Israel recua e libera parte dos fundos da Autoridade Palestina

Israel decidiu enfim repassar os impostos coletados em nome da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia no mês passado para a administração local, informou um oficial nesta quarta-feira (30). A transferência dos fundos havia sido bloqueada pelo governo israelense como resposta ao reconhecimento da Palestina como estado observador das Nações Unidas no início de dezembro.

Segundo os Acordos de Oslo, Israel tem a obrigação de recolher as taxas dos residentes da Cisjordânia para as autoridades palestinas e, depois, deve transferir os fundos ao órgão. A receita mensal gera em torno dos US$100 milhões e grande parte do dinheiro é utilizada pelo governo palestino para pagar os salários de funcionários públicos.

Nour Odeh, porta-voz da Autoridade Palestina, disse que oficiais palestinos e israelenses devem se encontrar nesta quarta-feira (30) em uma reunião técnica para calcular a receita recolhida no mês de dezembro. Os palestinos estimam que o montante pode chegar a US$120 milhões.

O bloqueio no repasse de verbas, que deveria ser aplicado apenas a dezembro, foi prorrogado em quatro meses pelas autoridades israelenses na segunda semana do mês. “Os palestinos devem esquecer o assunto, porque eles não vão receber nenhum centavo furado nestes próximos meses”, declarou o então chanceler israelense, Avigdor Lieberman, durante cerimônia de comemoração do Hanukka (o natal da religião judaica).

A declaração desta quarta (30) não muda as decisões prévias do governo de Israel. O oficial deixou claro que a transferência dos impostos de dezembro é uma exceção e “não uma indicação do que Israel fará no próximo mês”.

Não é a primeira vez que as autoridades israelenses decidem reter milhões de dólares em impostos coletados no território palestino ocupado. Em novembro do ano passado, os palestinos sofreram com a punição quando a ANP propôs o reconhecimento do Estado na ONU. Em junho de 2008, a mesma medida foi tomada depois do apelo do premiê Salam Fayyad às autoridades europeias não negociarem mais com Israel.

Agora, no entanto, as autoridades israelenses utilizaram o dinheiro bloqueado para pagar a dívida da administração palestina com as empresas estatais de energia e água, que atingiria os US$423 milhões.

A medida desestabilizou a administração da Autoridade Nacional Palestina, que exerce poder limitado na Cisjordânia (território palestino ocupado por Israel). O governo, que já passava por uma profunda crise financeira, não conseguiu pagar seus 150 mil funcionários no mês de novembro. A tendência é que a situação apenas se normalize quando Israel decidir devolver a renda mensal para as autoridades palestinas.

Além do bloqueio no repasse dos fundos, a Autoridade Palestina sofreu com a redução das doações de governos e instituições árabes.

A decisão de Israel de transferir os impostos recolhidos no mês de dezembro vem depois de um encontro de Netanyahu com Tony Blair, enviado por Estados Unidos, União Europeia, Nações Unidas e Rússia para a região. Segundo agências internacionais, Blair pressionou o governo israelense a amenizar o bloqueio contra os palestinos durante a reunião desta segunda (28).

Novos assentamentos

Ainda como retaliação à votação na ONU, o governo israelense decidiu dar continuidade à construção de novos assentamentos na zona E1 em Jerusalém Oriental e de 3 mil casas nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia. Caso o plano seja colocado em prática, as novas colônias devem interromper a continuidade territorial entre o norte e o sul da Cisjordânia, impossibilitando, assim, a criação do Estado palestino.

Com Opera Mundi