Bibliotecas se reinventam para enfrentar era digital
Reduções nas verbas, perda de protagonismo do livro para mídias digitais e, em muitos casos, declínio no número de visitantes. O cenário atual é preocupante para bibliotecas públicas de todo o mundo, mas muitas estão aproveitando o momento para se revitalizar, embarcar em novos formatos e em novas tendências urbanísticas. O objetivo é atrair antigos e novos visitantes e, em muitos casos, virar um centro de referência sociocultural, em vez de apenas um local de leitura.
Publicado 25/01/2013 13:49
O maior exemplo vem da Dinamarca, onde a futura biblioteca de Aarhus será parte de um grande complexo urbano, inserido nos planos de revitalização da baía da cidade. O complexo, a ser concluído em 2015, vai incluir repartições públicas, espaços para shows, cursos e reuniões, áreas para serem alugadas à iniciativa privada e um café com vista para a baía. Móveis modulados permitirão que as salas da biblioteca sejam usadas para diferentes propósitos ao longo dos anos, de acordo com a demanda dos usuários.
"É muito mais do que uma coleção de livros", diz à BBC Brasil Marie Ostergard, gerente do projeto. "É um local de experiências e serviços. Notamos que precisávamos dar mais espaço para as pessoas fazerem suas próprias atividades ou para se encontrar."
Outros exemplos
Mas há exemplos semelhantes em todo o mundo, da Ásia e Oceania à América Latina, inclusive no Brasil. Aqui, novas tendências inspiraram a construção de bibliotecas como a de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, para atender um complexo de 16 favelas com um acervo de 27 mil títulos, além de salas para cursos gratuitos, para reuniões comunitárias e para projetos multimídia. Um café e um cineteatro devem ser inaugurados neste semestre.
A iniciativa, repetida em outras áreas do Rio, é parte do projeto biblioteca-parque, copiado de Medellín, na Colômbia.
Na cidade colombiana, áreas carentes receberam grandes bibliotecas que servem para conectar outros espaços públicos e oferecer também cinema, cursos, shows de música. De volta ao Brasil, exemplo semelhante é visto também na Biblioteca de São Paulo, erguida junto ao Parque da Juventude, na área do antigo presídio do Carandiru, na zona norte da cidade.
"É uma retomada da função da biblioteca, antes vista como um lugar muito elitizado ou como um mero depósito sucateado de livros", opina à BBC Brasil Adriana Ferrari, coordenadora da unidade de bibliotecas da Secretaria da Cultura paulista.
Aumentar o apelo
Mudar a forma de se relacionar com o público significa também mudar o acervo, incorporando DVDs, games e, é claro, e-books e leitores digitais, como o Kindle. Para aumentar o apelo ao público, em especial o mais jovem, as bibliotecas também têm ampliado seu acervo de best-sellers, indo além dos livros clássicos – algo que pode incomodar os mais ortodoxos.
Para Ferrari, porém, oferecer best-sellers e uma agenda cultural intensa é essencial nas novas bibliotecas. "Tem que ter novidade todo dia e aproveitar as ondas", diz ela. Isso inclui promover os livros da série Crepúsculo, por exemplo, "sem fazer juízo de valor" sobre a qualidade da obra. "Aos poucos, a qualificação desse leitor vai acontecendo."
Na opinião de Antonio Miranda, professor da Universidade de Brasília (UnB) e consultor na criação de bibliotecas, o futuro reserva três tipos de modelos para as bibliotecas: a patrimonial, com acervo sobretudo histórico e clássico; a híbrida, que mescla o acervo antigo ao de novas mídias; e a sem livros – totalmente digitalizada e focada, por exemplo, no ensino à distância.
Da Redação em Brasília
Com informações do Portal Terra