de Morais, no livro História do Carnaval Carioca, desmontava a ideia de que a grande festa popular brasileira desfila decadência. A lamúria é tão antiga quanto o Zé Pereira. Ainda em 1890, o entrudo de que falava Machado de Assis era dado como sumido pelo cronista Augusto Fabrega, o Tesoura: “Carnaval, onde te escondes? (…)/ Outrora por esse tempo/ tilintavas de alegria”.
Por Aldo Rebelo*
Publicado 09/02/2013 10:43 | Editado 04/03/2020 17:16
No começo do século 20, quando os monarquistas mexericavam que a República havia embaçado o festejo, outro cronista matou a charada: “É moda, todos os anos, afirmar-se que o Carnaval está morrendo e que o país caminha para um abismo”. Isso em 1906.
Cronista arguta do cotidiano, Eneida observou a relação entre Carnaval e conjuntura: “…na realidade o que com ele sempre aconteceu são fluxos e refluxos determinados por diversas ocorrências políticas ou econômicas”. Ou seja, mesmo sendo o espaço da crítica e superação, do desabafo e alegria, o Carnaval é sempre um palco da liberdade e comemoração – e esta será tão exuberante quanto a sensação nacional de que há o que comemorar. O momento dadivoso que o Brasil atravessa anima os foliões.
A temporada de 2013 parece ser uma das de maior participação popular na história. Além dos bailes e dos desfiles soberbos das escolas (“o maior espetáculo da Terra”), o Carnaval de rua cresce nas praças tradicionais, como Rio, Salvador e Olinda e Recife, e novos blocos fervilham até em São Paulo, que o poeta Vinicius de Morais chamou impropriamente de “túmulo do samba”.
Onde há decadência de uma festa em que apenas um cordão, o Bola Preta, reúne dois milhões de pessoas, o dobro da população da cidade no ano de 1918 em que foi fundado? A multidão que samba ou vê ou aplaude abafa o lamento dora do ritmo dos que acham que o país caminha para o abismo.
*Aldo Rebelo é Ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB
Fonte: Diário de S. Paulo