Nomeado à diretoria da CIA é interrogado sobre uso de drones
Confrontado pelo protesto público e voraz interrogatório do Congresso, o nomeado para diretor da CIA John Brennan defendeu nesta quinta-feira (07) a administração Obama e seu uso secreto mas expansivo de drones para matar “alvos terroristas”, uma política em que ele, como conselheiro sênior de Obama pelos últimos quatro anos, tem sido um arquiteto principal.
Publicado 08/02/2013 11:32
Mal tinha Brennan embarcado em seu discurso inaugural no Comitê de Inteligência do Senado e protestantes gritaram contra ele, acusando-o de ser o responsável pelas mortes de civis inocentes. Muitos levantaram placas que declaravam: “Brennan, um risco à Segurança Nacional.”
Depois de expulsos os manifestantes e reiniciada a sessão, os próprios senadores aderiram ao ataque, reclamando por serem mantidos constantemente no escuro pela CIA (agência de inteligência dos EUA), e exigindo acesso total aos documentos que dão base legal ao poder descontrolado do presidente para encomendar assassinatos, especialmente de cidadãos norte-americanos.
Mas Brennan respondeu “nós só tomamos tal medida como último recurso, para salvar vidas” ao democrata Ron Wyden, um dos maiores críticos da CIA. “Os protestantes não entendem o que fazemos como governo, a agonia pela qual passamos para garantir que não haja mortes e baixas colaterais”.
O interrogatório deu-se num momento em que o programa de aeronaves não tripuladas, os drones, gerenciados pela CIA e pelo Pentágono, nunca pareceu mais controverso, principalmente por incluir agora estadunidenses entre os possíveis alvos. Mais amplamente, também a proliferação de mortes de civis inocentes em países com que Washington não está formalmente em guerra tem provocado consternação. Isso, dizem os críticos, só intensifica o ressentimento contra os EUA e “cria mais terroristas”.
Oficialmente, ataques com drones são raramente reconhecidos pela Casa Branca. Mas, de acordo com um relatório do Conselho de Relações Exteriores, mais de 400 ataques foram realizados contra supostos alvos da Al-Qaeda no Paquistão, no Iêmen e na Somália, matando cerca de 3.000 pessoas, sem evidências concretas do envolvimento delas com atividades terroristas.
Recentemente, também a divulgação de um memorando da Casa Branca intensificou as críticas contra o programa dos drones. O documento, secreto, buscava justificar legalmente a morte de Anwar al-Awlaki em 2011, um cidadão estadunidense que mudou-se para o Iêmen e tornou-se propagandista e recrutador para Al-Qaeda, segundo o documento, “defendendo uma jihad contra os EUA”. O memorando dá ao presidente virtualmente carta branca para matar inclusive cidadãos dos EUA suspeitos de operarem dentro da Al-Qaeda.
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Mas oponentes defendem que a prerrogativa viola a Constituição dos EUA. A audiência no Senado foi, por tanto, uma rara oportunidade pública para conhecer o pensamento do homem que chefiará a agência que é tanto a mais importante dos EUA para recolhimento de inteligência no estrangeiro e também a operadora de uma força paramilitar clandestina. Mas as tensões inerentes entre segredos de governo e o direito público a informação foram rapidamente evidenciados. “Nós precisamos otimizar a transparência e otimizar a manutenção dos segredos para preservar a segurança nacional”, disse Brennan.
Ainda assim, há poucas dúvidas sobre a confirmação de Brennan para a chefia da CIA. Muitos senadores republicanos podem se opor à escolha de seu antigo colega Chuck Hagel para o cargo de secretário de Defesa, mas a vasta maioria nunca teve receio quanto ao uso de drones para o “combate ao terrorismo”. Nunca concordarão com o argumento de Brennan, posto em respostas preliminares escritas para o Congresso, de que nenhuma legislação é necessária para conduzir as operações contra Al-Qaeda.
O perigo, se é que há um, é representado pelos Democratas liberais, liderados por Wyden, que havia sugerido que tentaria bloquear a nominação de Brennan sem uma explicação completa para a justificação dos ataques com drones. Em resposta, a Casa Branca reverteu o curso e deu ao Comitê o documento original do Departamento de Justiça, de 2010, que elaborava uma base legal para o assassinato de “alvos” como Awlaki.
Quaisquer que sejam as reclamações sobre o histórico dele, a escolha de Brennan, 57, foi bem recebida na própria CIA, onde ele passou 25 anos e é visto como “parte da família”. O tempo de serviço incluiu períodos de chefe de posto em Riad, Arábia Saudita, e como oficial com o antigo diretor George Tenet. Brennan alega que, embora tenha sido da CIA quando a administração de George W. Bush aprovou as “técnicas avançadas de interrogatório” (ou seja, tortura), como o afogamento simulado, ele não estava envolvido.
Fonte: The Independent
Tradução da Redação do Vermelho