Argentina e Irã criam “comissão da verdade” para atentado de 1994
Argentina e Irã chegaram a um acordo para a investigação sobre um ataque a bomba em um centro judeu que matou 85 pessoas em Buenos Aires há 19 anos. O acordo prevê o estabelecimento de uma “comissão da verdade” liderada por juristas “com altos padrões morais e prestígio legal” para investigar o pior ataque na Argentina.
Publicado 29/01/2013 11:52
Os membros da comissão examinarão evidências e recomendarão como proceder “baseados nas leis e regulamentações de ambos os países.” Depois, os membros e os investigadores argentinos viajarão para Teerã para questionar os suspeitos.
Cristina Fernandez de Kirchner, presidenta da Argentina, descreveu como "histórico" o acordo assinado no domingo (27), na África, pelos ministros das Relações Exteriores Hector Timerman e Ali Akbar Salehi. Em 18 de julho de 1994, uma van lotada de fertilizante e gasolina explodiu, destruindo o prédio da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). O caso nunca foi resolvido, assim como outro ataque ocorrido dois anos antes, contra a embaixada israelense em Buenos Aires, que matou 29 pessoas.
Promotores argentinos acusaram formalmente seis iranianos de coordenarem os ataque contra a AMIA sob ordens do seu governo. Entre os acusados está o atual ministro da Defesa iraniano, Ahmad Vahidi. Investigadores passaram vários anos tentando interrogar os suspeitos com a ajuda da Interpol, mas o governo iraniano tinha se recusado, até agora, a torná-los disponíveis para questionamento.
“Falhas e escândalo”
Cristina disse numa série de posts no Twitter que os inquéritos argentinos anteriores resultaram apenas em “falhas e escândalo, com um julgamento que acabou sendo um embuste”, quando altos oficiais foram acusados de acobertarem evidências e de deliberadamente atrapalhar os investigadores.
Em contraste, o processo, que precisa de aprovação legislative dos dois países, oferece um quadro legal com direito ao devido processo legal para os acusados, o que poderia servir de modelo para a resolução do conflito, disse a presidenta argentina. O processo coloca a disputa definitivamente nas mãos de especialistas legais, inspecionado por árbitros independentes.
Em um tweet, a presidente disse que o acordo é importante porque a tragédia na AMIA “não pode mais ser usada como uma peça de xadrez num jogo de interesses geopolíticos longíquo.” Grupos judeus, por outro lado, deixaram claro o seu desconforto pela decisão argentina de tentar melhorar suas relações com o Irã, apesar de o caso do ataque à AMIA ainda estar pendente.
“É um passo atrás monumental”, disse Luis Czyzewski, que perdeu sua filha Paola no evento, segundo a Agência Judia Argentina de Notícias no domingo (27). “Eu acho que todas as famílias vão rejeitar o acordo e ficar tão revoltados quanto eu”, completou Czyzewski. Uma descrição do acordo feita pela agência iraniana FARS afirmou que depois de anos, as investigações argentinas “falharam em avançar com o caso ou provar qualquer coisa contra o Irã, o que indica que o Irã é inocente.”
O presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad havia ditto em outubro que uma vez que as investigações tomassem lugar “de forma acurada e imparcial, então o cenário para a intensificação dos laços entre Irã e Argentina estaria preparado”, segundo o relatório da FARS.
Fonte: Al-Jazeera
Tradução: da Redação do Vermelho,
Moara Crivelente.